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ranking sustentabilidade
Foto: Pixabay

Por Ricardo Mastroti, diretor executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

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“Para você, o que é sustentabilidade?” Alguns anos atrás, precisei conduzir uma conversa sobre sustentabilidade com os funcionários da empresa em que eu trabalhava. Procurando a abordagem certa, perguntei ao meu filho, que na época tinha três anos, o que era certo e errado: se era bonito jogar lixo nos rios ou legal mentir para os amigos, por exemplo. As questões tinham como pano de fundo o que hoje ficou batizado como ESG: os olhares ambientais, sociais e de governança.

Ao mostrar o vídeo de uma criança de três anos respondendo todas as perguntas, o objetivo era mostrar a simplicidade da sustentabilidade: fazer o que é certo. As respostas simples e ao mesmo tempo poderosas são ótimos pontos de partida para definir o Desenvolvimento Sustentável. Mas, antes de detalhar o conceito, gostaria de explicar o contexto que envolve esse termo.

As ações humanas têm grande impacto sobre a Terra. Suas realizações criam oportunidades, mas também ameaças. As transformações climáticas e a destruição do meio ambiente têm uma ligação direta com as atividades humanas.

qualidade do ar
Shangai, na China. Foto: Photoholgic | Unsplash

Desde a Revolução Industrial, que levou à queima expressiva de combustíveis fósseis – principalmente carvão –, estima-se que a temperatura média global aumentou entre 0,8°C e 1,2°C, segundo o Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas, das Nações Unidas (ONU). As consequências desse aquecimento já estão sendo sentidas, com o aumento de eventos climáticos extremos, por exemplo.

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Devido ao estilo de vida acelerado e de alto impacto, com demandas de produção e consumo cada vez mais exageradas, observa-se uma crise generalizada de esgotamento do planeta, em que a maior preocupação é voltada para os efeitos e perigos que isso tudo vai causar nas gerações futuras. Temos, portanto, de promover um novo modelo de desenvolvimento.

O grande desafio para isso é modificar o caminho do dinheiro. Os fluxos de capital e de investimentos são hoje muitas vezes direcionados na contramão do ambientalmente correto e do socialmente justo. A dificuldade é redirecionar essas movimentações para atuações regenerativas, que ajudam a diminuir as desigualdades.

Nesse cenário, destacam-se iniciativas que visam preservar (e não esgotar) os recursos e que proponham harmonia entre a sociedade, meio ambiente e economia. Assim, surge o termo “Desenvolvimento Sustentável”, focado na proteção da natureza e na garantia de que todas as pessoas possam desfrutar da paz e da prosperidade em todos os lugares.

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regeneração planta espiral
Foto: Vivi Noda

O que é Desenvolvimento Sustentável?

Desenvolvimento Sustentável é a única maneira de se alcançar um futuro em que as necessidades de todos os seres vivos sejam supridas em harmonia com o planeta. Ele não esgota os recursos naturais e busca a evolução econômica, o progresso da sociedade e a conservação do meio ambiente.

A adoção de práticas sustentáveis ​​promove a redução das injustiças sociais, a inclusão e a prosperidade, com base em atividades que não esgotam nossos recursos naturais, gerando empregos qualificados e atraindo investimentos.

É um processo contínuo que exige planejamento, acompanhamento periódico de resultados e engajamento de pessoas, grandes organizações e governos. A noção e consciência de que os recursos naturais são finitos e imprescindíveis à sobrevivência de todos os seres vivos demanda compromisso da população mundial em encontrar uma forma de garantir que esses recursos não se esgotem.

É inviável deixar de usar os insumos completamente, mas é preciso racionalizá-los de maneira inteligente — isso serve para atitudes individuais, empresariais e governamentais.

aquecimento global
Foto: Pixabay

Ecodesenvolvimento

A ideia surgiu a partir do conceito de Ecodesenvolvimento, proposto durante a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, em Estocolmo, na Suécia, em 1972.  O intuito era construir um espaço favorável ao debate sobre desenvolvimento econômico e conservação ambiental.

Mas foi só em 1987 que Gro Harlem Brundtland, diplomata e ex-primeira-ministra da Noruega, usou o termo. Ela apresentou um relatório em que se destacou a seguinte frase: “Desenvolvimento sustentável significa suprir as necessidades do presente sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem as próprias necessidades”. Com o título “Nosso Futuro Comum”, o documento ficou conhecido como o Relatório Brundtland.

Desde então, o conceito permaneceu e se desenvolveu ao longo dos anos. No entanto, foi necessário que o planeta começasse a mostrar os primeiros sinais de crise para que o Desenvolvimento Sustentável ganhasse notoriedade nas discussões sobre crescimento econômico.

Quais são os princípios do Desenvolvimento Sustentável?

O principal objetivo do Desenvolvimento Sustentável é utilizar os recursos da melhor forma possível, garantindo que a exploração de recursos naturais hoje não coloque em risco seu uso para futuras gerações. A construção do conceito se baseia em três pilares: desenvolvimento econômico, preservação ambiental e desenvolvimento social.

O primeiro, o econômico, diz respeito às empresas, ou seja, todas devem se comprometer economicamente a iniciativas sustentáveis e à capacidade de produzir, distribuir e oferecer seus produtos de maneira justa em relação aos concorrentes. Incentivar geração de empregos, garantir o fluxo econômico e produzir com materiais recicláveis são exemplos de ações voltadas à sustentabilidade econômica.

crianças felizes
Foto: Larm Rmah | Unsplash

O pilar social engloba diretamente os seres humanos. De maneira geral, parte do princípio da elaboração de mecanismos que tornem a vida mais justa e inclusiva, a partir do desenvolvimento de projetos que visem saúde, educação e moradia para todos, por exemplo.

