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Relatos de uma ciclista iniciante em São Paulo

Há 2 meses, nossa editora Natasha Olsen adotou a bike elétrica para seus trajetos diários e conta como tem sido a experiência

ciclista iniciante
Foto: Arquivo Pessoal

Há cerca de 2 meses decidi dar uma nova chance à bicicleta e voltei a pedalar nas ruas de São Paulo. Já havia adotado a bike como meio de transporte quando morava na Vila Mariana, e tinha acesso à mais ciclovias, e quando vivi em Florianópolis, onde sentia que o trânsito e, principalmente motoristas, eram mais amigáveis com quem pedalava.

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Há muitos anos minha bicicleta está parada na garagem. O principal motivo é estar vivendo em um bairro com muitas ladeiras, em que as pedaladas se tornam bem mais difíceis para quem é uma ciclista amadora. Também sentia um pouco de insegurança por não ter uma rede de ciclovias próxima e precisar dividir as vias com veículos motorizados.

Publicando matérias sobre mobilidade urbana com frequência e muito consciente sobre os muitos benefícios que a bicicleta traz para a cidade e para quem pedala, decidi adotar mais uma vez este modal nos meus deslocamentos. A minha bike continua na garagem. Para vencer o desafio das ladeiras optei por uma bicicleta elétrica. O investimento inicial seria mais uma barreira, mas uma parceria com a E-moving, empresa que aluga e-bikes, garantiu esta experiência.

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Ao aderir a um plano de locação de bike elétrica, a bicicleta é entregue no seu endereço. Foto: Arquivo Pessoal

Desde que voltei a pedalar, optei por trajetos curtos, em caminhos conhecidos. Infelizmente, nenhum deles tem ciclovias o que me gera preocupação porque não sou uma ciclista experiente e sei que a disputa entre bicicletas e veículos motorizadas é injusta e pode ser perigosa.

Como item obrigatório, o capacete faz parte de todas as minhas viagens. A bicicleta também vem equipada com faróis dianteiros e traseiros que mantenho sempre acesos quando começa a luz do dia começa a diminuir. A compra de uma roupa refletora é o próximo item de segurança, para possíveis deslocamentos noturnos.

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ciclista iniciante
O capacete, roupas claras com cores chamativas e os faróis da bicicleta são itens de segurança. Foto: Arquivo Pessoal

Pedalando e aprendendo

O primeiro aprendizado foi descobrir que mesmo com as bicicletas elétricas, pedalar movimenta o corpo e traz os benefícios de uma atividade física regular. Ao contrário do que muita gente pensa, ao pedalar todo dia, mesmo em trajetos curtos, a disposição aumenta.

“Contrariando o que muitos acreditam, quem adere o costume de andar de e-bike, faz esforço para se locomover nela, e agora a ciência comprova que também traz diversos benefícios para a saúde como a redução da chance de ataque cardíaco, a redução dos risco de obesidade e outras síndromes metabólicas, a diminuição dos riscos de demência e Alzheimer, a contribuição para os níveis de colesterol e a redução de incidência de câncer”, comenta Gabriel Arcon, CEO da E-Moving.

O segundo aprendizado foi me adaptar à força da pedalada assistida. A bicicleta traz uma regulagem com três níveis de impulso: fraco, médio e forte. E a aceleração é intensa, principalmente no nível forte. Isso pode ser perigoso quando não estamos esperando uma movimentação rápida, mesmo com uma pedalada leve. Em uma via plana, a aceleração forte pode fugir do controle, mas nas ladeiras do meu bairro, esse recurso é fundamental. Foi surpreendente a e-bike subindo mesmo as ruas mais íngremes – sem dispensar as pedaladas.

