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O que é energia renovável?

Ricardo Gedra, da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, define energia renovável e fala da sua importância no Brasil e no mundo

consumo energia
Foto: Pixabay

Utilizada desde o século XIX para os mais diferentes processos cotidianos da humanidade, a energia elétrica tornou-se insumo indispensável para a produção de bens, para a conexão entre as pessoas e para a garantia de uma vida confortável para a maior parte da população. Seu uso cada vez mais frequente, com perspectiva de crescimento intensificado no futuro, traz um desafio importante: como gerar mais eletricidade com o menor impacto climático e ambiental possível? As fontes renováveis, vinculadas à ideia de transição energética, se apresentam como a principal solução para esse dilema.

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Para uma definição simples, me refiro às tecnologias de geração de energia que utilizam recursos naturais, como a luz do sol, a força das águas, os ventos e combustíveis vegetais. São matérias-primas passíveis de recuperação, se houver uma intervenção sustentável do ser-humano, tornando-se potenciais substitutos aos combustíveis não renováveis, como os fósseis.

Observando os nossos últimos séculos de desenvolvimento, é possível identificar as duas primeiras revoluções industriais que estavam baseadas no emprego dos combustíveis não renováveis, como o carvão mineral e o petróleo, que apresentam uma característica adicional de emissão de gases que afetam o meio ambiente. Nos séculos XVIII e XIX essa questão não era um problema, porém, ao longo do século XX, a comunidade científica começou a observar que a utilização em larga escala desses recursos estava causando algum impacto ao planeta, o agora conhecido efeito estufa.

Em 1972, foi a primeira vez que representantes da maior parte dos países se reuniu para debater o tema na Conferência de Estocolmo, nascendo ali a Conferência das Nações Unidas sobre o meio ambiente, fórum que atualmente se reúne todo final de ano em um grande evento denominado COP.

poluição do ar mortes
Termoelétrica a carvão. Foto: Pixabay

Esse movimento ganhou força nos anos seguintes, impulsionado principalmente pelos debates que deram muito mais luz à pauta de sustentabilidade, com o mundo inteiro preocupado em reduzir as emissões de gases causadores das mudanças climáticas e com uma sociedade cada vez mais crítica. Além de ser visto como uma questão de sobrevivência da humanidade, esse momento de virada de chave atraiu olhares de muitos investidores para soluções em energia renovável, tornando o segmento atrativo para os negócios.

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Foi o pontapé inicial para um novo capítulo do setor elétrico mundial, que tirou do papel os primeiros projetos para grandes empreendimentos de geração eólia e solar em vários países, até mesmo no Brasil, e deu início às primeiras iniciativas de uma mobilização global, que hoje chamamos de transição energética.

Essa mudança fica clara quando olhamos para os números, que inclusive colocam o Brasil como um dos protagonistas dessa transição. De acordo com a CCEE, operadora do setor elétrico brasileiro, em 2022, dos quase 70 mil megawatts médios gerados para a população, 92% vieram de fontes renováveis, ou seja, produzidos por usinas hidrelétricas, eólicas, solares e a biomassa, que tem a cana-de-açúcar como principal matéria-prima. Somadas as capacidades instaladas desse tipo de fonte, temos hoje uma potência de mais de 164 mil megawatts, volume equivalente a mais de 11 usinas do tamanho de Itaipu.

O Brasil encerrou 2022 com 2.548 usinas, com 95% delas utilizando fontes renováveis. Em uma análise dos últimos 10 anos, a organização observou um crescimento de 70% no número de usinas hidrelétricas, mas o que mais chamou a atenção foi o avanço das usinas eólicas, que cresceram mais de sete vezes, alcançando o posto de segunda principal fonte de produção de eletricidade do país. Também é importante apresentar um destaque para a fonte solar fotovoltaica, que há uma década era inexistente e hoje já representa quase 4% da matriz energética brasileira, quando observada as usinas de grande porte.

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energia renovável g20
Foto: Red Zeppelin | Unsplash

É importante destacar que esses números estão relacionados as usinas de grande porte, que garantem a robustez dos suprimentos de energia elétrica no país, pois há alguns anos o setor elétrico brasileiro também vem ganhando um reforço dos painéis solares instalados no telhado das residências e empresas, a chamada geração distribuída. Esse é um tipo de sistema que tem se popularizado porque, além do apelo ambiental, essa alternativa ainda oferece uma possibilidade de redução na conta de luz, já que os consumidores conseguem ter a sua própria geração.

