microplástico no sangue
Foto: Marc Newberry | Unsplash

Além do plástico que vemos nas ruas, aterros sanitários e boiando nas águas de rios e oceanos, a poluição plástica inclui minúsculs fragmentos deste material que estão por toda parte. Um estudo publicado pela conceituada revista Nature revelou que mostra que microplásticos podem ser encontrados em todos os ambientes da Terra, desde os picos das montanhas até as profundezas dos oceanos.

Suas origens são diversas: embalagens, partículas no ar e a degradação de plásticos maiores, que, conforme se fragmentam, transformam-se em microplásticos. Essas partículas entram no corpo humano e já foram encontradas no sangue, placenta de mulheres grávidas e no coração de paciente cardíacos.

Recentemente, uma nova pesquisa descobriu microplásticos em testículos humanos. Publicado na Toxicological Sciences e conduzido por pesquisadores da Universidade do Novo México, nos EUA, o estudo analisou 23 testículos de homens e 47 de cães e partículas de plástico foram encontradas em todas as amostras.

Os testículos humanos examinados foram obtidos por meio de autópsias realizadas em 2016, em corpos de homens entre 16 e 88 anos. Já os testículos de cães foram obtidos em clínicas veterinárias após operações de castração.

homem cachorro
Foto: Charlie Green na Unsplash

O biólogo Paulo Jubilut explica que os fragmentos chegam ao nosso corpo pelo ar e pela cadeia alimentar. Um estudo da Universidade de Auburn, nos EUA, revelou que a dieta é a principal fonte de ingestão de microplásticos, com uma média anual de 39.000 a 52.000 fragmentos por pessoa.

Além disso, uma pesquisa da Associação Americana do Meio Ambiente detectou microplásticos na água potável de torneiras em todo o país. Ou seja, a poluição plástica está na água que bebemos, nos alimentos que consumimos e no ar que respiramos.

A Universidade Cornell mapeou a absorção de microplásticos em 109 países, destacando que Indonésia, Malásia e Filipinas lideram no consumo via dieta, enquanto China, Mongólia e Reino Unido apresentam altas taxas de inalação dessas partículas.

Os cientistas ainda estão desvendando os efeitos dos microplásticos no corpo humano. “Já foram encontrados no sangue, pulmões, placenta e até no coração. Pesquisas indicam que esses fragmentos podem causar reações alérgicas, morte celular e interferir no desenvolvimento de células-tronco pulmonares. Embora os estudos sejam preliminares, há preocupações de que possam provocar inflamações e até câncer”, alerta Jubilut.

Urgência em combater a poluição invisível

Além dos impactos à saúde, os microplásticos têm consequências devastadoras para o meio ambiente. Estima-se que, todos os dias, 2 mil caminhões de lixo cheios de plástico sejam despejados em oceanos, lagos e rios. “Essa poluição prejudica mais de 700 espécies marinhas e afeta a fotossíntese do fitoplâncton, base da cadeia alimentar marinha”, explica Jubilut.

microplásticos em algas microscópio
Imagem de microscópio com
microplásticos encontrados em algas Melosira arctica, Foto: Alfred Wegener Institute

Desde 1950, 8,9 bilhões de toneladas de plástico foram produzidas, mas metade dessa quantidade foi gerada somente a partir de 2004, com apenas 9% sendo reciclado globalmente. A decomposição do plástico pode levar séculos, durante os quais se fragmenta em microplástico.

Para mitigar esse problema, é crucial desenvolver produtos reutilizáveis, criar leis para garantir a reciclagem e o retorno do plástico, e investir em biotecnologia para degradar o plástico existente. Produtos biodegradáveis e a eliminação de plásticos de uso único também são passos importantes.