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Ações climáticas atuais não irão frear aquecimento global, diz ONU

“Não podemos enfrentar a catástrofe climática sem atacar sua causa principal: a dependência dos combustíveis fósseis”, diz Antonio Guterres

aquecimento global
Foto: Patrick Perkins | Unsplash

Em meio a evidências inegáveis das mudanças climáticas e seus efeitos para a vida no planeta, a ONU divulgou um relatório que reforça a necessidade de ações efetivas para frear o aquecimento global. De acordo com o Relatório-Síntese sobre as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de 2023, os planos nacionais de ação climática continuam insuficientes para limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC.

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A Convenção-Quadro analisou as NDCs de 195 Estados-parte do Acordo de Paris, incluindo 20 NDCs novas ou atualizadas apresentadas até 25 de setembro de 2023. O objetivo é informar a próxima rodada de planos de ação climática previstos pelo Acordo de Paris, que serão apresentados até 2025.

Se as últimas NDCs disponíveis forem implementadas, os compromissos atuais aumentarão as emissões em cerca de 8,8%, em comparação com os níveis de 2010. Essa é uma melhora marginal em relação à avaliação do ano passado, que constatou que os países estavam em um caminho para aumentar as emissões em 10,6% até 2030, em comparação com os níveis de 2010. Projeta-se que, até 2030, as emissões estarão 2% abaixo dos níveis de 2019, destacando que o pico das emissões globais ocorrerá nesta década.

mudanças climáticas desmatamento
Desmatamento na Tailândia. O desmatamento gera emissões de gases de efeito estufa. Ao serem cortadas, as árvores liberam o carbono que estavam armazenando. Cerca de 12 milhões de hectares de florestas são destruídos por ano. Foto: © Toa55/Akaratwimages.

Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, é hora de uma “supernova” de ambição climática em todos os países, cidades e setores, alertando que “progresso de centímetro a centímetro não será suficiente”.

O relatório mostra claramente onde o progresso está muito lento. No entanto, ele também apresenta a ampla gama de ferramentas e soluções apresentadas pelos países. Bilhões de pessoas esperam que seus governos peguem essa caixa de ferramentas e as coloquem em prática“, alerta Simon Stiell, secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).

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Ações contundentes

Este relatório reforça mais uma vez a necessidade de ações contundentes para reduzir a trajetória das emissões mundiais e evitar os piores impactos da mudança climática.

mudanças climáticas queimadas
As emissões de gases de efeito estufa recobrem a Terra, retendo o calor do sol. Isso leva ao aquecimento global e à mudança climática. O mundo agora está aquecendo mais rapidamente do que em qualquer outro momento registrado na história. Foto: © Brasil2 | Getty Images Signature.

As evidências científicas mais recentes compiladas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) indicam que as emissões de gases de efeito estufa precisam ser reduzidas em 43% até 2030, em comparação com os níveis de 2019. Isso é fundamental para limitar o aumento da temperatura a 1,5ºC até o final deste século e evitar os piores impactos da mudança climática, inclusive secas, ondas de calor e chuvas mais frequentes e severas.

“Cada fração de grau é importante, mas estamos gravemente fora do caminho. A COP28 é o nosso momento de mudar isso. É hora de mostrar os enormes benefícios de uma ação climática mais ousada: mais empregos, salários mais altos, crescimento econômico, oportunidade e estabilidade, menos poluição e melhor saúde”, destacou Stiell.

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Para atingir o pico de emissões antes de 2030, diz o relatório, “os elementos condicionais das NDCs precisam ser implementados, o que depende principalmente do acesso a recursos financeiros aprimorados, transferência de tecnologia e cooperação técnica e apoio à capacitação, bem como da disponibilidade de mecanismos baseados no mercado”.

seca
Foto: Ninno Jackjr | Unsplash

“É essencial, continuar a buscar a justiça climática e ajudar o Sul Global, que é o que menos contribui com emissões, mas que suporta os efeitos mais cruéis das mudanças climáticas, não apenas a sobreviver, mas também a fazer a transição para uma economia mais sustentável por meio de caminhos de transição justa”, reforçou Sameh Shoukry, presidente da COP27 e ministro das Relações Exteriores do Egito. 

