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Eletrificação vai mudar o design dos veículos

Designers e especialistas na indústria automobilística falam das possibilidades de desenho que as novas tecnologias trazem

design carros elétricos
Foto: Divulgação | Nissan

A mudança de motores à combustão para versões elétricas não vai apenas mudar a emissão de gases de efeito estufa dos veículos, mas o design dos carros. Esta é a conclusão de designer entrevistados pelo Dezeen, site especializado em arquitetura e design. O primeiro ponto sobre os veículos elétricos levantado pelos profissionais é a necessidade de melhorar a tecnologia das baterias. Depois disso, com a eletrificação se tornando cada vez mais comum, os carros vão ganhar aparências cada vez mais distintas. A razão para essa é que, diferentes dos carros a combustão, as versões elétricas não dependem de uma série de componentes que acabam moldando seus desehos, como o motor, o tanque de combustível, o radiador, a transmissão, o escapamento, e outras peças.

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Com os carros elétricos, tudo isso geralmente é substituído pelo que costuma ser chamado de “skate” – um piso plano e unificado contendo a bateria e os motores. E essa pode ser a base para projetos cada vez mais criativos e disruptivos, que podem romper com a imagem que temos hoje de um carro.

Giovanny Arroba, diretor de design do Nissan’s Global Design Center, explica que os novos veículos oferecem outras possibilidades, que vão além do que aconteceu “nos últimos 100 anos, onde você tem um motor, seja dianteiro, traseiro ou central, em um eixo de transmissão e coluna de direção e todas essas coisas”. Para ele os veículos elétricos oferecem novas variações para a distribuição de pessoas, área de carga e motores.

nissan leaf carro elétrico
O Leaf, modelo da Nissan, está disponível no Brasil. Foto: Divulgação | Nissan

“No momento, estamos tentando espremer o máximo de alcance dessas baterias por meio da eficiência da aerodinâmica, então você começa a ver muitos carros com uma silhueta semelhante”, disse Arroba. “O que eu prevejo é que você verá muito mais diversidade à medida que a tecnologia avança.”

Esta tendência de diversificação ainda não se confirmou. Muitas marcas preferem lançar as suas versões elétricas em um padrão semelhante ao que já foi consagrado no mercado atual. Como exemplo, a publicação cita a Masetari elétrica, lançada na semana de design de Milão, que é bastante parecida com o modelo GranTurismo. O Cooper Se e o F-15 Lightning são outros modelos elétricos que pouco diferem da versão à combustão.

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masserati carro elétrico
Versões elétricas da Masserati não trazem muitas novidades. Foto: Divulgação| Masserati

A explicação para isso não está necessariamente nas limitações de tecnologia das baterias. Kirsty Dias, diretora-gerente da agência de design especializada em transporte PriestmanGoode, acredita que esta pode ser uma estratégia para que os consumidores não se sintam ainda mais intimidados em fazer a mudança do “tradicional” para o elétrico.

Esta opinião pode ser confirmada com o lançamento do Nissan Leaf, em 2010. O modelo elétrico veio acompanhado de linhas muito mais arredondadas, que receberam críticas na época. Como consequência, o design da nova versão  já estava mais parecido com outros veículos do mercado.

Segundo a especialista, a indústria automobilística não está exigindo muito do cliente neste primeiro momento de transição para a nova tecnologia. “O próximo passo, eu acho, pode ser algo mais experimental”, acresenta.

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nissan leaf
Primeira versão do NIssan Leaf tinha linhas muito mais arredondadas do que os carros da época e gerou estranheza. Foto: Divulgação | Nissan

Fera domada?

Algumas montadoras já se sentem seguras para destacar as versões elétricas com um design bem diferenciado. Como exemplo foram citados o Ioniq 6 da Huyndai, com faróis de LED que imitam pixels, e o Nissan Ariya (foto de abertura) que mostra que a marca voltou a inovar. Pouco conhecidos no Brasil, os veículos da chinesa BYD também foram citados.

“À medida que avançamos, você vê que existem algumas montadoras que se tornaram mais limpas e minimalistas em suas linhas”, comentou Arroba.

carro elétrico hyundai
Foto: Divulgação | Hyundai

Para Maximilian Missoni, chefe de design da Polestar, a mudança de design vem de encontro à mudança de percepção que os motoristas têm do próprio carro. Para ele, o carro com o motor potente, que queimava combustível e emitia um gás quente está relacionado à um perigo, uma “fera” dominada por quem dirigia. “Com a eletrificação, esse grande componente de perigo no próprio trem de força desapareceu”, conta ele.

