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Bastidores da COP: como são os dias de quem vive a Conferência

Sapatos confortáveis, recorde de participantes e debates sobre combustíveis fósseis – veja o relato de Miriam Garcia do CDP

COP 28
Foto: Miriam Garcia | CDP

Desde que se iniciaram as Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, conhecidas como COP, tem ocorrido um crescimento exponencial da presença das chamadas organizações observadoras. Fazem parte desse grupo nove categorias oficialmente reconhecidas, incluindo representantes de governos locais, populações indígenas e jovens.

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Esses atores desempenham dois papeis fundamentais para o sucesso das iniciativas de enfrentamento às mudanças climáticas. O primeiro, é influenciar as tomadas de decisões com informações, reivindicações e soluções, por meio de estudos, eventos paralelos à agenda oficial, manifestações, diálogos com as delegações e alianças. A segunda função é fazer a ponte entre as salas de negociação, dominadas por linguagens técnicas, sofisticadas e diplomáticas e repleta de processos e o público em geral. Somos nós, das organizações observadoras, que temos a responsabilidade de auxiliar a traduzir o debate para a imprensa e para a sociedade em geral.

COP 28
Fotos: Miriam Garcia | CDP

Essa comunicação de via de mão dupla é uma grande responsabilidade, pois demanda não apenas deter conhecimentos específicos para entender a consistência e importância das decisões, mas uma visão ampla de todo o cenário. Precisamos acompanhar uma agenda extensa de negociação e, mais ainda, compreender a complexa trama de assuntos que se forma, pois um tema de negociação pode servir de moeda de troca em outra trilha de negociação. Soma-se a esse desafio, a habilidade de se comunicar em línguas distintas, considerando que 195 nações estiveram na edição desta COP.

Recordes e um elefante branco

Prova de que o interesse sobre a agenda climática é crescente, foram os recordes de engajamento. A COP 28 foi a maior já organizada, com cerca de 100 mil pessoas, quase o dobro de participantes da edição anterior, em Glasgow.  Neste ano, foram mais de 27 mil especialistas, acadêmicos, representantes setoriais e executivos. Cerca de 14 mil organizações não governamentais estavam credenciadas. A interação, mais intensa, entres os diferentes níveis de governança climática (intergovernamental, nacional, subnacional, transnacional e de movimentos sociais), foi chamada de big bang por Manuel Pulgar Vidal, presidente da COP20, em referência à teoria de contínua expansão do universo. Assim, o Acordo de Paris continua se expandido e gerando conexões com todos os níveis de governança.

De fato, nem todos que participam estão ali defendendo os objetivos do Acordo de Paris, como o número recorde de quase 2.500 lobistas do setor de combustíveis fósseis, identificados a partir da transparência do processo de credenciamento.  Durante anos, o tema dos combustíveis fósseis era um ‘elefante branco’ no processo de negociação. Em Dubai, foi impossível ignorá-lo. Ele estava visível na própria arquitetura da cidade e do espaço disponibilizado pelos Emirados Árabes Unidos para a Convenção. Toda a riqueza e modernidade tão pujantes na cidade foram construídas com os recursos do petróleo.

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COP 28
Fotos: Miriam Garcia | CDP

Uma COP de grandezas

A área da COP28 era de uma grandiosidade arquitetônica inigualável. Os pavilhões dos países não eram meros estandes, mas verdadeiros prédios que podiam abrigar diferentes representações. Ao entrar no pavilhão do Brasil, por exemplo, caminhava-se quase em um quilômetro para acessar o edifício oposto que abrigava uma organização da sociedade civil.

COP 28
Fotos: Miriam Garcia | CDP

Com média de quase 13 mil passos diários (distância compatível com a média dos demais participantes) ao longo dos 12 dias de COP28, os tênis ocuparam lugar no figurino. Soma-se a esses longos deslocamentos, filas longas e extremamente organizadas, com quase uma hora e meia de espera, sob o sol do deserto, nos primeiros dias. Ao contrário do que enfrentamos na edição passada da COP27, no Egito, não faltou disponibilidade de água, alimentos e opções de restaurantes (com dois terços das 250 mil refeições servidas diariamente sendo vegetarianas ou veganas segundo a apuração do SDG2Advocacy Hub).

Diante da magnitude dos acontecimentos, um marinheiro de primeira COP pode passar o dia se deslumbrando com a imensidão de eventos paralelos e descobrindo dezena de agendas interessantes. Planejamento é obrigatório e o entusiasmo mental, sempre ativado. Afinal, estar em uma COP é estar em contato com representantes do mundo inteiro, intercambiar com inúmeras práticas de ação climática, experiências de ativismo e atentar-se aos processos decisórios da negociação.

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COP 28
Foto: Miriam Garcia | CDP

Essa pulsação estará em 2025 na COP30 que o Brasil sediará. Por duas semanas, poderemos vivenciar essa energia, o efeito de expansão big bang do Acordo de Paris no coração da Floresta Amazônica. A COP a ser sediada no país não deve buscar o recorde do número de pessoas e organizações. Deve-se almejar os debates multilaterais para a redução de emissões de gases de efeito estufa, de ações de adaptação e de financiamento climático. Que a expansão no Brasil seja sintonizada com o equilíbrio da natureza conservada e a multiplicidade da sociedade civil.

Por dentro da COP28, com o CicloVivo e o CDP

Este conteúdo sobre a COP28 chegou até você por uma parceria entre o CicloVivo e o CDP, uma organização global sem fins lucrativos que administra um sistema mundial de divulgação ambiental para empresas, cidades, estados e regiões. Quem traz as principais notícias, da Conferência das Partes sobre o Clima, direto de Dubai, é a Miriam Garcia, diretora associada de engajamento político do CDP Latin America.

Miriam é doutora em relações internacionais pelo Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, é responsável pelo relacionamento com governos nacionais e subnacionais na América Latina e integra a delegação do CDP na COP pela quarta vez. Fundado em 2000, o CDP trabalha com mais de 740 instituições financeiras e gere dados de mais de 24 mil organizações em todo o mundo. Busca motivar as empresas a divulgar seus impactos ambientais, reduzir as emissões de gases de efeito estufa, gerenciar os recursos hídricos e proteger as florestas.  É membro fundador das iniciativas Science Based Targets e Net Zero Asset Managers.

COP 28
Foto: Miriam Garcia | CDP