COP28: expectativas e cobrança

O novo relatório da ONU foi divulgado 2 semanas antes do início da COP28. A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023 vai ser realizada em Dubai, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro e a expectativa é que traga ações reais de combate à emergência climática.

Para Simon Stiell, os governos precisam dar passos decisivos na COP28 e entrar no caminho certo. “Isso significa que a COP28 deve ser um ponto de virada claro. Os governos não só devem concordar sobre quais ações climáticas mais robustas serão tomadas, mas também começar a mostrar exatamente como implementá-las”.

energia renovável eólica e solar
Foto: Pixabay

A intensificação da mudança climática é inegável e deve gerar uma pressão por resultados mais efetivos na próxima COP. Entre 1998 e 2017, eventos climáticos extremos mataram 1,3 milhão de pessoas em todo o mundo.

Apesar disso, os governos planejam produzir cerca de 110% mais combustíveis fósseis em 2030, o que é incompatível com a limitação do aquecimento a 1,5°C. Quando combinados, os planos governamentais levariam a um aumento na produção global de carvão até 2030 e na produção global de petróleo e gás até pelo menos 2050.

Isso acontece em um contexto em que as emissões globais de dióxido de carbono — quase 90% das quais são provenientes de combustíveis fósseis — aumentaram para níveis recordes em 2021-2022.

“Não podemos enfrentar a catástrofe climática sem atacar sua causa principal: a dependência dos combustíveis fósseis. A COP28 deve enviar um sinal claro de que a era do combustível fóssil está sem gás – que seu fim é inevitável. Precisamos de compromissos confiáveis para aumentar as energias renováveis, eliminar gradualmente os combustíveis fósseis e aumentar a eficiência energética, garantindo ao mesmo tempo uma transição justa e equitativa”, afirmou António Guterres, secretário-geral da ONU, 8 de novembro de 2023.

combustíveis fósseis financiamento COP26
Foto: Chris Leboutillie | Unsplash

Neste contexto, é simbólico que a COP28 aconteça justamente no Oriente Médio, onde estão grandes produtores e exportadores de petróleo. “O relatório síntese dos planos climáticos nacionais ressalta a necessidade de agirmos com maior ambição e urgência para cumprir as metas do Acordo de Paris – simplesmente não há mais tempo para atraso. A COP28 deve ser um ponto de virada histórico nesta década crítica para que os Estados-parte aproveitem o momento da revisão global das metas para se comprometerem a aumentar sua ambição e se unirem, agirem e apresentarem resultados que mantenham o 1,5ºC ao alcance, sem deixar ninguém para trás”, reconhece Sultan Al Jaber, presidente designado da COP28.

Estratégias de desenvolvimento de baixa emissão a longo prazo

O Relatório sobre Estratégias de Longo Prazo para Baixas Emissões de 2023 também foi divulgado no início de novembro e reforça a necessidade de cumprimento das NDCs. Segundo os pesquisadores, as emissões de gases de efeito estufa podem ser cerca de 63% menores em 2050 do que em 2019, se os compromissos nacionais forem 100% implementados no prazo. Este segundo relatório analisou os planos dos países para fazer a transição para emissões líquidas zero até meados do século ou por volta disso.

gasolina
Foto: Eduardo Soares | Unsplash

As estratégias de longo prazo atuais (representando 75 Partes do Acordo de Paris) correspondem a 87% do PIB mundial, 68% da população global em 2019 e cerca de 77% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2019. Isso é um forte indicativo de que o mundo está começando a buscar emissões líquidas zero.

O relatório observa, no entanto, que muitas metas de emissões líquidas zero permanecem incertas e adiam para o futuro ações críticas que precisam ocorrer agora.

Campanha pela #AmbiçãoClimática

campanha ação climática ONU Brasil
Campanha nas redes sociais da @ONUBrasil vai promover materiais para incentivar a mobilização e a discussão sobre mudança climática.

A ONU Brasil organizou uma campanha para apoiar jovens, influenciadores digitais e a sociedade civil a promover evidências científicas sobre a #MudançaClimática e participar em iniciativas globais relacionadas à #AçãoClimática. A ação vai acontecer entre os dias 21 de novembro de 2023 e 1º de janeiro de 2024

Para saber mais e participar desta iniciativa, clique AQUI.