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6 projetos de urbanismo com soluções baseadas na natureza

A natureza é a protagonista em soluções eficientes para melhorar a qualidade de vida em diferentes cidades do mundo

parque Qunli
O Parque Qunli resolveu o problema de enchentes, a escassez hídrica e trouxe opções de lazer para a população. Foto: Turenscape

Com as mudanças climáticas eventos extremos naturais extremos estão se tornando cada vez mais comuns, em diversas partes do mundo. Enchentes, queimadas, ondas de calor, aumento do nível do mar e outras consequências do aquecimento global podem afetar mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo, custando às cidades 1 bilião de dólares por ano até meados do século.

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Com a população se concentrando cada vez mais nas cidades, as soluções para diminuir o impacto destes eventos climáticos nos centros urbanos são fundamentais – e a natureza traz uma série de alternativas para combater e mitigar a emergência climática.

parque linear méxico
Parque linear no Mèxico diminuiu as temperatura média em 5%. Foto: Onnis Duque

Esta é a ideia por traz das Soluções Baseadas na Natureza (SBN): usar o que acontece em ecossistemas equilibrados como uma ferramenta para lidar de forma mais sustentável com os desafios ambientais: jardins que absorvem água da chuva, vegetação que ameniza a temperatura em ilhas de calor, árvores que limpam o ar e agricultura urbana são alguns exemplos.

Além de reconectar as pessoas que vivem nas cidades com a natureza e seus ciclos, estas soluções são eficientes e muitas vezs mais baratas do que “novas tecnologias”. Para mostrar como as soluções baseadas na natureza funcionam, separamos alguns projetos urbanos que ajudam a superar diferentes desafios ao redor do mundo.

Parque Bishan-Ang Mo Kio, Singapura

Há algumas décadas, o rio Kallang foi canalizado em Singapura, criando um canal linear que separava o parque e a comunidade. Com extrema necessidade de uma atualização, o canal de concreto poderia ser redesenhado, mas a agência nacional de recursos hídricos de decidiu naturalizar o rio restaurando o leito e a planície de inundação originais. O canal reto de drenagem de concreto com 2,7 km de extensão foi demolido e transformado em um sinuoso rio natural de 3,2 km de extensão.

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A natureza ocupou novamente o seu espaço e o resultado é uma área verde que ajuda a prevenir enchentes, absorvendo a água da chuva.

parque linear
Antes e depois, com a natureza retomando seu espaço. Foto: Atelier Dreiseit

A combinação de materiais naturais, técnicas de engenharia civil e plantas capazes de filtrar e absorver água foi essencial para estabilizar as margens dos rios e prevenir a erosão. A qualidade da água, agora cercada pela vegetação também melhorou e o rio beneficia a qualidade de vida da população.

Uma análise de custo-benefício realizada pela Universidade Nacional de Singapura revelou que que a reconstrução do canal custaria cerca de US$ 94 milhões. A naturalização, por outro lado, custou pouco menos de US$ 50 milhões de dólares e contribuiu ainda mais para expandir e reconectar as áreas do parque à cidade.

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Além de todos os benefícios ambientais decorrentes da melhoria da gestão das cheias e da qualidade da água, e do impacto positivo no bem-estar físico e mental das pessoas ao aproximá-las da natureza, esta SBN também ajudou a cidade a economizar dinheiro público.

Parque em Singapura. Foto: Atelier Dreiseit

Corredores Verdes, Colômbia

Assim como muitas cidades ao redor do mundo, Medellín, na Colômbia, enfrentava as consequências de ilhas de calor que prejudicavam a saúde da população. A solução veio da natureza as margens de 18 estradas e 12 hidrovias foram transformadas em Corredores Verdes criados com o plantio de árvores ao longo de vias, já que as ilhas de calor urbanas são agravadas em grande parte pelo excesso de concreto e asfalto.

A Avenida Oriental, uma das vias mais movimentadas da cidade, ganhou 2 quilômetros de jardins. Mais de 600 árvores, palmeiras e milhares de plantas menores de espécies cuidadosamente selecionadas foram plantadas.

corredores verdes medellin
Árvores em Medellin. Foto: ACI Medellin

As árvores também trouxeram a vida selvagem de volta: hoje é comum ver diversos pássaros, como periquitos e papagaios, borboletas e até esquilos no meio da cidade.

A iniciativa centrou-se nas zonas que mais careciam de espaços verdes e conseguiu reduzir a temperatura do ar em mais de 2°C. O projeto Green Corridor ganhou o prêmio Ashden Award for Cooling by Nature 2019, apoiado pelo Programa de Eficiência de Resfriamento de Kigali.