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ladeira garagem
Ladeiras podem ser uma barreira para quem quer pedalar. Bicicletas elétricas ajudam a superar este desafio. Foto: Arquivo Pessoal

Por fim, tive a alegria de confirmar que a bicicleta é realmente um modal eficiente. O caminho até a academia e até o trabalho foi mais rápido pedalando, em comparação com o uso de transporte público e ao carro. Em relação ao ônibus e metrô, opções mais usadas por mim, o ganho de tempo foi de cerca de 5 minutos no trajeto em si mais alguns minutos que passava esperando no ponto ou na estação.

Em relação ao carro ou Uber, o ganho de tempo foi ainda maior, especialmente considerando horários e pico – superando 10 minutos nestes casos. Como ainda estou ganhando confiança, os trajetos pedalados são de no máximo 6kms, mas acredito que o ganho de tempo seja ainda maior em percursos mais longos.

cidades bicicleta
Foto: Pixabay

Passar menos tempo nos deslocamentos é uma vantagem importante. Mas não é a única. Ao pedalar inclui mais uma atividade física na minha rotina e me sinto feliz em contribuir para um ar menos poluído e uma mobilidade mais sustentável, com esta minha escolha individual.

Desafios constantes

As vias que eu percorro não têm ciclovias, assim ando sempre próxima à calçada, no sentido do trânsito. Porém, este pedaço das ruas e avenidas é bastante irregular, com buracos e sujeira. O acúmulo de folhas secas, pedras e outros resíduos pode ser perigoso, já que o pneu da bicicleta pode deslizar. Com isso, mantenho a velocidade mais baixa.

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Buracos, sujeira e espaço limitado são desafios onde não existem ciclovias. Foto: Arquivo Pessoal

O comportamento dos motoristas é bastante desigual. Ao mesmo tempo que muitos se afastam e mantêm a distância segura da bike, outros não cumprem esta norma e se tornam uma ameaça. Neste ponto, tenho que ressaltar que no caso dos ônibus, um grande temor meu, a maioria dos motoristas se afastava. Um acessório que me fez falta foi um espelho retrovisor, para que pudesse ter uma visão 360° e me sentisse mais preparada para eventuais manobras ou aproximações de outros veículos.

Os casos em que me senti realmente insegura envolveram motoristas que por alguma coincidência dirigiam SUVs, que não se afastaram ou reduziram a velocidade ao se aproximar. O pior momento foi em um cruzamento sem semáforo em que vinha pela preferencial tive que frear bruscamente e perdi o equilíbrio. O motorista não parou, apesar de ter me visto – acredito que consegui parar porque ando com velocidade controlada.

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Mesmo onde existem ciclovias, a sujeira e as condições do pavimento são um problema. Esta fica na Rua Arthur de Azevedo, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo. Foto: Arquivo Pessoal

Esta experiência me reforçou ideia de que não existe “disputa” entre bikes e veículos motorizados – o que existe é um compartilhamento desigual do mesmo espaço e que para manter a integridade, ciclistas precisam estar à seguir em frente. Digo isso porque o risco para quem está pedalando é sempre maior e não vale a pena arriscar a vida neste embate.

O que vale a pena e é necessário para mudar este cenário é cobrar do poder público mais apoio para ciclistas. Com mais ciclovias, bicicletários e políticas públicas que incentivem este modal, mais pessoas vão poder pedalar em segurança. Mais bicicletas significam menos trânsito, menos poluição, uma população mais saudável e menos gastos com saúde pública. Um investimento e posicionamento que trará uma série de benefícios para a cidade e para a população.

Bike na calçada?

Em momentos de trânsito muito intenso, quando o espaço entre a fileira de carros e a calçada estava bem restrito, acabei optando por subir na calçada. Quando não havia movimento de pedestres, seguia pedalando. Quando muita gente ocupava a calçada, descia da bike e me transformava em pedestre, empurrando a bicicleta até me sentir segura para voltar à via. Pesquisando, descobri que o correto é sempre descer da bike quando se está na calçada.

