Aumento de vendas de SUVs traz riscos para o clima e saúde

A maneira como nos deslocamos de um lado para o outro tem um impacto enorme na saúde do planeta e na nossa. O transporte individual em carros à combustão traz uma série de problemas para as cidades e seus habitantes, como congestionamento e tempo perdido no trânsito, poluição sonora e do ar, doenças e stress. Além disso, as emissões causadas por estes veículos contribuem as mudanças climáticas.

Infelizmente, ao invés de trocar os seus automóveis pelo transporte coletivo ou por outros modais mais sustentáveis como bicicletas, muitas pessoas estão comprando um modelo de carro que é ainda mais nocivo: os SUVs. Os Sport Utility Vehicle têm se tornado cada vez mais populares. São veículos maiores que se tornaram objeto de desejo no Brasil e no mundo. Mas, os danos que esta categoria de veículos causa são proporcionais ao seu tamanho.

Nas propagandas, eles aparecem em paisagens lindas, em meio à natureza ou em terrenos que justificam motores mais potentes ou tração 4×4. Mas muitos destes veículos acabam sendo usados em ambientes urbanos, onde estas funções e dimensões não se justificam – e acabam trazendo impactos negativos.

Um relatório da Agência Internacional de Energia (AIE) revelou que as emissões de dióxido de carbono dos SUVs aumentaram quase 70 milhões de toneladas em 2022, atingindo um total anual de quase um bilhão de toneladas. Se os motoristas de SUVs fossem reunidos em um único país, esta seria a nação com a sexta maior emissão de CO2 do mundo, segundo apurou o The Guardian.

Por serem carros maiores, os SUVs emitem cerca de 14% a mais de dióxido de carbono em média do que um automóvel compacto e consomem 20% a mais óleo do que o carro médio de médio porte, de acordo com a IEA. O que torna estes dados ainda piores é avaliar a real necessidade de um carro deste porte circular em centros urbanos. Mesmo assim, cada vez mais gente quer (e compra) um veículo desta categoria.

Em 2022, a venda de carros no mundo caiu 0,5%, mas as vendas de SUVs subiram cerca de três por cento, representando 46% das vendas totais de carros: um total de cerca de 330 milhões de veículos com um tamanho maior do que o necessário, poluindo ainda mais do que automóveis à combustão tradicionais, disputando o espaço cada vez mais valioso dos centros urbanos com pedestres e pessoas se deslocando em outros meios de transporte mais sustentáveis, como o transporte coletivo ou bicicletas.

“Os mercados globais de automóveis não tiveram um bom ano em 2022, mas os SUVs foram uma exceção, levantando mais preocupações sobre seu impacto nos esforços para combater as mudanças climáticas”, alerta o relatório.

A publicação afirma ainda que enquanto a demanda por petróleo de carros convencionais se estabilizou entre 2021 e 2022, no caso dos SUVs, ela aumentou 500 mil barris por dia, consumindo um terço do crescimento da demanda de petróleo no ano.

Um dado que pode ser considerado positivo no relatório é que o aumento da venda de veículos elétricos também foi uma exceção em relação ao quadro geral. Em 2022, houve um aumento de 60% com mais de 10 milhões de carros vendidos pela primeira vez. Isso incluiu as vendas de SUVs elétricos, que agora representam 16% das vendas totais de SUVs e 55% das vendas totais de veículos elétricos.

“Os SUVs elétricos estão crescendo em popularidade, mas não com rapidez suficiente para compensar o aumento do consumo de petróleo e das emissões da frota mais ampla”, escreveu a IEA.

Outro ponto de atenção, segundo especialistas, é que os SUVs elétricos não são uma solução ideal do ponto de vista ambiental.  “Os SUVs exigem baterias maiores para alimentá-los, portanto, um crescente mercado de SUVs elétricos imporia pressão adicional nas cadeias de suprimentos de baterias e aumentaria ainda mais a demanda pelos minerais essenciais necessários para fabricar as baterias”, ressalta a IEA.

Quando a recomendação é priorizar outros meios de transporte e reduzir o tamanho dos veículos, principalmente os que circulam nas cidades, o mercado de automóveis vai na direção oposta. Além de exercer pressão sobre o clima e as matérias-primas essenciais, os carros maiores também aumentam o risco de acidentes nas ruas e estradas.

“As montadoras estão descartando carros pequenos em busca de lucro”, disse Poliscanova. “Mas carros maiores colocam mais pressão no planeta, pois precisam de mais materiais e energia. Para os motoristas, isso significa modelos mais caros e custos de operação mais altos, especialmente em um momento de altos preços de energia. Em última análise, as montadoras ocidentais podem se arrepender disso”, explica Julia Poliscanova, diretora sênior de veículos e mobilidade elétrica da Transport & Environment.

Protestos contra SUVs

O aumento do número de SUVs circulando pelas ruas tem gerado protestos. O historiador Matthias Schmelzer sugere a proibição total de SUVs não essenciais. Mathias cita um artigo recente do Financial Times que descobriu que SUVs e picapes leves agora representavam quatro quintos das vendas de carros novos nos Estados Unidos – há 50 anos, representavam apenas um quinto.

Já os ativistas do grupo Extintores de Pneus encontrou outra maneira de se opor ao trânsito de SUVs: eles esvaziam pneus de veículos de grande porte estacionados nas ruas de diversas cidades. Na noite em que o relatório da IEA foi divulgado, eles esvaziaram centenas de pneus na Europa – algo em torno de 10 mil SUVs em 16 países.

“SUVs e 4×4 são um desastre para nossa saúde, nossa segurança pública e para o clima. Carros cada vez maiores estão dominando nossas vilas e cidades, e tudo para que poucos privilegiados possam exibir sua riqueza. Como os governos e os políticos falharam em nos proteger desse perigo, devemos nos proteger”, explica o grupo em seu site.