Plantas e abelhas ganham “cidadania” em subúrbio da Costa Rica
Na “Cidade Doce” os polinizadores estão no centro do desenho urbano.
Na “Cidade Doce” os polinizadores estão no centro do desenho urbano.
Enquanto alguns agentes públicos veem a conservação ambiental como empecilho para o desenvolvimento das cidades, outros mostram que o planejamento urbano pode sim beneficiar plantas, bichos e seres humanos. É o caso de Curridabat, um subúrbio da cidade de São José, capital da Costa Rica.
Desde 2015, a região segue um modelo de desenvolvimento sustentável que leva consideração que o que é bom para os polinizadores é bom para a população. A região se autointitulou “Cidade Doce” e trabalhou para merecer a alcunha.
Muito desse trabalho inovador de urbanismo deve-se ao ex-prefeito, Edgar Mora, que foi responsável por reconhecer todas as abelhas, morcegos, beija-flores e borboletas como cidadãos de Curridabat com papéis a desempenhar e direitos a serem respeitados. O título ainda foi estendido para árvores e plantas nativas.
“Os polinizadores são consultores do mundo natural, reprodutores supremos e não cobram por isso. O plano de converter todas as ruas em ‘biocorredores’ e todos os bairros em um ecossistema exigia um relacionamento”, contou Edgar Mora em entrevista ao The Guardian.
Ao colocar os polinizadores como o centro do desenho urbano, a gestão supera o “antagonismo entre cidade e natureza que caracterizou o desenvolvimento urbano tradicional. Historicamente, a América Latina importa modelos de desenvolvimento urbano que não correspondem à sua realidade ou necessidades”, diz um trecho do documento que apresenta o conceito da “Cidade Doce”.
Essa visão alterou os espaços urbanos de Curridabat. Deveriam ser reduzidos os congestionamentos, ampliadas as ciclovias seguras e promovida a arquitetura ambientalmente consciente. Foram criados corredores ecológicos para oferecer passagens seguras aos polinizadores e todo o planejamento passou a considerar os serviços ecossistêmicos fornecidos pelos polinizadores e pelas áreas verdes.
Como política pública, Curridabat estabeleceu a importância das infraestruturas verdes para reduzir a fragmentação e vulnerabilidade de habitats, conectar espaços importantes para a preservação da biodiversidade e conservação de espécies migratórias. Também para contribuir no enfrentamento aos desafios da crise climática e, por fim, melhorar a qualidade da paisagem urbana para maior bem-estar de seus habitantes.
A região possui ainda um plano específico de adaptação às mudanças climáticas, que inclui o plantio de espécies nativas, o foco em hortas urbanas, incentivo ao transporte alternativo; o manejo de silvicultura e arboricultura; o levantamento de dados para monitoramento de grupos de flora e fauna, entre outras medidas.
Um ponto bastante importante a se frisar é que a comunidade foi envolvida na elaboração do plano. Quem melhor para dizer o que funciona e o que não funciona do que os próprios moradores da cidade? Para tanto, foram realizadas uma série de oficinas de planejamento urbano para os residentes de Curridabat.
A gestão da cidade ainda criou um Guia de Plantas Doces. São sugestões de plantas nativas da Costa Rica, ou naturalizadas na região, para atrair polinizadores. O documento indica os cuidados necessários de cada espécie e os serviços ecossistêmicos que elas prestam, incluindo quem são seus agentes polinizadores, os dispersores de suas sementes e quais benefícios eles trazem para as pessoas.
“Com um gesto humilde e simples, podemos dar aos polinizadores seu lugar de direito nesta cidade. Se você plantar, verá que um dia uma borboleta, uma abelha nativa ou um beija-flor se aproximarão”, diz o documento que pode ser acessado aqui.
Assim como o CicloVivo já trouxe aqui, mais árvores significam mais economia para a saúde física e mental e isso ocorre de diversas formas: pela redução do estresse, redução de internações pela poluição do ar pode impactar até mesmo a segurança pública dos bairros. A polinização das abelhas, por sua vez, é essencial para a produção de alimentos. Outro aspecto interessante, ainda pouco falado, é a importância das flores silvestres. Saiba mais sobre este tema aqui: Abelhas e flores silvestres voltam aos canteiros da Inglaterra.