Nova York legaliza compostagem de corpos humanos
Os restos mortais podem virar adubo por meio de uma aceleração natural
Os restos mortais podem virar adubo por meio de uma aceleração natural
No último sábado (31), Nova York legalizou o método funerário ecológico definido como Redução Orgânica Natural ou, como é mais comumente conhecido, “compostagem humana”. Já aprovado em Washington, Oregon, Vermont, Colorado e Califórnia, NY é o sexto estado dos EUA a aderir.
A lei, aprovada pela governadora Kathy Hochul, foi inserida entre as medidas do estado para eliminar as emissões de carbono até 2050.
Agora os nova-iorquinos poderão transformar restos mortais de humanos em composto para adubo por meio de uma aceleração natural. A técnica consiste em inserir o corpo em um “recipiente” com material orgânico, como palha, alfafa ou serragem. A caixa então é lacrada e conectada a um sistema AVAC (aquecimento, ventilação e ar condicionado) e os restos podem se decompor naturalmente. Em 30 dias, o conteúdo é analisado e, passado mais 30 dias, o material resultante é um solo rico em nutrientes que é devolvido à família.
Entre as possibilidades mais difundidas da destinação final desse processo é usar o composto para plantar árvores ou fertilizar áreas já plantadas, ou seja, o ente pode voltar literalmente à terra. É uma forma poética de eternizar-se neste mundo.
Para além da mística, o método é ainda uma alternativa aos impactos ambientais causados pelos serviços funerários tradicionais, como o enterro e a cremação. Entre os problemas do sepultamento comum, podem ser citados: a contaminação do solo (e dos lençóis freáticos) por necrochorume, a contaminação por meio dos metais pesados das alças dos caixões e o vazamento de gases sulfídricos por má confecção e manutenção de sepulturas e jazigos.
Um estudo comparativo do impacto ambiental entre cremação e sepultamento, da bacharel em Engenharia Ambiental Gabriela Cavion, aponta que uma vantagem da cremação é não gerar poluentes líquidos, mas, por outro lado, o processo gera emissões atmosféricas, ainda que em baixas concentrações.
A Return Home, empresa funerária que oferece o serviço de compostagem humana nos EUA, estima que o sistema é cerca de 90% mais limpo em comparação à cremação onde são gastos “135 litros de combustível e lançados 245 kg de CO2 para a atmosfera”.
Mesmo com os benefícios listados, a opção de converter humanos em composto ainda é um tabu e enfrenta resistência religiosa nos Estados Unidos. Segundo o The Guardian, a Conferência Católica do Estado de Nova York encorajou os fiéis a pressionarem a governadora para vetar o projeto de lei sob o argumento de que o processo “não presta o respeito devido aos restos mortais”. Mesmo com origem irlandesa e católica, Kathy Hochul não cedeu.
Aqui no Brasil a alternativa ainda não é sequer cogitada, porém Ivan Miziara, médico associado de Medicina Legal da FMUSP (Faculdade de Medicina da USP) também vê como entrave os hábitos culturais e religiosos do país. Por outro lado, transformar cinzas humanas em adubo para o plantio de árvores é uma opção mais comum e já encontrada em diversos cemitérios brasileiros.