Academia ecológica? Ideia é cuidar da saúde e do planeta ao mesmo tempo

Quando a Ecofit foi inaugurada, há 18 anos, a preocupação com a sustentabilidade não tinha o destaque que tem hoje. Mas, a academia ecológica já tinha este nome e este propósito: unir o cuidado com a saúde e o cuidado com o meio ambiente. Uma ideia que surgiu ainda antes da inauguração – 10 anos antes, quando começou a ser construído o prédio de 5 andares na Zona Oeste de São Paulo.

“Decidi montar uma academia movido pela paixão e pela indignação. Paixão pelo trabalho de oferecer qualidade de vida e saúde para as pessoas. Indignação porque meu pai teve um infarto fulminante e minha mãe um AVC, que eu acredito que se eles tivessem descoberto o prazer da atividade física, isso seria diferente”, lembra o fundador e idealizador, Antônio Ferreira, mais conhecido como Toni.

Naquela época, ele já sabia que o planeta também precisava de cuidados especiais. “Não podemos cuidar das pessoas e esquecer do lugar onde elas vivem. Desde o começo quis construir um negócio com o menor impacto possível”. O processo foi desafiador, cheio de aprendizados e desafios.

“Para quem se propõe a falar de bem estar e promover saúde, a maneira como a gente vive e o lugar que a gente vive não podem ser esquecidos. Isso tem conexão total. Além disso, acho que é uma obrigação. Se vamos começar um negócio, que seja algo positivo”, defende o empreendedor.

O reaproveitamento da água da chuva é um exemplo emblemático. Os engenheiros envolvidos na construção diziam que haviam aprendido como construir uma hidroelétrica na faculdade, mas nunca haviam falar de armazenar e reaproveitar água da chuva. Toni insistia na valorização deste recurso e instalou no subsolo imensas cisternas que captavam até mesmo o gotejamento dos aparelhos de ar condicionado.

Como todo o processo que envolve aprendizado, muitas vezes as cisternas chegavam ao limite e água armazenada não era totalmente aproveitada. Mas, a convicção de que este era o caminho levou à descoberta de como filtrar, bombear e usar a água para descargas, limpeza e rega das muitas plantas que cobrem a fachada e trazem o verdes para dentro da academia. Hoje a captação de água da chuva garante a economia de 60 mil litros por mês.

As duchas e torneiras dos vestiários têm controle de vazão e ajudam a economizar cerca de 70% de água. As caixas de descargas têm uma garrafa cheia de areia no tanque – um truque que ajuda a poupar 500ml a cada acionamento. Na piscina, o tratamento é feito com ozônio e sal e além de garantir um mergulho livre de produtos químicos aos alunos, evita-se o uso de 2 mil de litros de cloro por ano, um produto nocivo à saúde e ao meio ambiente.

O cuidado com a água se estende a outros aspectos da construção. O uso de estruturas de aço foi uma escolha para ajudar a evitar o desperdício de materiais. Janelas amplas garantem a iluminação natural e economia de eletricidade. Toda a madeira usada é certificada ou reaproveitada – madeiras de dormentes de trilhos de trem foram usadas para a construção do deck externo e em diversas estruturas dentro da academia.

Os resíduos também recebem uma atenção especial. Não apenas aqueles gerados na própria academia, mas também resíduos especiais que podem ser descartados de forma correta pelos alunos e colaboradores na Ecofit. No primeiro andar estão coletores para pilhas e baterias, tampinhas plásticas e cápsulas de café. Os resíduos orgânicos, que incluem a operação do restaurante do local, são todos encaminhados para a compostagem. Composteiras e minhocários que ficam no subsolo recebem o material orgânico e produzem adubo para fortalecer as plantas do teto verde, dos jardins verticais e dos muitos vasos que ajudam a decorar e os ambientes.

Parte deste adubo, produzido com a compostagem, também é doado aos alunos e colaboradores. São cerca de 2,5 mil clientes e 110 funcionários e incluir  todas estas pessoas nas ações ecológicas da academia é outro impacto positivo que Toni quer garantir. As atividades convencionais de uma academia, com treino e diversas modalidades coletivas e individuais, se misturam com campanhas de educação ambiental, palestras, atividades externas e cartilhas educativas com a temática ambiental.

Toni é procurado por clientes e empresários de outros setores, que querem saber como deixar seu negócio mais sustentável. Muitos não têm informações e temem ser acusados de greenwashing caso errem neste processo. O conselho que recebem é simples. “Comece, vai fazendo, aprendendo. Começa pelo que está ao seu alcance: cuida da água, cuida do lixo. O importante é fazer”, explica. O empresário conta que com vontade, as informações e descobertas vão chegando e a atuação ecológica vai sendo ampliada.

