ONU reforça posicionamento contra o marco temporal
Posicionamento das Nações Unidas veio na data da retomada do julgamento do marco temporal pelo STF
Posicionamento das Nações Unidas veio na data da retomada do julgamento do marco temporal pelo STF
O julgamento do Marco Temporal foi retomado na quarta-feira, 30 de agosto (30/08) e deve ser continuado na próxima semana. Até o momento, são 4 votos contrários à tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas e 2 à favor. Votaram contra o relator, Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin e Roberto Barroso. Os votos favoráveis vieram de Nunes Marques e André Mendonça. Ainda faltam votar os ministros Luiz Fux, Gilmar Mendes, Cármen Lúcia e a presidente do STF, Rosa Weber.
Enquanto não existe uma decisão do STF, a mobilização nacional e internacional em relação ao Marco Temporal segue se intensificando. No dia 30 de agosto, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um comunicado reforçando o seu posicionamento contra o marco temporal e manifestando preocupação com “quaisquer ações que possam enfraquecer ou relativizar a proteção dos direitos dos Povos Indígenas no Brasil e na região”.
Na publicação, a ONU ressalta a importância da proteção dos territórios indígenas para a garantia dos direitos dos povos originários e para a humanidade. “Os Povos Indígenas são guardiões do meio ambiente e da biodiversidade, e não apenas para suas comunidades, mas para toda a humanidade. Em um momento de emergência climática e de altos índices de desmatamento, o debate sobre a tese do Marco Temporal torna-se de interesse global e urgente”, diz um trecho da publicação. Para ler o comunicado completo, clique AQUI.
No dia 14 de junho, José Francisco Calí Tzay, relator sobre os direitos dos povos indígenas das Nações Unidas, recomendou a rejeição da tese no STF e na Câmara dos Deputados. Na época, o PL 490 (atualmente PL 2903 no Senado) ainda não tinha sido aprovado pelos deputados federais.
Quem quiser participar da mobilização contra o Marco Temporal, pode clicar aqui.
A atualização do comunicado da ONU ocorre durante a mobilização nacional nos territórios, nas cidades, redes e em Brasília dos povos indígenas, articulada pela Apib e suas organizações regionais de base. A Apib reforçou a importância das mobilizações entre os dias 30 e 31 de agosto e comunicou que, se o STF prorrogasse para outras datas o término da votação, o movimento indígena seguiria mobilizado para acompanhar o julgamento até o marco temporal ser anulado.
As organizações que compõem a Apib, mobilizaram no período de maio e junho mais de 129 manifestações em 21 estados, incluindo o Distrito Federal. Integram a articulação da Apib: Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (APOINME), Articulação dos Povos Indígenas do Sudeste (ARPINSUDESTE), Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpin Sul), a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o Conselho do Povo Terena, a Comissão Guarani Yvyrupa (CGY) e a Grande Assembleia do povo Guarani (ATY GUASU).
O marco temporal é uma tese política que afirma que os povos indígenas só teriam direito à demarcação das terras se estivessem em sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição Federal. A Apib aponta que a tese é inconstitucional e anti-indígena, pois viola o direito originário dos povos ao território ancestral – previsto na própria Constituição – e ignora as violências, em especial da ditadura militar, e a tutela do Estado a que os povos foram submetidos até 1988. Antes disso, inúmeros povos foram forçados a sair dos seus territórios e não tinham autonomia para lutar judicialmente por seus direitos.
No STF, o marco temporal trata, no mérito, de uma ação possessória (Recurso Extraordinário n.º 1.017.365) envolvendo a Terra Indígena Xokleng Ibirama Laklaño, dos povos Xokleng, Kaingang e Guarani, e o estado de Santa Catarina. Com status de repercussão geral, a decisão tomada neste caso servirá de diretriz para todos os processos de demarcação de terras indígenas no país.
Segundo a Apib, o PL 2903 traz uma séries de riscos aos povos indígenas que se estendem à toda população brasileira. Confira o que diz a associação: