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Empresa brasileira recebe certificado de embalagem comestível

A OKA BIOEMBALAGENS desenvolveu potes, colheres, pazinhas e outros itens que ao invés de descartados, podem ser parte da refeição

embalagens comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens

Já imaginou que tudo o que compramos vem com materiais que protegem, conservam e apresentam os produtos? Sustentabilidade vai além do produto em si; inclui o que vem junto na conta. Das sacolas das roupas, aos potes dos alimentos e garrafas de bebidas. As embalagens têm um impacto enorme na pegada ecológica daquilo que consumimos.

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O mercado de embalagem do Brasil é um dos maiores do mundo e cresceu ainda mais durante a pandemia, impulsionado pelo aumento dos serviços de delivery e da demanda por eletrônicos. Uma rápida visita a uma cooperativa de reciclagem era suficiente para perceber que elas estavam operando no auge de sua capacidade.

Com o crescente volume de resíduos, acenderam-se os alertas vermelhos das consequências: aumento nos custos de logística, sobrecarga na coleta e pressão adicional sobre as cooperativas, tudo isso sem necessariamente resultar em investimentos adicionais. Portanto, a busca por embalagens mais ecológicas emergiu como uma tendência no mercado.

embalagens comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens

Uma das tendências notáveis é a produção de embalagens ecológicas e biodegradáveis, capazes de se degradar naturalmente por meio de processos orgânicos, promovidos pelo próprio ambiente em que estão inseridas. É a natureza mostrando o caminho, mais uma vez!

Nesse contexto, a OKA BIOEMBALAGENS foi a primeira empresa brasileira a receber o certificado de embalagem comestível, produzido com ingredientes locais e com um uso mínimo de água na sua produção. É isso mesmo, ao invés de descartar as embalagens, podemos comer potinhos e colheres. Os produtos são feitos de fécula de mandioca e têm um sabor neutro, para que possam ser combinados com diferentes sabores, dos doces aos salgados.

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Embalagens comestíveis, biodegradáveis e compostáveis, podem ser uma solução para o combate da poluição plástica, causada em grande parte por itens descartáveis. O material destes produtos também pode envolver sementes e tornar a regeneração e o reflorestamento de áreas degradadas mais eficientes: além do material se transformar num hidrogel  antes de se dissolver, pode conter elementos para adubação verde, nutrientes como substratos, biofertilizantes, biochar, etc..

Oka Bioembalagens cápsulas de sementes
Foto: Oka Bioembalagens

“Nosso produto é sempre alimento, se não para o consumo humano e animal, para a terra, um material que se integra ao ciclo de vida no planeta é um biomaterial, importante que seja compostado domesticamente para que seja amplamente empregado”, explica a ecodesigner Érika Cezarini, fundadora da OKA BIOEMBALAGENS.

A empresa vem desenvolvendo estas opções de materiais e embalagens mais sustentáveis há 10 anos. A Vivi Noda, da agência casoca, conversou com a Érika e compartilhamos com vocês esta conversa e a história deste negócio regenerativo.

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Vivi Noda Oka Bioembalagens
Vivi Noda experimenta a colherzinha da Oka Bioembalagens. Foto: Arquivo Pessoal
Vivi Noda: Erika, para começar, gostaria de saber como surgiu a ideia da Oka Bioembalagens há 10 anos. Quais foram os principais impulsionadores por trás da criação da empresa?

Érika Cezarini: A Oka nasceu na Desígnio, minha empresa de design. No ano 1999, iniciei um projeto chamado SICLO que tratava da questão da separação, coleta e destinação dos resíduos em empresas, condomínios e mobiliários urbanos, com foco no design e material dos coletores. O conceito do sistema era eliminar o uso de sacos plástico e os coletores serem a base de troca, como uma moeda de troca e patrocinado pelas empresas geradoras desses resíduos plásticos.  Naquele momento, além dos reciclados, estava pesquisando um biomaterial para coletar resíduos orgânicos. E foi, através de uma pesquisa realizada pela Marney Cereda do CERAT, da Unesp de Botucatu, que tomei contato com o potencial da mandioca para a fabricação de bioembalagens. Formalizei uma parceria a Unesp para ajudar no desenvolvimento e produção desse novo biomaterial. Esta foi uma pesquisa pioneira e em 2000 ja tinhamos as primeiras bandejas feitas com a fécula de mandioca e água na composição.