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Foto: Vlad B | Unsplash

E, nesta situação, encarei como pedestre a falta de conhecimento ou empatia dos motoristas. Em locais com faixa de pedestres e sem semáforos, raros são os motoristas que param para a travessia. Vale ressaltar que em Florianópolis a cultura era outra e motoristas cedem a passagem para pedestres e ciclistas com muita frequência – um aspecto do trânsito que estimula a escolha pela bike.

Ciclovias e bicicletários, investimento com retorno garantido

O investimento em ciclovias e bicicletários pode vir também da iniciativa privada. No condomínio onde eu moro, o bicicletário é antigo, com as bikes penduradas na parede. Levantar diariamente a bicicleta seria um problema, já que o gancho é alto e a bike pesada. Contornei este problema conseguindo um espaço ocioso entre as vagas. Já no condomínio do lugar onde trabalho, um bicicletário no solo, dentro da garagem, já torna esta logística muito mais simples.

bicicleta elétrica e-moving
Foto: E-Moving

A bicicleta da E-moving facilita o estacionamento. Uma trava simples tem um suporte fixo no quadro, tornando o seu transporte prático. Ao estacionar, basta destravar com a chave e prender a roda no bicicletário – quando não encontrava bicicletário travada a roda e deixava a bike sempre à vista. A bateria também tem uma trava e só pode ser retirada da bike com a chave.

A presença de um lugar para deixar a bicicleta e de ciclovias é inclusive um diferencial para empreendimentos e justifica investir nestas estruturas, que têm um custo relativamente baixo para empresas e incorporadoras.

Um estudo recente realizado pela Tembici, empresa de tecnologia para micromobilidade, revelou que 59% dos usuários consideram um fator importante a existência de ciclovias próximas ao local de escolha de uma nova casa. Vale ressaltar que, de acordo com a empresa, o número de usuários de bicicletas compartilhadas dobrou na América Latina, um aumento de 123% em relação à 2018.

Tembici bikes economia de CO2
Foto: Tembici

Bike elétrica: alugar ou comprar?

Sem a possibilidade de usar uma e-bike neste modelo de contrato mensal, eu particularmente não teria voltado a pedalar por São Paulo. O custo inicial destas bicicletas é alto e a locação é uma alternativa mais viável. A bicicleta foi entregue na minha casa, recebi todas as orientações em relação aos ajustes, bateria e travas e o contato do suporte, caso tivesse algum problema.

O fato de a bicicleta alugada já ter seguro e de não haver custo no caso de manutenção ou reparos, me deixou mais confortável. “O custo de uma manutenção anual pode chegar a R$ 1 mil, enquanto o valor da assinatura anual de uma bicicleta elétrica da E-Moving começa em R$ 320, incluindo a cobertura para manutenção e reparos”, ressalta o CEO, Gabriel Arcon.

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Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Gabriel, “quando se trata de uma e-bike alugada, ter a tranquilidade de contar com seguro e assistência em situações de emergência, furto ou roubo, com a reposição rápida da bicicleta em até 5 dias, é uma conveniência que faz uma enorme diferença para aqueles que dependem da bicicleta em suas atividades diárias”.

Por fim, ao optar por alugar uma bicicleta, caso o ciclista precise de uma troca por qualquer motivo ou simplesmente queira fazer um upgrade, adquirir uma nova bike implicará em gastos consideráveis. “Investir novamente na compra da bicicleta será dispendioso, com valores variando entre R$ 3000 a R$ 5000, dependendo do modelo. Em contrapartida, no caso do aluguel, a diferença no valor mensal será mínima”, finaliza Arcon.

A E-moving foi fundada em 2015, é uma startup especializada em soluções de mobilidade urbana aliada à tecnologia – pioneira em oferecer serviço de assinatura mensal de bicicletas elétricas, como alternativa aos transportes tradicionais.  A missão da empresa é ser a melhor alternativa para deslocamentos urbanos de curta e média distância, levando sustentabilidade e qualidade de vida aos usuários das e-bikes, contribuindo para a solução dos congestionamentos e efetuando zero emissões de CO2 na atmosfera.

