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Documentário conta a história de brasileiras na luta pela natureza

Filme reúne personagens do projeto “Mulheres na Conservação”: heroínas que dedicam a vida a salvar espécies ameaçadas

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Beatrice Padovani mergulha em área protegida, em Tamandaré. Foto: João Marcos Rosa

A participação e o protagonismo de mulheres nas mais diversas áreas, nem sempre é proporcional à visibilidade que elas recebem pelo seu trabalho e conquistas. Pouca gente sabe, mas as mulheres são responsáveis por responsáveis por metade da produção científica brasileira, mas o papel da mulher nesta e em outras áreas ainda não tem o destaque que merece – uma realidade que a jornalista Paulina Chamorro e o fotógrafo João Marcos Rosa transformam com o projeto Mulheres na Conservação.

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Com o apoio da Fundação Toyota, a vida de mulheres que dedicam à vida a proteger espécies de animais ameaçadas no Brasil é contada em uma série de reportagens e websérie, produzidas ao longo de 3 anos, em 12 estados brasileiros. São mulheres como Neiva Guedes, que salvou a arara azul da extinção, Patrícia Medici, engenheira florestal responsável por pesquisar e defender a anta há mais de 30 anos, Zélia Brito, mulher que há 20 anos comanda o Atol das Rocas, primeira unidade de conservação marinha brasileira.

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Zelia Brito, no Atol das Rocas, que ela ajuda a proteger há 20 anos. Foto: João Marcos Rosa

“Elas nos proporcionaram momentos de extrema delicadeza e sensibilidade, nos deixaram entrar na vida delas para mostrar bem mais que os resultados das pesquisas que realizam”, lembra Paulina, que destaca a relevância do que essas histórias inspiram para as próximas gerações. “Além da iniciativa de criar uma linha de estudo, elas desenvolveram técnicas pioneiras no mundo da ciência em benefício da conservação. Ou simplesmente começaram do zero traduzindo para o resto do planeta a linguagem da natureza. E, hoje, muito do trabalho delas é referência global”, completa.

As heroínas da preservação ambiental no Brasil têm vidas bem diferentes. Em comum, uma força impressionante que se revela em décadas de trabalho em uma área onde ser mulher é mais um dos desafios. Estas histórias, que já haviam sido contadas em reportagens na National Geographic, CicloVivo e na websérie, foram reunidas em um documentário que estreia no Dia Internacional da Mulher, em sessaõ para convidados no Cine Belas Artes, em São Paulo.

No domingo, dia 12 de março, a TV Cultura vai exibir o documentário, às 16h15.

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Neiva Guedes, do Instituto Arara Azul, vistoria ninhos em topo de árvore. no Pantanal. Foto: João Marcos Rosa

As personagens podem ser vistas nos locais mais inóspitos: nas copas de árvores do Pantanal, nos manguezais do delta do Parnaíba, deslizando nas entranhas do litoral, submersas ao lado recifes de coral ou, quem sabe, caminhando silenciosas nos vales da Caatinga… São cientistas, fiscais, monitoras, pescadoras, professoras, além de médicas, veterinárias, biólogas, especialistas em Ecologia, Zoonoses, Oceanos.

Algumas acumulam décadas de esforços na preservação de biomas e espécies. Encontraram, na Natureza, mais do que uma profissão: um projeto de vida. Apaixonadas pelas áreas de estudo às quais se dedicam, cientistas brasileiras que atuam em campo inovam nos métodos e abordagens e, sobretudo, demonstram amor quase simbiótico pelo meio ambiente.

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Flávia Miranda é médico-veterinária e professora. Fundou e preside o Instituto Tamanduá. Foto: JOAO MARCOS ROSA | NITRO

Além da comprovada recuperação das espécies que estudam, o trabalho destas mulheres transforma as comunidades nas regiões em que desenvolvem as pesquisas. Contar estas histórias, em todas as plataformas possíveis é uma maneira de inspirar as novas gerações de pesquisadoras, ao mostrar a determinação, a rotina, o trabalho e os resultados dessas profissionais na natureza, além de investigar parte do universo feminino que se destaca à frente dos principais projetos de conservação de fauna, flora e áreas no Brasil.

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Mulheres na Conservação, o documentário

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Pesquisadora Patricia Medici em campo. Foto: João Marcos Rosa

Produzido pela Tocha Filmes, o documentário tem como foco a vida de sete mulheres, sete histórias de amor e coragem, em sete pontos do Brasil: Patrícia Medici, da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB-IPÊ), Neiva Guedes, do Instituto Arara Azul, Bárbara Pinheiro, da Universidade Federal de Alagoas (PDCTR/UFAL), Flávia Miranda, do Instituto Tamanduá, Márcia Chame, das fundações Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e Homem Americano, Maurizélia de Brito e Silva, da Reserva Biológica do Atol das Rocas (ICMBio/MMA) e Beatrice Padovani, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Com uma linguagem simples e intimista e imagens emocionantes, o filme revela a relação dessas grandes mulheres com a conservação do meio ambiente no Brasil. “Com uma equipe de, no máximo, três profissionais em campo, tentamos deixá-las o mais à vontade possível para que pudéssemos documentar, com o mínimo de interferência externa, a realidade de suas vidas em campo”, explica João Marcos Rosa.

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A pesquisadora Barbara Pinheiro, nas águas de Maragogi. Foto: João Marcos Rosa

Sylvio Rocha, da Tocha Filmes conta que a websérie despertou nele a vontade de ampliar ainda mais a voz destas mulheres, dando um novo formato para a narrativa.  “Queria saber se há um fio conector nas jornadas profissionais e pessoais de cada uma dessas heroínas da pesquisa e da conservação, lapidar ainda mais esse rico material já captado pelas lentes do João Rosa nas várias viagens realizadas por ele e Paulina”, revela.Além de Paulina, João e Sylvio, a roteirista Fernanda Polacow, a editora Larissa Figueiredo e o fotógrafo Bruno Magalhães se somaram à equipe de produção e direção do filme. Para completar, uma trilha sonora exclusiva e personalizada foi produzida pelo músico Camilo Carrara para cada uma das personagens.