Vivi Noda: Como você percebeu a mudança de atitude dos consumidores brasileiros em relação a embalagens e sustentabilidade ao longo da última década? Quais são as principais diferenças que você notou?

Érika Cezarini: A grande maioria da população, não estava consciente do grande impacto que o consumo ilimitado de embalagens de origem petroquímica geraria em nosso planeta. Eu sentia que não havia, nesta época, muitos interessados em ouvir sobre alternativas às embalagens tradicionalmente utilizadas, a maioria não entendia o que era uma embalagem biodegradável. Nos últimos 5 anos ocorreu uma mudança gradativa no comportamento de consumo das pessoas e do entendimento sobre o ciclo de vida dos materiais. Hoje experiência de levar os produtos da Oka para uma feira ou um evento é muito gratificante e rapidamente as pessoas entendem que são 100% biodegradáveis e gostam da experiência de poderem comer a embalagem.

embalagens comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens
Vivi Noda: Ao longo dos anos, quais foram os principais aprendizados que você e sua equipe obtiveram ao trabalhar na interseção entre inovação sustentável e alimentação?

Érika Cezarini: O setor de embalagens para alimentos precisa de escala na produção para ser competitiva com outros materiais, pois o mercado utiliza uma ampla variedade de embalagens, mas as de uso único ou ciclo rápido, possuem baixo custo, embora sua decomposição leve décadas ou até séculos, ou gerarem microplásticos neste processo.

Para o setor de embalagens técnicas o grande desafio é o custo dos moldes, pois cada produto necessita de um formato exclusivo ou personalizado e principalmente os produtos “verdes” muitas vezes não tem a escala produtiva que absorveria o custo de investimento no ferramental para sua produção.

Por isso, hoje nosso modelo de negócios é de licenciamento industrial da produção de bioembalagens para o setor alimentício, buscando escala e preço competitivo e de forma distribuída porque outro desafio é a logística, por ser um material leve mas volumoso facilmente o transporte supera o valor do produto.

O licenciamento da tecnologia pode acontecer dentro da planta de clientes que desejam produzir suas próprias embalagens, com preço de custo, eliminando o custo de transporte e necessidade de estoque, ou seja, sob demanda. Hoje desenvolvemos equipamentos capazes de suprir esta demanda de produção de bioembalagens de forma modular, e com produção limpa.

Vivi Noda: Como a marca enxerga o seu papel no impulsionamento de práticas mais sustentáveis na indústria de alimentos? Existe uma missão maior que orienta o trabalho da empresa (aqui fale um pouco sobre o propósito)?

Somos uma empresa que desenvolve e produz embalagens inovadoras, com todas as premissas de sustentabilidade, gerando uma cultura regenerativa e promovendo uma economia circular. Geramos valor às marcas que utilizam nossas embalagens, através de um produto regenerativo com a menor pegada hídrica do mercado.

Nosso propósito é contribuir para um planeta livre de poluentes ambientais, tornando as bioembalagens acessíveis ao mercado. Este ano iremos iniciar uma modalidade de licenciamento que sempre foi o meu sonho desde o início que é trabalhar com comunidades, ou seja uma produção social, adicionando resíduos gerados por essas comunidades ao biomaterial a base de mandioca, apoiando comunidades rurais, agrícolas e extrativistas.

embalagens comestíveis
Fotos: Oka Bioembalagens
Vivi Noda: Vivemos a crise do uso de plástico e o aumento do desperdício, ainda assim, muitas empresas enfrentam desafios ao adotar embalagens eco-friendly devido a custos e logística. Como a marca enfrenta o desafio da conveniência e do custo para garantir que seus produtos sustentáveis sejam acessíveis e práticos para os consumidores?

Érika Cezarini: Acreditamos em um modelo de negócio em rede e descentralizado, fractal. Onde os clientes podem adquirir um licenciamento para a produção das embalagens e assim verticalizar sua própria produção, resolvendo gargalos de custo e logistica. Estamos também realizando o desenvolvimento de fábricas modulares móveis que podem realizar a produção in loco, evitando o alto custo de transporte das embalagens. Este modelo pode ser aplicado em regiões de difícil acesso como na Amazônia ou para eventos e produções esporádicas.

