Casa-caçamba? Ideia inusitada tem resultado surpreendente

Encontrar um lugar para viver, em um bairro legal da sua cidade, sem pagar caro é um desafio comum para pessoas no mundo inteiro. Para o arquiteto Harrison Marshall a busca é ainda mais complicada porque ele vive em Londres, uma cidade com um custo de vida bem alto e um mercado imobiliário inflacionado. O que diferencia o caso de Marshall é que ele encontrou uma solução inusitada: construiu uma casa dentro de uma caçamba e vive em um bairro valorizado, pagando cerca de R$ 350 de aluguel por mês.

Esta história começou quando ele decidiu voltar para a Inglaterra depois de trabalhar na América Central e no Sudeste Asiático por um ano. Harrison descobriu que para morar em Southwark, um bairro no sul de Londres, pagaria cerca de R$ 9,3 mil de aluguel por um apartamento pequeno – valor bem acima do que ele possuía.

Com 28 anos, conhecimento em design e arquitetura e decidido a se manter no bairro que gostava, Marshall começou a estudar a possibilidade construir uma casa em uma caçamba – uma inovação que vai muito além das casas em contêiner.

Quando a criatividade encontra a oportunidade

O jovem arquiteto é co-fundador do CAUKIN Studio e realizou um projeto com a SKIP Gallery em que artistas emergentes usavam caçambas como base para criar obras de arte. Por causa disso, a Antepavilion uma ONG que trabalha com projetos de arte, ficou então sabendo da ideia de Marshall e decidiu conceder um terreno para que ele instalasse o seu projeto, justamente no bairro de Southwark.

Com isso, o único gasto com a nova moradia seria a construção em si, alguns serviços básicos e o aluguel da base da caçamba, pago à uma empresa que faz gerenciamento de resíduos. O próximo passo foi começar a construção.

Casa pronta em 3 semanas

A construção da “casa-caçamba” começou em dezembro de 2022 e durou apenas 3 semanas. Como Marshal já havia trabalhado em alguns projetos de mini casas, não teve dificuldade em desenhar seu novo lar. Tinha também todas as ferramentas e fornecedores e, melhor ainda, muitos amigos que abraçaram a ideia e se tornaram a mão de obra perfeita.

A casa custou cerca de R$ 25 mil, sendo R$ 23 de gastos com materiais e R$ 2 mil com os poucos móveis que a casa comporta. “Usei minhas economias para financiar as despesas e paguei ainda pelo transporte da caçamba”, conta Marshall.

Estilo de vida minimalista e feliz

“Minha conta de luz é tão pequena que está incluída no patrocínio do meu terreno, e meu abastecimento de água consiste em uma mangueira cedida pelo vizinho. Para Wi-Fi, uso um dongle conectado a dados móveis para assistir à Netflix e atender chamadas de Zoom no meu laptop”, contabiliza o arquiteto. No total, são gastos cerca de R$ 100 por mês com estes serviços básicos.

Para aproveitar ao máximo o interior da casa, ele precisou criar um espaço bastante funcional, afinal são apenas 7,5 metros quadrados. As roupas e outros pertences ficam guardadas em quatro caixas de madeira embutidas. “Sempre tive um estilo de vida minimalista e viajei muito a trabalho, então ter pouco espaço de armazenamento não foi um problema para mim. Não precisei doar nenhum item”, garante.

A cama elevada fica em uma espécie de mezanino. A cozinha tem uma minigeladeira portátil, uma pia pequena e um fogão de indução.  As janelas em ambos os lados da casa fornecem muita luz natural e ventilação, tornando o espaço menos claustrofóbico.

O maior inconveniente talvez seja o banheiro, localizado do lado de fora. “Preciso sair de casa toda vez que uso o banheiro. Como não tem chuveiro, estou tomando banho no trabalho e na academia. E lavo a roupa em uma lavanderia”, conta Marshall.

Vivendo na sua casa-caçamba há quase seis meses, ele diz que está se adaptando bem ao novo estilo de vida. A localização é realmente um diferencial já que ele vai e volta do trabalho de bicicleta e aproveita a vida do bairro com os amigos.

O maior desafio, confessa, tem sido a “fama” já que muitas pessoas souberam do seu projeto inusitado e passam para ver a casa de perto. “Com seus altos e baixos, transformei minha situação de vida em uma obra de arte. Ele chama a atenção para o absurdo da crise imobiliária de Londres de uma forma que faz as pessoas sorrirem e pensarem”, avalia.

Apesar de estar aproveitando muito bem a experiência, ele diz que teve sorte por receber tanto apoio e não recomenda que outras pessoas façam o mesmo sem o devido planejamento. Marshall diz que pretende se mudar, mas que não vai trocar a vida na casa caçamba por qualquer apartamento pequeno, caro e sem graça.

Quer saber mais? Acompanhe os perfis @caukinstudio e @theskiphouse no Instagram. Lá você vai conhecer melhor o trabalho de Marshal com projetos comunitários que ele e sua equipe já realizaram pelo mundo. Vai também acompanhar a rotina na pequena e engenhosa casa que ele construiu para viver.