Áreas verdes melhoram a saúde em nível celular

Novo estudo revela efeito positivo da vegetação em marcador genético associado à exposição ao estresse

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Foto: Diana Simumpande | Unsplash

Passar um tempo na natureza traz diversos benefícios para o bem-estar mental, como tem sido comprovado pela ciência. Mais recentemente, as pesquisas caminham para trazer respostas mais concretas sobre a forma como tais vantagens acontecem e exemplo disso é um novo estudo que descobriu que os espaços verdes têm um efeito positivo sobre um importante marcador genético relacionado à exposição ao estresse.

Os marcadores em questão são os telômeros, que são fileiras repetitivas de proteínas e DNA encontradas em cada extremidade de um cromossomo e que servem para proteger as extremidades dos cromossomos contra danos. No entanto, cada vez que uma célula se divide, os telômeros dentro dessas células tornam-se ligeiramente mais curtos. Quando os telômeros se tornam tão curtos que a célula não consegue se dividir com sucesso, a célula morre.

“Isso torna os telômeros marcadores importantes da idade biológica, ou do grau de desgaste de nossas células”, diz Scott Ogletree, autor correspondente de um artigo sobre o estudo e ex-pesquisador de pós-doutorado no Centro de Análise Geoespacial da Universidade Estadual da Carolina do Norte. “E sabemos que muitas variáveis – como o estresse – podem influenciar a rapidez com que os nossos telômeros se desgastam”, completa.

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O potencial benéfico da natureza para a saúde mental vem sendo evidenciado em pesquisas recentes. | Foto: Josephine Baran | Unsplash

Realizado por um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual da Carolina do Norte, nos EUA, o estudo analisou dados de 7.827 pessoas. Foram avaliadas a quantidade de espaços verdes na vizinhança de cada pessoa e como isso se relacionava com o comprimento dos telômeros.

Os pesquisadores também levaram em conta possíveis variáveis, como estilo de vida, histórico de saúde e uso de substâncias. Além disso, também identificaram um conjunto de outras variáveis ambientais que podem afetar o comprimento dos telômeros, tais como a qualidade do ar e mapas de “linha vermelha” que rastreiam bairros historicamente segregados.

“Descobrimos que quanto mais espaços verdes as pessoas tinham nos seus bairros, mais longos eram os seus telômeros”, diz Aaron Hipp, coautor do estudo e professor de gestão de parques, recreação e turismo na Universidade da Carolina do Norte. “Isso era verdade independentemente da raça, situação econômica, se bebiam ou fumavam”, garante o pesquisador que é também diretor associado de aplicações de ciências sociais e comportamentais no Centro de Análise Geoespacial do Estado da Carolina do Norte.

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Foto: Larm Rmah | Unsplash

Outro estudo recente aponta um cálculo preciso: pessoas que vivem próximo de espaços verdes podem ser biologicamente 2,5 anos mais jovens, em média, do que aquelas que moram longe.

Benefícios limitados

Pesquisas como estas reforçam a importância de investir em jardins e na vegetação em parques, no entanto, este último estudo em específico revela também que o impacto positivo pode ser limitado, de forma a não compensar outros desafios ambientais, como a poluição atmosférica.

Aaron Hipp ressalta que muitas pesquisas abordam os efeitos adversos à saúde associados à poluição, à segregação racista na habitação e a outros desafios sociais e ambientais. O novo estudo foi justamente uma “tentativa de quantificar os impactos benéficos dos espaços verdes a nível celular e até que ponto os espaços verdes podem ajudar a compensar os danos ambientais”, afirmou. O balanço não foi positivo.

“Quando levamos em conta outras características de cada bairro – poluição do ar, segregação ou ‘privação’ – o efeito positivo do espaço verde essencialmente desapareceu. A privação, neste contexto, era uma variável abrangente que incluía dados ao nível do bairro sobre rendimento, educação, situação profissional e condições de habitação. Em outras palavras, embora os espaços verdes pareçam ajudar a proteger o comprimento dos telômeros, os danos de outros fatores parecem compensar essa proteção”, explica Scott Ogletree.

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Foto: Pixabay

“O espaço verde é tremendamente valioso para uma comunidade, mas não é suficiente para superar o racismo sistêmico e os efeitos da segregação econômica e dos desafios de justiça ambiental por si só”, diz Hipp. “Este estudo reforça a ideia de que a criação de espaços verdes numa comunidade é importante, mas é igualmente crucial – ou mais crucial – para enfrentarmos os danos ambientais, especialmente aqueles ligados ao racismo sistêmico.”

A pesquisa é baseada em dados do National Health and Nutrition Examination Survey, estudo longitudinal que avalia a saúde da população dos EUA por meio de entrevistas e exames físicos. O artigo “A relação entre a exposição do espaço verde e o comprimento dos telômeros na Pesquisa Nacional de Exame de Saúde e Nutrição”, foi publicado na revista Science of the Total Environment.