No princípio ambiental, as questões que envolvem redução de impactos ambientais negativos devido à produção e consumo são levadas em consideração. Refere-se à manutenção das funções e componentes dos ecossistemas. Além disso, segue todas as legislações ambientais estipuladas pelos órgãos regulatórios, informa e aciona toda a comunidade a sua volta em ações de preservação do meio ambiente.

Dessa maneira, se não houver a conscientização social e o reconhecimento da importância do Desenvolvimento Sustentável, sua complexidade e a relação de seus pilares com as diversas questões ambientais, a geração presente deixará para trás apenas destruição, solos carentes de nutrientes, falta de água, atmosfera poluída e uma realidade não propícia à manutenção de nenhuma espécie.

Nesse sentido, cada vez mais se fala sobre transversalidade e cooperação, em que só é possível alcançar um certo patamar se cada um fizer sua parte, a partir da interação e ações mais coletivas e coordenadas nos grandes movimentos. Ao olhar para uma Convenção do Clima ou de Biodiversidade, por exemplo, é possível perceber que são grandes orquestrações para tentar seguir diferentes caminhos, mas para chegar no mesmo lugar.

revista economia circular
Foto: Pixabay

Por que as empresas devem promover negócios sustentáveis?

O único caminho possível para os negócios é ser sustentável. Já não dá para separar o desenvolvimento econômico do cuidado com o meio ambiente e o combate à injustiça social. Não existe qualquer outra possibilidade de crescimento que não seja ambientalmente correto, socialmente justo e economicamente viável.

Estas dimensões estão caminhando juntas e sendo exigidas rigorosamente, pela própria sociedade, demandando mudanças de mentalidade dos seus governos e das empresas. Isso reverbera com o intuito de trazer um grande ajuste no comportamento humano e uma ótima oportunidade para mudar a realidade e a direção do caminho a ser trilhado.

bancos sustentabilidade
Foto: Pixabay

Promover sustentabilidade é o melhor negócio e a melhor direção a ser percorrida. A questão é: sustentabilidade é o certo a se fazer. Assim, se a conta não fecha, é porque ela está errada, provavelmente porque não foram considerados nela as externalidades e os prejuízos que ficam com a sociedade.

Quando um negócio dá lucro, mas provoca prejuízos ambientais e danos às populações, esses efeitos danosos têm que ser incorporados ao cálculo. Ser sustentável é fazer com que essa conta feche no azul, inclusive com os impactos negativos que possam surgir no caminho.

Nos últimos anos, empresas e grandes organizações passaram a enxergar dessa maneira. Tanto que tecnologias inovadoras foram desenvolvidas e hoje proporcionam sustento, conforto, gestão e solução de problemas e conhecimento para bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Por outro lado, a natureza também oferece diversas “tecnologias” que já comprovaram sua efetividade. São as chamadas Soluções Baseadas na Natureza. Como exemplos dessas soluções, temos diversos tipos de ações de preservação e conservação para manter as florestas em pé, como o pagamento por serviços ambientais, que ajudam a reduzir o aquecimento global, a garantir a oferta de água e a regularidade das chuvas, assim como a alimentação dos animais.

compostagem
A compostagem é uma das soluções baseadas na natureza que podem solucionar problemas ambientais causados pelo homem. Foto: Ministério do Meio Ambiente

Da floresta podemos também tirar insumos para cosméticos, medicamentos e outros produtos, gerando empregos e renda de forma sustentável. Outro exemplo: os painéis solares, tão importantes para a produção de energia limpa, são uma busca tecnológica para reproduzir o que as plantas fazem há milhões de anos com a fotossíntese.

Nesse sentido, promover negócios sustentáveis e incorporar estratégias voltadas a isso nas empresas é excepcional para desenvolver soluções inovadoras e aumentar oportunidades. Além disso, o Desenvolvimento Sustentável corporativo desempenha um papel fundamental na busca por destaque no mercado, já que é 100% relacionado ao conjunto de políticas e ações economicamente e socialmente responsáveis.

Por isso, essa temática precisa ser pauta de destaque nas empresas, criando um ambiente em que toda a cadeia produtiva, dos funcionários aos consumidores, continue operando do melhor modo possível. A economia global caminha para um modelo sustentável, e as empresas de destaque nesse futuro são aquelas que estão liderando essa transformação.

Brasil deve ganhar quase 250 usinas eólicas e fazendas solares até 2026
Foto: PxHere

Agenda Sustentável no Brasil

É para fomentar essa mudança que o CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) atua desde 1997 para auxiliar empresas a avançar na agenda sustentável. Nesse trabalho para fortalecer o setor empresarial na vanguarda da nova economia verde, o Conselho promove a geração de conteúdo, capacitações, conexões com governos e a sociedade civil e o estímulo a políticas públicas sustentáveis. A entidade com mais de 100 empresas associadas cujo faturamento somado equivale a quase 50% do PIB brasileiro.

A instituição foi pioneira quanto ao assunto de Desenvolvimento Sustentável no Brasil, ao abordar o Tripple Bottom Line, que norteia a atuação das empresas a partir de três pilares: o econômico, o social e o ambiental. O CEBDS é referência no avanço da sustentabilidade tanto para as empresas quanto para parceiros e governos.

O autor

Este artigo foi escrito por Ricardo Mastroti é diretor executivo do CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável). É biólogo (USP), mestre em Oceanografia (USP) e mestre em Biomimética (Arizona State University). Atua desde 1998 na liderança de áreas corporativas de sustentabilidade, meio ambiente e relações institucionais. Atuou em empresas como P&G, Aracruz, InterCement, Camargo Corrêa Holding e Galvani Fertilizantes. Foi também Diretor Executivo do Instituto Lina Galvani e do Parque Vida Cerrado e sócio da Bemtevi Investimento Social.