Como melhorar a sua rotina para viver mais e melhor
Algumas práticas adotadas nas “zonas azuis” podem ser replicadas em nosso cotidiano, confira
Algumas práticas adotadas nas “zonas azuis” podem ser replicadas em nosso cotidiano, confira
De vez em quando volta à tona a busca por “segredos” da longevidade. A verdade é que a expectativa de vida no Brasil está aumentando, porém viver mais não é sinônimo de viver bem. Isso porque chegar à terceira idade com saúde e disposição requer uma preparação prévia que, muitas vezes, acompanha toda uma vida. Algumas pistas de como levar uma vida que conduza a boa velhice são reunidas em uma série que estreou recentemente na Netflix.
A série documental “Live to 100: Secrets of the Blue Zones” (Em português, Como Viver Até os 100 – Os segredos das zonas azuis) apresenta, em quatro episódios, alguns dos possíveis segredos da longevidade. Idealizada pelo explorador e jornalista Dan Buettner, a série é baseada no best seller de sua autoria, The Blue Zones Secrets for Living Longer: Lessons From the Healthiest Places on Earth.
Trata-se de um guia sobre diferentes lugares do planeta onde foram localizadas grandes concentrações de pessoas com mais de 100 anos. Para se ter uma ideia, a expectativa de vida do brasileiro é hoje de 77 anos de idade, e de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se mantivermos o crescimento dos últimos anos, até 2050 estaremos vivendo, em média, mais de 80 anos.
Tanto o documentário como o livro abordam questões como lições aprendidas, alimentos consumidos e comportamentos destas populações. Para isso, Buettner percorreu cinco destas localidades buscando entender quais aspectos poderiam ser responsáveis por fazer destas populações mais saudáveis e mais longevas: Okinawa, no Japão; Sardenha, na Itália; Nicoya, na Costa Rica; Icária, na Grécia; e Loma Linda, na Califórnia.
No livro de Buettner, há alguns dados importantes que revelam a importância do equilíbrio entre ter à disposição recursos e medicamentos ou simplesmente adotar um estilo de vida mais saudável. Um exemplo é o fato de os americanos terem gasto em 2021 US$ 21 bilhões em suplementos proteicos, enquanto o Centro de Controle e Prevenção de Doenças declara que o norte-americano médio ingere cerca de duas vezes mais proteína do que necessita.
A busca pela realização de atividade física regular também têm custado muito dinheiro: cerca de 160 milhões de dólares por ano são gastos em academias e materiais esportivos e, ainda assim, apenas um quinto da população adulta realiza a quantidade mínima recomendada de atividade física.
Uma terceira questão importante abordada tanto no livro como no documentário poderá surpreender aqueles que apostam as suas fichas na genética relacionada à longevidade. De acordo com estudo da Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota, os genes têm relativamente pouco impacto sobre a expectativa de vida.
“A longevidade está hoje relacionada, sobretudo, aos hábitos de vida, alimentação, prática de atividade física e oportunidade de detectar possíveis problemas o mais precocemente possível. Por este motivo, o check-up é indicado a todas as pessoas a partir dos 35 anos, ou conforme orientação médica. A periodicidade dos exames varia conforme a idade e o paciente, mas em geral acontece anualmente”, explica o Dr. Daniel Lerario, clínico geral e endocrinologista, mestre e doutor pela Escola Paulista de Medicina.
Somente o médico que acompanha o paciente poderá determinar a partir de quando o check up deve ser realizado, quais exames serão realizados e com qual periodicidade. O histórico de saúde tanto do paciente como de seus familiares são importantes para determinar estas questões.
“Um check-up é composto de exames clínicos e laboratoriais em diversos órgãos. Os exames serão indicados de acordo com o paciente, seu histórico familiar, condições clínicas, queixas e exames realizados anteriormente. Entre as doenças mais importantes que um check-up pode diagnosticar precocemente e até mesmo prevenir, estão a doença coronariana, acidente vascular cerebral (AVC), diversos tipos de câncer e diabetes”, detalha o profissional.
Ter a oportunidade de identificar um problema de saúde antes mesmo de surgirem os primeiros sintomas é um privilégio. A grande maioria das doenças, em suas fases iniciais, são muito mais simples e fáceis de tratar.
Dan Buettner encontrou alguns pontos em comum nos locais visitados. Em sua maioria, populações mantinham uma dieta baseada em vegetais e alimentos integrais. Em vez de irem para a academia, se movimentavam naturalmente, seja em caminhadas, subindo e descendo escadas, na agricultura, cuidando dos rebanhos e até mesmo dançando nas pequenas festas dos vilarejos.
Rituais diários, oração, veneração aos ancestrais e cochilos, por outro lado, são alguns dos hábitos que os mantêm ao longo do dia, reduzindo a inflamação induzida pelo estresse.
“Trazendo este exemplo para as grandes cidades, é importante que a atividade física ofereça momentos de prazer a quem está praticando. Seja uma aula de dança ou longas caminhadas, gostar da escolha é fundamental para manter-se motivado em longo prazo e aumentar as chances de que a atividade física seja inserida na rotina de maneira permanente”, orienta o Dr. Daniel.
Entre os determinantes sociais da saúde, estas populações valorizam a manutenção dos idosos por perto, aumentando a esperança de vida de pais e avós, mas também dos netos. Pelo mesmo prisma, grupos que mantém programas de apoio social, relacionam-se em comunidades e buscam um senso de propósito (o famoso Ikigai) a partir destas relações, têm obtido benefícios em longevidade.
Não é possível, por exemplo, alterar a planta de uma cidade ou até mesmo a estrutura das casas, mas é possível, tanto aos governos, implementar políticas para melhorar a mobilidade a pé ou de bicicleta, como às pessoas procurar percorrer mais distâncias a pé e trocar elevadores por escadas.
Na alimentação, desde as escolas até as nossas casas, privilegiar alimentos saudáveis, reduzindo a proporção de ultraprocessados, bebidas açucaradas e fast food, buscando sempre incluir frutas, legumes, verduras, feijões, cereais integrais, sementes e nozes.
E o mais importante: quanto mais pessoas puderem buscar essas mudanças juntas, mais fácil e prazeroso será este caminho. Incluir a família, os amigos, vizinhos, colegas de trabalho em programas de incentivo a mudanças e promover eventos que incentivem essas ações, como workshops ou grupos de caminhadas, por exemplo.