Há alguns anos, Toni ganhou a parceria da filha Alice nas ações de sustentabilidade e, principalmente, no engajamento das pessoas com a causa. Com este propósito, a academia se tornou um dos pontos de coleta de assinatura para o movimento Amazônia De Pé: e uma mesa da campanha fica estrategicamente posicionada em pontos de passagem. “Precisamos encontrar a melhor maneira de atrair a atenção das pessoas e levar informações importantes, muitas vezes temos poucos minutos para isso”, explica Alice.

Existe uma preocupação de não trazer um discurso “ecochato”, mas sim uma inspiração para mudanças positivas.  “Me sinto muito motivada ao compartilhar ideias e atitudes com alunos, professores e colaboradores. Sei que algumas pessoas são influenciadas, são inspiradas e passam a pensar sobre quais atitudes podem mudar. É uma sementinha que estamos plantando”, conta Alice.

A inspiração vem, principalmente, pelo exemplo. Na entrada, um bicicletário acolhe quem escolheu a bike como meio de transporte – um estímulo à mobilidade sustentável. A academia não oferece copos descartáveis nos bebedores, mas pede que cada aluno traga sua garrafa ou copo retornável. Os chuveiros tem uma ampulheta como lembrete e guia para banhos mais curtos. As pastilhas na parede são feitas de garrafas PET recicladas. Na sala de bike, as baterias das bicicletas são recarregadas pela energia gerada com o movimento das pedaladas, evitando o uso de milhares de pilhas.

Certificados do Instituto Brasileiro de Defesa da Natureza estão nas paredes atestando a compensação das emissões de CO2 da academia. No telhado 90 placas fotovoltaicas geram energia limpa para aquecer as piscinas e chuveiros. A decoração traz peças artesanais, compradas em sua maioria de produtores da região amazônica ou povos indígenas. Todas as premiações dos eventos da academia são produzidas em parceria com a ONG Reciclazaro, usando sucata.

“Sempre me questionei se só as grandes empresas poderiam ter ações de sustentabilidade. E sei que não. Cada um pode fazer a sua parte. O importante é começar”, garante Toni.

Apesar de todas estas referências à uma vida mais sustentável, Toni e Alice sabem que nem todas as pessoas são influenciadas na mesma proporção. Isso é considerado natural, mas a motivação para seguir este caminho, que começou há mais de 18 anos, são as pessoas que também abraçam a causa. Relatos de pessoas que mudaram hábitos domésticos ou processos nas empresas onde trabalham são um combustível constante.

Visitas guiadas pela academia, mostrando os diferenciais ecológicos da estrutura, operação e práticas cotidianas são parte do treinamento dos colaboradores e, recentemente foram estendidas aos alunos e alunas, que também são convidados a participar do plantio anual para neutralização de carbono junto com a equipe.

Missão cumprida?

Mesmo com 18 anos de funcionamento da Ecofit, mantendo o propósito inicial de promover o bem estar e o cuidado com o planeta, Toni acredita que ainda há muito o que possa fazer. “Percorremos um longo caminho. Mas, falta muito. Para mim, o principal é seguir influenciando positivamente as pessoas, os clientes e colaboradores e quem mais passar por aqui. Ampliar a consciência, principalmente pelo exemplo”, diz.

Para ele o principal investimento deve ser feita na educação, formal e informal. Com as pessoas que trabalham na academia, os treinamentos não se restringem à questão ambiental. O desenvolvimento dos colaboradores é um foco da gestão. Quem trabalha na academia passa por uma série de capacitações, como o desenvolvimento de lideranças, auto conhecimento e cursos relacionados ao negócio, como atendimento ao cliente.

Para empresários, Toni sabe que é importante desmistificar a sustentabilidade. Muita gente ainda olha para o tema como um custo. “Poupar água, cuidar da eficiência energética, melhorar os processo, reduzir resíduos. Tudo isso gera economia no final do mês. Procuro falar da filosofia, mas também da parte prática”, conta ele.

A receita parece estar dando certo. Mesmo com a concorrência das grandes redes de academia que prejudicaram outros empreendedores do ramo e com a pandemia, que foi um período extremamente desafiador para quem trabalha com  serviços e atendimento ao público, a Ecofit segue firme em seus propósitos e atraindo pessoas interessadas em no seu bem estar e no cuidado com o lugar onde vivem.

“É muito gratificante estar em um lugar onde dedicamos tempo e energia em campanhas de qualidade de vida e educação ambiental. Para mim as duas coisas andam juntas e sei que aqui essa conexão é genuína”, finaliza Alice.