Vivi Noda: Como a Oka Bioembalagens escolhe os ingredientes brasileiros para suas embalagens comestíveis, e como isso contribui para o desenvolvimento sustentável local?

Érika Cezarini: Hoje estamos desenvolvendo um projeto piloto para a produção social de bioembalagens com uma Associação comunitária na cidade de Lábrea no estado do Amazonas, Nesta produção, serão incorporadas à biomassa, até 40 % de resíduos naturais gerados de atividades agroextrativistas realizadas pela associação na cadeia produtiva de polpas de frutas e óleos Amazônicos.

Uma das principais dificuldades enfrentadas no processo de desenvolvimento industrial da área de processamento de frutas e castanhas está justamente associado ao percentual de resíduos orgânicos oriundos dessas atividades.  Segundo dados do IBGE de 2021, a produção por cultivo de açaí foi estimada em 1,5 milhões de toneladas e para a produção da polpa aproveita-se no máximo 15% do fruto açaí (a polpa), já que a sementes (caroço e fibra) equivalem a cerca de 85% da massa do fruto, o que resulta na geração de cerca de 1 milhão de tonelada de resíduo sólido orgânico, descartado em sua grande maioria de forma inadequada na natureza.

embalagens comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens

A produção de bioembalagens a base de fécula de mandioca com a incorporação de resíduos oriundos de atividades agroextrativistas irá gerar um produto inovador, com volume de produção que poderá gerar empregos e renda a esta comunidade, além de valorizar os produtos locais gerando mais margem e mercado para os produtos amazônicos.

Hoje já incorporamos fibra de pupunha em todos os produtos da nossa linha, esta fibra longa, que é um resíduo ajuda a deixar a embalagem ainda mais resistente e também ajuda na barreira de umidade, e é uma fibra de uma espécie nativa assim como a mandioca.

Vivi Noda: Você poderia compartilhar algumas histórias de sucesso de restaurantes ou empresas que adotaram as embalagens comestíveis e experimentaram benefícios sustentáveis tangíveis?

Érika Cezarini: O SMUV, um pequeno estabelecimento que nasceu no Jardins em SP fez muito sucesso servindo smoothies incríveis, num ambiente agradável, mas o apelo mais relevante é que adotaram um copo tipo bowl de 500 ml comestível e foi o primeiro a ter a fibra de pupunha na composição. Além do consumo no local também faziam delivery pelo bairro e foi nossa melhor vitrine em termos de design. O desenvolvimento do produto teve a participação da Tatil design, mas durou poucos anos, pois o proprietário que é americano vendeu o negócio e se mudou de volta para os EUA. Hoje ele, o Zak Tyler está de volta no Brasil e é nosso parceiro na implementação de biocápsulas para reflorestamento e regeneração de áreas degradadas, que é um produto novo que estamos testando em parceria com instituições e com clientes, no campo.

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Foto: Oka Bioembalagens

A ALBERO DEI GELATTI, também em SP, já tem 3 lojas em diferentes bairros e tem um gelato agrícola, que apoia pequenos produtores e usa insumos de qualidade na produção dos gelatos, além, é claro dos copinhos comestíveis que as crianças amam.

A WOWPET Food que produz snacks saudáveis para cães e gatos e lançou com nossa biocápsula um snack/brinquedo, os Weegs, uma bolinha que tem dentro legumes e carnes e que tem feito muito sucesso desde o seu lançamento. Para gatos, incorporamos o catnip na biomassa das cápsulas.

A DUMATO que criou uma linha de cosméticos veganos e sólidos e utiliza um berço para os shampoos e alguns sabonetes de sua linha.

Vivi Noda: À medida que a conscientização ambiental cresce, como você vê o futuro das embalagens sustentáveis? Quais inovações a Oka Bioembalagens planeja trazer para o mercado?

Érika Cezarini: Existe uma tendência dos consumidores em consumir produtos que não geram impactos ambientais, O consumo de embalagens já está sendo influenciada por esta nova cultura de clientes que não aceitam sacolas plásticas em supermercados, canudos em restaurantes, ou copos de plásticos. A tendência é um aumento da conscientização e consequentemente uma incorporação de diferentes modelos de embalagens para os mais diversos usos e distintas funcionalidades no cotidiano destas pessoas.

