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O que é Mineração Urbana?

Equipamentos eletrônicos descartados têm recursos valiosos – melhor do que extrair metais virgens é recuperar o que já foi usado.

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Foto: Green Eletron

A mineração urbana busca explorar e recuperar recursos valiosos presentes nos resíduos descartados nas cidades. Enquanto a mineração tradicional extrai matérias-primas diretamente da terra, o conceito em questão concentra-se naquelas ocultas nos produtos descartados pela população, como plástico, vidro e metais ferrosos e não-ferrosos (ferro, ouro, prata, alumínio, cobre etc) reutilizáveis pela indústria.

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Para simplificar, enquanto a atividade realizada tradicionalmente foca nos minerais virgens, a mineração urbana recicla e coloca novamente em circulação esses materiais, a partir dos itens que foram entregues pelos consumidores após o uso. Quando eles são destinados inadequadamente (no lixo comum ou no meio ambiente), podem acabar indo para lixões ou descartados a céu aberto e com isso prejudicar a flora, a fauna e a saúde humana.

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Metais nobres recuperados a partir de smartphones que foram corretamente descartados. Foto: Natasha Olsen

É uma maneira de reduzir a dependência de recursos naturais e minimizar os impactos ambientais associados a ela. Em vez de depositar os resíduos no meio ambiente ou incinerá-los, o objetivo é recuperar os insumos, por meio de processos de reciclagem e reutilização.

Desafios da mineração urbana no Brasil

A implementação da mineração urbana no Brasil enfrenta diversos desafios. Um deles é a falta de infraestrutura adequada para a execução do processo. A coleta seletiva, por exemplo, ainda é incipiente em muitas cidades brasileiras, o que impede que os produtos sejam destinados para a reciclagem.

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Materiais retirados de resíduos eletroeletrônicos prontos para o processo de reciclagem. Foto: Green Eletron

Além disso, a conscientização da população sobre a importância da separação dos produtos e da reciclagem de lixo eletrônico também é um problema que precisamos – e devemos – enfrentar. A falta de informação e de educação ambiental contribui para que uma quantidade significativa de materiais recicláveis acabe misturada aos rejeitos orgânicos, o que impede a reciclagem.

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Outra dificuldade é a legislação ambiental e as regulamentações que envolvem a mineração urbana, ainda embrionárias. A falta de regras e metas claras e específicas sobre o assunto gera insegurança jurídica e dificulta a implementação de projetos neste sentido. Além disso, é um impulsionador de atividades informais e inseguras, já que o manuseio desse tipo de resíduo não é simples.

Segundo o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE), o Brasil gerou quase 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2019. Desse total, estima-se que apenas 3% tenham sido reciclados de forma adequada.

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Fonte: ACV Logística Reversa da REEE

No que se refere ao descarte ambientalmente correto e reciclagem dos aparelhos eletroeletrônicos e pilhas que não possuem mais utilidade, os dados também não são animadores. Segundo relatório produzido pela Universidade das Nações Unidas, apenas em 2019, o Brasil descartou mais de 2 milhões de toneladas, sendo que menos de 3% foi reciclado. Essa baixa taxa indica um enorme potencial para a implementação da mineração urbana, uma vez que a maior parte dos resíduos descartados nas cidades brasileiras ainda não é adequadamente aproveitada.

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Logística reversa incentiva a atividade

Uma das maneiras de ampliar o reaproveitamento dos insumos no Brasil é garantindo a viabilidade de sistemas de logística reversa, que ajudam a recuperar os materiais dos produtos, enviando-os para os profissionais capacitados para a reciclagem. As marcas podem optar por dois modelos: individual, aquele que cada empresa desenvolve por meios próprios, ou coletivo, no qual várias empresas se associam para ratear os custos do processo todo.

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PLanta de reciclagem de eletroeletrônicos da GM&C, parceira da Green Eletron, em São José dos Campos. Foto: Natasha Olsen

É o que acontece com os associados da Green Eletron, por exemplo, maior gestora de logística reversa deste tipo de resíduo no Brasil. Com milhares de Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) espalhados em todo o país, a entidade é responsável pela coleta e destinação correta de equipamentos eletrônicos e das pilhas descartados pela população, promovendo a reciclagem e a recuperação dos materiais mencionados anteriormente.

Quer saber onde descartar seus resíduos eletrônicos, pilhas e baterias? Clique AQUI.

Além disso, a Green Eletron desenvolve ações de educação ambiental, conscientizando a população sobre a importância da iniciativa. Por meio de parcerias com empresas, órgãos governamentais e instituições de ensino, a entidade busca a sensibilização da sociedade para a questão da mineração urbana e sua relevância para o meio ambiente.

Desde o início de suas atividades, mais de 6,5 mil toneladas foram destinadas corretamente pela organização. Apenas em 2021, das 715 toneladas de lixo eletrônico coletado, a Green Eletron conseguiu extrair mais de 313 toneladas de ferro. Foram recuperadas também cerca de 143 toneladas de plástico, o que fez com que 1,1 mil toneladas de CO2 deixassem de ser emitidas, o que mostra o potencial da mineração urbana no país.

Há muito espaço para crescer

Apesar dos desafios, a mineração urbana brasileira ainda tem muito espaço para crescer e se desenvolver. O país possui uma grande quantidade de resíduos urbanos que podem ser considerados verdadeiros depósitos de recursos valiosos. A sua recuperação tem o potencial de gerar benefícios econômicos, ambientais e sociais.

Do ponto de vista econômico, permite a obtenção de matérias-primas sem a necessidade de investimentos em grandes operações de extração convencional e predatória. A recuperação de metais preciosos, por exemplo, pode gerar receita adicional e reduzir a dependência de importações.

A atividade também contribui para a redução do impacto ambiental associado à extração desses insumos da natureza. Ao aproveitar aqueles que já foram explorados, evita-se a necessidade de retirar novas quantidades da terra, o que poupa os recursos naturais e diminui a disposição dos itens descartados no meio ambiente.

Por exemplo, o consumo energético e o uso de recursos hídricos são significativamente menores na reciclagem, em que os aparelhos devem apenas ser desmontados, triturados e separados por tipos, para depois serem encaminhados para indústrias que os transformarão em novos produtos. Isso também acontece porque 75% da energia e das emissões são gastas no preparo da matéria-prima e os outros 25% na produção de bens de consumo.

mineração urbana
Dados da Ellen MacArthur Foundation – em sua publicação Towards the circular Economy/2013. Imagem: Economia circular para um futuro sustentável, Carlos Ohde

Além disso, a mineração urbana pode gerar empregos e promover o desenvolvimento local. A implementação de projetos com esta finalidade requer mão de obra qualificada em áreas como engenharia de materiais, reciclagem e logística, o que ajuda impulsionar a criação de postos de trabalho e estimular a formação de profissionais especializados.

Para que o nosso país usufrua de todas essas vantagens, é essencial que haja investimento em infraestrutura, educação e legislação adequada. Dessa forma, o Brasil poderá se beneficiar dos recursos ocultos nas cidades, reduzindo a dependência de importações, minimizando o impacto ambiental e promovendo desenvolvimento econômico.