As grades frontais que lembram dentes perdem espaço para uma superfície mais lisa, especialmente porque a bateria requer muito menos resfriamento do que um motor convencional.

carro elétrico polestar
Foto: Reprodução | Polestar

No interior, os painéis dos carros elétricos costumam acender como naves espaciais como parte de uma tentativa de comunicar inteligência em vez de agressão.

Uma outra mudança vem do barulho, mais presente em veículos à combustão e quase imperceptível em versões elétricas. Entre pessoas que um veículo elétrico pela primeira vez, é muito comum a dúvida em relação ao carro estar efetivamente ligado. A ausência de ruído também é um problema de segurança, já que este era um sinal de que um carro estava se aproximando.

Para substituir o barulho do motor, algumas marcas usam recursos sonoros – é o caso da BMW que contratou os serviços do compositor vencedor do Oscar Hans Zimmer para o iX.

carro elétrico interior
Interior do BMW i3. Foto: Divulgação | BMW

Tamanho é documento?

Outra tendência observada em lançamento de veículos elétricos é a escolha por modelos maiores, como os sedans e SUVs, que funcionam bem com bases de baterias grossas. Esta escolha também está ligada ao preço que os consumidores estão dispostos a pagar. Segundo Andrew Graves, professor da Universidade de Bath e especialista na indústria automobilística, “é muito difícil lucrar com os carros elétricos, então todos chegam aos SUVs porque ganham muito dinheiro com eles com um volume muito menor.”

No entanto, a escolha pelo transporte individual em carros grandes, ainda que elétricos, não é a sustentável e nem a mais segura. Estes veículos têm um peso maior e um motor potente, uma combinação perigosa, principalmente para pedestres e ciclistas. “As baterias dependem muito de grandes quantidades de metais pesados, como lítio e cobalto, por isso são incrivelmente pesadas, que é a última coisa de que precisamos”, disse Graves.

impacto suv
Foto: Pixabay

O volume também é ruim para a eficiência energética e de recursos, com o Conselho Americano para uma Economia Eficiente em Energia (ACEEE) classificando os maiores EVs como piores para o meio ambiente do que os carros menores a gasolina. E representa problemas para a infraestrutura, causando mais danos às superfícies das estradas e vias urbanas.

A ideia de que um veículo com uma ou duas toneladas de material vai ser produzido para o transporte individual ou familiar e que vai ocupar espaço em cidades com um adensamento populacional cada vez maior, o que significa disputa de espaço, foge do que muitos urbanistas e ambientalistas esperam do setor automotivo.

Veículos mais leves, menores, com motores que não precisam de tanta postência, são opções mais amigáveis neste sentido. Um exemplo é o próximo lançamento da Luvly, um minicarro elétrico que pesa menos de 400 quilos.

mini carro Luvly
Foto: Divulgação | Luvly

“Nós herdamos uma ideia do que um carro deveria ser, mas não há como continuarmos com esse desperdício de consumo de transporte”, explicou isse Håkan Lutz, presidente-executivo da montadora sueca, ao Dezeen. “Atualmente, os carros transportam 1 ou 2 pessoas por 36 quilômetros dentro da cidade. O que fizemos foi esse fato e desenhar um veículo otimizado para esse caso de uso”, continuou ele.

Um futuro com carros autônomos também promete uma mudança ainda mais revolucionária no desenho dos carros, uma vez que motoristas e o espaço que eles ocupam ficarão no passado.

carros elétricos autônomos
Os carros elétricos autônomos serão uma revolução ainda maior. Foto: Jaguar Land Rover

Nota do CicloVivo

A eletrificação é um passo importante para a diminuição da emissão de gases de efeito estufa, mas, para além da mudança nos motores dos meios de transporte, é preciso repensar a maneira como nos deslocamos pelas cidades.

Os centros urbanos vão ter uma concentração populacional cada vez maior e é importante que os espaços priorizem as pessoas e sua qualidade de vida, o que inclui áreas verdes, de lazer e um sistema de transporte público cada vez mais eficiente. A eletrificação das frotas de ônibus também é fundamental, por exemplo.

Além disso, outros modais, como a bicicleta e a caminhada precisam de mais espaço e segurança para serem opções de transporte. Não emitem gases de efeito estufa, são mais seguros, tem um impacto ambiental menor e ainda contribuem para a saúde da população.

bike elétrica dobrável
Foto: Vello Bike | Leonardo Ramirez

Com informações de Dezeen