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fossa ecológica Tevap
Na parte superior da fossa, são colocadas plantações de espécies de alta demanda hídrica (podendo ser, por exemplo, a bananeira). | Foto: PET Ambiental | Universidade Federal de Ouro Preto

Água para tomar banho, água para lavar louça, água para lavar roupa. Mesmo sendo um bem precioso e escasso, a água limpa chega nos lares para realizar tarefas essenciais no cotidiano. Muitos podem nem sequer refletir sobre o paradoxo de usar a água tratada no vaso sanitário para descartar os dejetos humanos. Buscando uma forma de lidar com os resíduos de forma menos prejudicial ao planeta, sistemas antigos de tratamento de esgoto doméstico têm sido aprimorados, é o caso da fossa ecológica Tevap.

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O Tevap (ou Tanque de Evapotranspiração) é um sistema fechado de tratamento e reaproveitamento dos nutrientes do efluente do vaso sanitário. O processo ocorre a partir da decomposição anaeróbica da matéria orgânica, mineralização e absorção pela vegetação que é plantada na área que cobre o tanque – geralmente bananeiras.

“Os nutrientes deixam o sistema incorporando-se à biomassa da planta e a água é eliminada por evapotranspiração. Não há escoamento. Dessa forma, não polui o solo e não deixa nenhum microrganismo patógeno sair”, afirma o extensionista agropecuário da Emater-MG, Augusto César da Silva.

Como fazer e como funciona o Tevap

A fossa ecológica Tevap consiste em um tanque retangular com paredes e fundo impermeabilizados, onde não há saída de efluente via infiltração no solo. Um dos pontos que tornam a solução de baixo custo é a possibilidade de reaproveitamento de materiais como pneus, restos de obras e pedras durante a construção. Além destes, os tanques de evapotranspiração ainda levam ferro-cimento, areia e terra adubada.

fossas ecológicas
Foto: Prefeitura de Guapimirim

Os materiais são colocados pouco a pouco formando camadas. Os pneus usados são enfileirados no fundo. Em seguida, são inseridos entulhos (tijolo, telhas, pedras, etc.), depois brita, areia e por último o solo.

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Os pneus funcionam como uma câmara de fermentação, onde as próprias bactérias presentes no esgoto sanitário fazem a digestão da matéria orgânica presente nos dejetos. “O material resultante, já transformado em moléculas menores, vai subir por capilaridade pelas várias camadas de pedras, areia e terra, até ser absorvido pelas raízes de plantas cultivadas no solo acima da fossa”, detalha a Emater.

A engenheira ambiental Jane Terezinha Leal, do Departamento Técnico da Emater-MG, explica que as plantas funcionam como uma bomba de água e as folhas são os aspersores que liberam água em forma de vapor para o ambiente. Enquanto isso, a matéria orgânica, já transformada em moléculas pequenas o suficiente para serem absorvidas pelas raízes, vão funcionar como adubo para os vegetais.

fossa ecológica
Foto: Ligia Monteiro

Para facilitar a evapotranspiração (liberação do vapor d´água) são indicadas espécies de folhas largas (com muitos estômatos, estruturas que liberam a água para o ambiente) e o cultivo deve ser a pleno sol, de 12 horas por dia. Entre as plantas mais adequadas estão a estrelitzia (ou ave-do-paraíso), cana-indica (conhecida também como bananeirinha-de-jardim), maria-sem-vergonha, guaimbé-da-folha-ondulada, Colocasia esculenta (ou inhame-preto), copo-de-leite e hortências.

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Um manual de tecnologia sociai da Fundação Banco do Brasil traz informações detalhadas com o “passo-a-passo” de como fazer o Tevap – confira aqui.

Cuidados

  • Fazer o dimensionamento da Tevap de acordo com o número de moradores; o indicado, para evitar excesso de água no sistema, é a caixa de descarga de até seis litros
  • Evitar o uso exagerado de água sanitária ou o lançamento de antibióticos no vaso sanitário (restos de medicamentos, como xaropes) para não eliminar as bactérias presentes, responsáveis pelo equilíbrio biológico do sistema
  • Não é necessário fazer a limpeza da fossa ecológica, como se faz nas fossas comuns, que acumulam lodo no fundo
  • A manutenção é com a poda das folhas secas e reposição de mudas.
  • Para evitar o risco de contaminação não se deve cultivar plantas alimentícias sobre a fossa Tevap

Para o uso da Tevap é preciso realizar a separação da água usada em casa. Apenas o efluente dos sanitários (mais conhecido como “água negra”) deve ir para o Tanque. As demais, provenientes de pias, tanques, chuveiros, ralos e máquinas de lavar (as chamadas “águas cinzas“) devem ir para outro sistema de tratamento, como o círculo de bananeiras.

Potencial

Criado por Tom Watson, nos EUA, e adaptado por vários permacultores brasileiros, o Tevap é considerado eficiente para a agricultura familiar, pela durabilidade, fácil construção, baixa manutenção, baixo custo, além dos benefícios sociais e ambientais. A solução é uma alternativa com grande potencial sobretudo em um contexto em que cerca de 1/4 da população brasileira (24,3%), ou aproximadamente 49 milhões de pessoas, não têm acesso a uma estrutura adequada de esgoto, segundo o último levantamento do IBGE.

Com informações da Emater-MG e Fundação Banco do Brasil