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Márcia Chame, em atividade de campo, em São Raimundo Nonato, no
Parque Nacional da Serra da Capivara. Foto: João Marcos Rosa

Com 45 minutos, o documentário faz um recorte poético e delicado da websérie –que continua online e ativa, contando histórias e divulgando o trabalho de mulheres cientistas da natureza. “A engrenagem que move a ciência no Brasil hoje está nas mãos, palavras, ideias, olhos e pensamentos de mulheres incríveis. A gente quer colocá-las no patamar que merecem: o de heroínas da conservação no Brasil”, declara Paulina.

Quem são as Mulheres na Conservação?

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Da esquerda para a direita: Beatrice Padovani, Flávia Miranda, Marcia Chame e Bárbara Pinheiro. Fotos: João Marcos Rosa
  • Beatrice Padovani, professora titular e pesquisadora em Oceanografia da UFPE:  Foi durante o mergulho que Beatrice teve um insight, ou desejo: passar a vida debaixo d’água. E assim é. Beatrice deu a volta ao mundo, defendeu doutorado em Marine Biology pela James Cook University Of North Queensland, na Austrália, e hoje é especialista em recifes de coral, reservas marinhas, dinâmica populacional de peixes, ictiofauna recifal e pesca artesanal. A pesquisadora trabalha em campo com um olhar especial sobre as comunidades de pescadores. E um dos propósitos do trabalho que desenvolve está relacionado aos legados para as próximas gerações. É o futuro no agora.
  • Flavia Miranda, presidente do Instituto Tamanduá: Médica-veterinária, Flávia comanda o projeto que leva luz às informações sobre esse grupo de mamíferos ameaçados no Brasil. Nos últimos anos, passou a dedicar esforços na biologia do menos conhecido dentre os três tamanduás que ocorrem no Brasil: o Tamanduaí. Embrenhada nos manguezais do Delta do Parnaíba, no Piauí, Flávia tenta levantar informações sobre uma espécie que ainda é um mistério para a ciência. Pesquisar para revelar.
  • Marcia Chame, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz e diretora científica da Fundação Homem Americano e membro-titular representante do Ministério da Saúde no Conselho Nacional da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente: Márcia é referência nas áreas em que atua: Ecologia, Parasitologia, com ênfase em Helmintos de Mamíferos Selvagens. Há décadas, a pesquisadora dedica-se a espécies exóticas invasoras, paleoparasitologia, biodiversidade, parques nacionais e conservação. Atua incansável em frentes de combate e prevenção à zoonoses. Preservar a natureza é cuidar da saúde de todos.
  • Barbara Pinheiro, pesquisadora da Universidade Federal de Alagoas (PDCTR/UFAL) : Bióloga com doutorado em Oceanografia, Bárbara estuda ambientes recifais da região Nordeste do Brasil, com destaque para o impacto da acificação oceânica e costeira nos corais. Atualmente, dedica-se à pesquisa e trabalhos de extensão na Costa dos Corais alagoana. É diretora-executiva do Instituto Yandê, focado na integração do conhecimento científico com a sociedade. Bárbara faz parte da Liga das Mulheres pelo Oceano e Black Women in Ecology Evolution and Marine Science. Interagir e unir para mudar o mundo.
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Da esquerda para a direita: Patríca Medici, Neiva Guedes e Zélia Brito. Fotos: João Marcos Rosa
  • Patrícia Médici, pesquisadora e Coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira (INCAB-IPÊ):  Há mais de 30 anos, atua como guardiã de um dos maiores mamíferos brasileiros: a anta. Patrícia entregou a vida, orgulhosamente, para tentar salvar essa espécie tão emblemática. Engenheira florestal, especializou-se em Ecologia e técnicas de manejo sustentável, justamente para estar nas comunidades que vivem ao lado das antas. Uma das questões que intrigam Patrícia é a comunicação entre cientistas e outras comunidades. Assim, sonha com a conciliação entre sobrevivência humana e preservação da natureza nos rincões do Brasil. Interagir pela Humanidade e pela Natureza.
  • Neiva Guedes, pesquisadora e Presidente do Instituto Arara Azul: Ainda bem jovem, Neiva descobriu a delícia de estar na Natureza. E, na primeira oportunidade de trabalhar em campo, canalizou toda essa paixão para uma das iniciativas mais bem-sucedidas na história da conservação brasileira: o Projeto Arara-azul. Logo que terminou a graduação em Biologia, iniciou as investigações no Pantanal, para mapear os fatores que haviam levado a população de arara-azuis a um declínio tão substancial. Hoje, passadas três décadas, as ações do projeto Arara Azul já conseguiram reverter a situação: dos anos 1980 para cá, a população aumentou em mais de 150%. É amor que protege.
  • Maurizélia de Brito e Silva, chefe da Reserva Biológica do Atol das Rocas/ICMBio/MMA: Zélia Brito, ou Zelinha, é uma das principais referências na conservação da vida marinha no país e comanda, há 20 anos, a primeira unidade de conservação marinha brasileira. A integração e o amor de Zelinha com o ambiente em que vive desde criança é de encher os olhos. Além de especialista no tema que pesquisa, Zelinha é essencial para a comunicação entre os diversos grupos envolvidos com o Atol das Rocas, enxerga com clareza os diversos pontos de vista e, dia-a-dia, espalha consciência ambiental. Vivenciar para revolucionar.