Hoje estamos desenvolvendo inovação em nossas embalagens, com parcerias estratégicas, como a incorporação de barreira de umidade com eficiência para as nossas embalagens sem a geração de microplásticos. Também realizamos testes sobre a resistência mecânica e capacidade de empilhamento das embalagens e mais recentemente laudos que certificam que nossas embalagens são aprovadas para o consumo humano.

Desejamos ir além de propor materiais e processos, mas criar design e experiências para atrair e conquistar clientes em diferentes setores e mercados.

embalagens comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens
Vivi Noda: Sabemos que você é pioneira no Brasil em embalagens comestíveis. Como você acha que essa iniciativa pode inspirar outras empresas e até mesmo moldar políticas governamentais? É possível zerar embalagens descartáveis?

Érika Cezarini: Acredito que temos hoje uma gama enorme de biomateriais para zerar a produção de embalagens plásticas de ciclo rápido, mas precisa de apoio e incentivos para isso, seja de impostos, legislação, acesso à crédito e principalmente adoção pelos próprios órgãos do governo adotarem esses materiais e práticas como exemplo.

Vivi Noda: Quais são os maiores desafios que você enxerga para o mercado de embalagens sustentáveis e quais são as próximas metas da empresa?

Érika Cezarini: Existe um grande desafio ainda para a mudança da cultura do consumidor em escala global. Entendemos também, que somente o uso em grande escala das bioembalagens tornará economicamente viável o uso delas pelos setores da sociedade menos favorecidos economicamente;

Mas a transformação já começou. As pessoas cada vez mais exigem modelos mais sustentáveis de negócios e estão mais conscientes sobre a origem dos produtos que consomem e o destino que os resíduos terão, hoje queremos ajudar a clamar por uma cidadania mais consciente e participativa, que não aceitam qualquer coisa que oferecem, que escolhe onde vai consumir e apoiam negócios regenerativos, como o nosso.

embalagens comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens
Vivi Noda: Em relação à regulação governamental, você acredita que políticas mais rigorosas sobre plásticos e embalagens estão no horizonte? Como a Oka Bioembalagens conseguiu aprovação para ser uma embalagem comestível?

Érika Cezarini: Já existem projetos de lei para reduzir o lixo plástico de descartáveis, como ja aconteceu com sacolas plásticas no passado, as a questão é implementação dessas leis no Brasil, assim como da logística reversa até hoje muito pouca coisa de fato existe e em geral é quanto torna-se lucrativo o resíduo que se implementa esses processos.

Espero e acredito que com essas novas demandas e exigências ESG essas mudanças aconteçam mais rapidamente, assim como as mudanças no clima e desequilíbrios ambientais tem feito mais gente se dar conta da nossa responsabilidade.

embalagens comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens

Acredito que foi tão didático no período da pandemia, que só de baixar o consumo por um período curto de tempo, quanta mudança aconteceu, despoluição de rios, fauna mais integrada ao ambiente, a vida brotava enquanto estávamos trancados em casa. Impressionante que não aprendemos nada com isso, o quanto nosso estilo de vida está pesado para a Terra.

Vivi Noda: Por fim, qual é a mensagem que você gostaria de transmitir para os consumidores e empresas que estão buscando alternativas sustentáveis? Como eles podem fazer a diferença no cenário das embalagens eco-friendly?

Érika Cezarini: Gostaria de convidar a todos vocês para realizar a experiência de utilizar nossas embalagens. Garantimos que será uma experiência inusitada e até divertida. Vocês já se imaginaram comendo a embalagem que armazena e protege seu alimento? As crianças sempre acham incrível esta experiêncial!

O consumo das  bioembalagens da Oka trazem muito mais que a experiência sensorial, traz a consciência do ciclo de vida dos produtos e uma sensação de bem estar e satisfação pela certeza da escolha certa e de estar contribuindo para a melhoria da qualidade de vida de nosso planeta.

embalagens plantáveis e comestíveis
Foto: Oka Bioembalagens