Jardins de Chuva, Brasil

Outro problema causado pelo excesso de asfalto e concreto é a baixa permeabilidade das áreas urbanas. A água da chuva não chega ao solo, se acumula e acontecem as enchentes. Para absorver esta água nas cidades, uma solução simples e super eficientes são os jardins de chuva, projetados especificamente para receber e tratar o escoamento urbano com plantas, pedras e outros elementos naturais ou de engenharia. Os sólidos suspensos são filtrados da água à medida que ela desce pelo solo e pelas raízes das plantas intercaladas.

jardim de chuva
Jardim de chuva no Rio de Janeiro. Foto: Luiz Franco

Esses jardins podem ser executados próximos a calçadas, estradas, canteiros ou até mesmo dentro de lotes. Um exemplo é primeiro jardim de chuva da cidade do Rio de Janeiro, instalado no Centro Cultural Fundição Progresso. Cerca de 200 metros quadrados de asfalto foram substituídos por uma área verde. Cecilia Herzog e Daniel Gabrielli, responsáveis ​​pelo projeto, afirmam que trazer a natureza de volta à vida urbana e aprender com ela, cooperando com todas as espécies e utilizando as técnicas da natureza em benefício da cidade, é um grande paradigma para o século XXI.

Parque Gran Canal, México

parque linear no méxico
Vista aérea do Parque Gran Canal, no Mèxico. Foto: Onnis Duque

A cidade do México é extremamente populosa e, com a concentração de pessoas, vem a preocupação com a qualidade de vida de toda esta gente. Para reduzir as ilhas de calor e aumentar a umidade relativa do ar, um grande parque linear foi a solução encontrada. Com o reflorestamento da área urbana e a restauração da permeabilidade do solo, a umidade relativa do ar aumentou em 16% e a temperatura média caiu 5%.

O parque oferece muitos benefícios ambientais, mas, além disso, simboliza a recuperação de um espaço negligenciado. Foi construído sobre a histórica estrutura do Grande Canal da capital, integrando mais de 70 mil metros quadrados de terreno. A intervenção teve como foco a recuperação da vegetação nativa e da mata ciliar do antigo canal, transformando a área em um espaço público 100% permeável.

Parque Qunli, China

Localizado bem no centro da cidade, o parque está rodeado por estradas e por grandes concentrações populacionais. Com isso, as fontes de água da região, classificada como zona úmida, estavam secando. A estratégia dos urbanistas foi transformar a região em uma “esponja verde”, um parque urbano de águas pluviais que não só resolve a questão hídrica como traz múltiplos benefícios para as comunidades no entorno.

parque para águas pluviais china
Foto: Turenscape

O projeto segue quatro diretrizes. Primeiro, a parte central da zona úmida foi deixada intacta, abrindo espaço para a regeneração natural. A segunda estratégia foi criar um anel de lagoas e montes em torno da antiga zona húmida, utilizando técnicas simples de corte e aterro, o que cria uma proteção natural e um filtro entre a natureza e a cidade. Terceiro, uma rede de caminhos e mobiliário urbano ao nível do solo, permitindo aos visitantes a experiência de caminhar pela floresta. E, finalmente, a quarta estratégia foi criar passarelas elevadas que conectassem os montes dispersos com plataformas e torres de observação da paisagem natural.

Esta solução baseada na natureza transformou a zona úmida num parque multifuncional de águas pluviais que absorve, filtra, armazena a água da chuva que se infiltra no aquífero, ao mesmo que traz novas experiências de lazer para a população.

parque de águas pluviais china
O parque reconecta a população com a natureza. Foto: Turenscape

Agricultura Urbana

Produzir alimentos em áreas próximas de onde as pessoas vivem diminui a pegada de carbono do transporte, o desperdício de alimentos neste processo e ajuda a garantir comida mais fresca e saudável. A agricultura urbana tem crescido em várias cidades, por iniciativas independentes ou até políticas públicas e é apontada como uma importante solução baseada na natureza.

Em São Francisco, nos Estados Unidos, a agricultura urbana em terrenos baldios recebe incentivos fiscais. Em Tóquio, foram inauguradas em 2014 cinco hortas comunitárias localizadas no topo de estações ferroviárias. Em Barcelona, ​​iniciativas independentes criaram grandes hortas em zonas periféricas abandonadas.

os tetos de construções urbanas podem ser transformados em hortas. Foto: popupcity.net

No Brasil, diversos terrenos ganharam um novo significado ao se transformarem em hortas comunitárias. Além da produção de alimentos, estes espaços ajudam a fortalecer laços sociais e melhorar a qualidade de vida e a saúde da população.

Um exemplo é a iniciativa Quintais Sustentáveis, no estado de Roraima, norte do Brasil. A horta é cultivada com os princípios da agroecologia e combina a segurança alimentar com geração de renda para pessoas vulneráveis. O programa educa as famílias na produção sustentável e as incentiva o comércio dos produtos nos mercados locais. A escolha das espécies cultivadas é decidia em parceria com a comunidade, que participa de pesquisas sobre hábitos alimentares.

horta em roraima
Horta do projeto Quintais Sustentáveis. Foto: Clarice Rocha

Com informações de Arch Daily