Dia da bicicleta
Campus da USP conta com estrutura cicloviária permanente. | Foto: USP Imagens | Marcos Santos

Benefícios para a saúde

Um estudo recente da Hannover Medical School, respeitada escola alemã, aponta que andar de bike elétrica pode diminuir em até 40% o risco de sofrer uma parada cardíaca, e reduzir pela metade o risco de obesidade e outras síndromes metabólicas. Outro levantamento, feito pela Universidade de Yale (EUA), acompanhou 1,2 milhão de pessoas com mais de 18 anos, entre 2011 e 2015, que utilizavam e-bikes. Um mês depois do início da pesquisa, os participantes que andaram de bicicleta elétrica passaram 43,2% dos dias com a saúde mental mais estável do que os que não praticaram nenhuma atividade física associada.

Dicas para pedalar por São Paulo

Me considero uma ciclista iniciante, ainda sou bastante insegura no trânsito. Já fui atleta, mas hoje tenho um preparo físico mediano. Por isso, a partir da minha experiência atual, acredito que a escolha da bicicleta para a mobilidade urbana pode ser experimentada por muitas pessoas – não está restrita à ciclistas experientes ou quem tem um condicionamento físico excepcional.

Dia Mundial da Bicicleta
Osiris pedala sua bike empinando Pipa em Caceres – MT | Projeto Transite – Felipe Baenninger

De qualquer maneira, é sempre importante tomar todos os cuidados, já que ciclistas estão sempre muito expostos em caso de algum acidente. Seguem algumas dicas preparadas pela Tembici (com alguns pontos que somei às recomendações).

Antes de sair

  • Confira as condições da bicicleta para garantir uma viagem sem surpresas;
  • Regule a altura do banco para pedalar com conforto (o ideal é na altura do quadril);
  • Planeje seu caminho.
  • Use sempre capacete e mantenha os faróis da bicicleta acesos. Roupas claras e reflexivas também são boas opções.

Pronto! Agora é partir para o destino escolhido.

Durante a pedalada

  • Pedale com as duas mãos e evite levar objetos pendurados no guidão;
  • Sinalize com os braços a mudança de direção;
  • Pressione sempre os dois freios juntos, isso evita derrapagens e perda de controle;
  • Mantenha distância segura da lateral dos veículos estacionados, os motoristas podem abrir as portas sem ver você;
  • Mantenha velocidade compatível com a via e com o trânsito local;
  • Não use celular e fones de ouvido. É lei e é importante estar atento ao trânsito;
  • Quando não houver estrutura cicloviária, circule pela rua, e pedale no mesmo sentido dos outros veículos;
  • Respeite o sinal vermelho e não pare sobre a faixa de pedestre.
  • Na calçada, é necessário descer da bike.
manual ciclista bicicleta bike
Imagem: Reprodução | Tembici

Segurança nas vias

À medida que bicicletas e carros dividem as ruas para se deslocarem nas cidades, é essencial garantir a segurança e o respeito mútuo entre os diferentes modais de transporte. Pensando no motorista de automóvel, veja quais são as dicas sobre como compartilhar as vias de forma segura com ciclistas:

  • Mantenha distância adequada de cerca de 1,5 metros ao se aproximar de ciclistas para evitar acidentes;
  • Respeite as ciclovias ao não invadi-las e mantenha-se na pista destinada aos veículos motorizados;
  • Reduza a velocidade ao se aproximar de ciclistas, isso proporciona mais tempo para reagir a situações inesperadas;
  • Verifique retrovisores e os pontos cegos antes de mudar de faixa para garantir que não haja ciclistas próximos;
  • Ao estacionar, verifique se não há ciclistas se aproximando antes de abrir a porta do veículo, pois uma abertura repentina pode causar acidentes graves;
  • Evite distrações como o uso de dispositivos eletrônicos enquanto dirige para prevenir acidentes com ciclistas e outros usuários da via.
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Ciclista na ciclovia da Avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Pixabay