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Brasil ganha o “Fóssil do Dia” na COP28

O irônico “prêmio” é uma resposta à adesão do Brasil à Opep+, grupo de 23 países produtores e exportadores de petróleo

fóssil do dia
Foto: Jarê Pinagé | Engajamundo

Na última segunda-feira (4), o Brasil recebeu o “Fóssil do Dia” na COP28, em Dubai. O irônico “prêmio” é uma resposta à adesão do Brasil à Opep+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados), grupo de 23 países onde estão os maiores produtores de petróleo do mundo, grandes responsáveis pela crise climática

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Com produção de 3,672 milhões de barris de petróleo por dia, o Brasil é o nono maior produtor de petróleo do mundo e o primeiro da América Latina. 

A adesão ao grupo de produtores e exportadores de petróleo foi anunciada pelo próprio ministro da energia do Brasil, Alexandre Silveira, já na abertura da Cúpula de Clima. Também esteve presente Jean Paul Prates, presidente da Petrobras. Foi anunciado ainda que o Brasil planeja leiloar 603 novos blocos de petróleo em 13 de dezembro, um dia após o término da COP28.

O anúncio vai na contramão do discurso do presidente Lula na COP, que, como resume o Instituto Climainfo: criticou os países ricos por lucrarem com a destruição do mundo natural; a falta de apoio financeiro aos países pobres; planos climáticos fracos, que não garantem um mundo abaixo de 1,5C de aquecimento – e o plano do Brasil supera mesmo em ambição um punhado de países ricos – e os combustíveis fósseis também foram mencionados, inclusive dizendo que sem reduzir as emissões desse setor, a floresta amazônica chegará ao colapso mesmo que o desmatamento acabe. 

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“Cuidado para não ir longe de menos”, diz camiseta de ativista. Foto: Jarê Pinagé | Engajamundo

Repercussão

A decisão do Brasil foi duramente criticada pelas organizações ambientais. Claudio Angelo, coordenador de política climática do Observatório do Clima, lembrou que ao reduzir o desmatamento em 22% em apenas 11 meses no cargo, o “presidente Lula deu uma das contribuições mais significativas para mitigar o aquecimento global em 2023. Porém, com um grande poder vem uma grande responsabilidade. Não se pode liderar o Sul Global contra a crise climática investindo no produto que a provoca”. 

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“Com ministros como este, o presidente não precisa de oposição. Mostra que há enormes contradições dentro do governo Lula. Enquanto o chefe do executivo, no palanque, cobra do mundo a diminuição do uso de combustíveis fósseis, seu ministro festeja a entrada do país no clube do petróleo”, diz o Márcio Astrini, Secretário Executivo do Observatório do Clima. 

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“Premiados” recebem seus troféus. Foto: Jarê Pinagé | Engajamundo

Já Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, ressalta que os negociadores brasileiros estão “defendendo com unhas e dentes” o objetivo de limitar a temperatura em 1.5 graus, mas “queimaram nosso filme com o combo de leilões de mais de 600 blocos de petróleo, a entrada na Opep+ e potencial anulação dos resultados de mitigação de florestas pela exploração fóssil.”

A jornalista Giovana Girardi, em reportagem na Agência Pública, afirma que as emissões projetadas de uma das novas fronteiras petrolíferas que o Brasil quer abrir, a Margem Equatorial (que inclui blocos na foz do rio Amazonas), anularão as reduções de emissões alcançadas pelo desmatamento zero até 2030. Leia a matéria aqui.

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Fóssil do dia

Após todo esse imbróglio, o Brasil foi “premiado” com o “Fóssil do Dia”, que é dado diariamente, durante as COPs, aos países que se destacam por suas ações contra as soluções para a crise climática. 

O prêmio é concedido pela Climate Action Network (CAN), que reúne dezenas de organizações socioambientais de todo o mundo, inclusive do Brasil. Os vencedores são escolhidos em votações diárias com a participação das ONGs. A última vez que o Brasil recebeu a honraria foi na COP26, em Glasgow, pelo tratamento do governo brasileiro dado aos indígenas. Em outras ocasiões, o Brasil já havia recebido a indicação. 

“Embora o Brasil almeje o protagonismo climático, sua postura contraditória ao entrar na OPEP+ reduziu os trunfos angariados com a redução do desmatamento e os planos e políticas climáticas anunciadas. A premiação deixa claro que a imagem do Brasil não está tão boa como esperado e é um sinal de alerta para todo o mundo sobre o real comprometimento do país que sediará a COP 30, quando todos os países deverão apresentar novos compromissos de corte nas emissões”, afirma Alexandre Prado, líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil.

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Foto: Jarê Pinagé | Engajamundo

“O mundo todo olhava para o Brasil com esperança de ter um novo líder climático e a turnê petroleira que o governo fez a caminho de Dubai foi um duro golpe nessa esperança”, completa Prado.

Já para Peri Dias, representante brasileiro da organização 350.org na COP28, “ainda há espaço para mudanças, mas precisaremos de uma posição clara do governo brasileiro para acabar com o petróleo, o gás e o carvão. Já ganhamos o prêmio ‘Fóssil do Dia’, mas podemos evitar ser os dinossauros da década”.