Em 2022, esse segmento produziu quase 2,4 mil megawatts médios, apresentando um crescimento de 83,6%, na comparação com o ano anterior, segundo a CCEE. No ranking de geração por estado, Minas Gerais tem liderado com os maiores volumes, seguido por São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso. São unidades federativas que concentram o maior número de painéis solares fotovoltaicos instalados.

energia solar domestica
Foto: iStock

Em termos de capacidade instalada, o ano de 2023 tem observado um crescimento muito acentuado desse tipo de geração, registrando a marca de 21 GW em maio deste ano. Também neste ano, estão em desenvolvimento aperfeiçoamentos regulatórios para tornar a geração distribuída sustentável em toda a cadeia do setor elétrico, contribuindo assim com o seu desenvolvimento de longo prazo.

Além do ganho para o meio ambiente, toda essa experiência que temos em geração de energia renovável representa novas oportunidades de negócios domésticos e internacionais, como o hidrogênio de baixo carbono. Tendo como uma das principais formas de obtenção o processo químico conhecido como eletrólise da água, usando eletricidade gerada por fontes limpas e renováveis, o insumo tem sido visto como o combustível do futuro, essencial para ajudar países, empresas e setores da economia a reduzirem a dependência de combustíveis fósseis e atingirem suas metas de descarbonização.

energia renovável
Fonte: CCEE

Renovável, sustentável e segura

Apesar da posição privilegiada do Brasil e dos interesses crescentes da economia global pela substituição dos combustíveis fósseis, o caminho rumo à transição energética não será, de todo, sem desafios. Dada a importância da energia elétrica para a humanidade, o foco nos atributos ambientais das fontes renováveis precisa estar aliado à preocupação com a segurança do abastecimento e aos custos para a sua produção. A eletricidade precisa estar disponível quando for necessária, a um preço que não imponha barreiras para o acesso da população ao insumo, com uma cadeia que cause os menores impactos ambientais possíveis.

energia eólica bahia
Parque Eólico de Guanambi. Foto: Paula Fróes | GOVBA

A disponibilidade contínua da energia precisa ser uma preocupação das autoridades responsáveis no Brasil e no mundo, sobretudo, considerando que uma maior presença das fontes eólica e solar representa uma maior variação na geração. Afinal, a produção dessas usinas só é possível se houver sol e vento, recursos que não conseguimos controlar. Diversas tecnologias têm surgido como resposta. O armazenamento com baterias e o próprio hidrogênio se apresentam como potenciais soluções, mas nenhum mercado tem ainda viabilidade econômica para ser adotado em larga escala.

No Brasil, os reservatórios das nossas usinas hidroelétricas representam grandes formas de armazenamento de energia, que colocam o país em uma situação confortável para que ocorra o crescimento em grande intensidade da geração de fontes renováveis e variáveis.

energia elétrica
Foto: Pixabay

A manutenção dos preços para acesso dos mais vulneráveis à energia elétrica, por sua vez, é uma questão que parece endereçada pela própria natureza do mercado renovável. À medida em que passamos a utilizar mais as tecnologias de produção de eletricidade limpa, o custo para a geração se reduziu e, hoje, as fontes hidrelétrica, solar e eólica estão entre as mais competitivas e eficientes.

O último e, talvez, o maior desafio para uma transição energética efetiva, será a redução gradativa dos impactos socioambientais em toda a cadeia da indústria elétrica. Mesmo as usinas renováveis sendo de baixo impacto ambiental, ainda há espaço para melhorias expressivas quando olhamos, por exemplo, para a extração de componentes minerais necessários à fabricação das placas solares, ou para o transporte das pás e equipamentos usados nos parques eólicos. São temas menos discutidos, mas não desprezíveis, e que merecem atenção.

Neste cenário, a CCEE tem focado esforços em garantir uma certificação fidedigna da energia que será utilizada na fabricação do hidrogênio de baixo carbono, um mercado que aos poucos vai se estruturando no Brasil e no exterior. O objetivo é estabelecer uma padronização global do produto, ação que deve impulsionar ainda mais o segmento de energia renovável e agregar valor aos negócios, despertando mais interesse dos investidores. Para isso, a CCEE tem coordenado um grupo de trabalho junto ao Conselho Internacional de Grandes Sistemas Elétricos – Cigre, a maior organização global do setor, e trabalhado em parceria com o Banco Mundial para ajudar países em desenvolvimento a avançarem na regulamentação do mercado de hidrogênio.

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Foto: PIxabay

O autor

Este artigo foi escrito por Ricardo Gedra, gerente de Análise e Informações ao Mercado na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE. A CCEE é uma associação civil sem fins lucrativos responsável por tornar possível a compra e a venda de eletricidade no país e garantir que esse insumo essencial chegue à população e aos setores produtivos. Desde 1999, reúne geradores, distribuidores, comercializadores e consumidores em um único propósito: desenvolver mercados eficientes, inovadores e sustentáveis em benefício da sociedade. Em suas operações, que envolvem tanto o ambiente de contratação livre como o regulado, liquida anualmente mais de R$ 150 bilhões.