A Antártica está sendo invadida por plantas exóticas e animais minúsculos, dizem os cientistas. Os pesquisadores vasculharam roupas e botas de turistas e especialistas que visitam o continente e descobriram que a maioria levava sementes de planta.
Plantas exóticas já crescem na Península Antártica com o rápido aquecimento. No artigo – Continent-wide risk assessment for the establishment of nonindigenous species in Antarctica – publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), a equipe de pequisadores disse que as plantas são propensas a se espalharem com o aquecimento do clima.
Segundo o pesquisador Steven Chown, da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul, as pessoas já foram céticas sobre a fauna antártica. O pensamento era: “ [A Antártica] é em grande parte coberta de gelo então é improvável que as plantas se estabeleçam”.
Porém, o cientista faz uma observação importante: "[Eles estão] se esquecendo que, provavelmente, menos de 1%, mas ainda uma área significativa, não tem gelo – algumas destas áreas estão na região da Península, e ela foi esquentando muito rapidamente".
A Península Antártica, que corre em direção ao extremo sul da América do Sul, se aqueceu em cerca de 3ºC em mais de meio século, muito mais rápido do que a média global. Como resultado, a cobertura de gelo está diminuindo.
Muitas ilhas da região sub-Antártica viram significativas mudanças ecológicas causadas por espécies invasoras que chegaram acidentalmente ou deliberadamente.
A equipe de pesquisadoresacredita que a Península Antártica e algumas outras áreas ao redor da costa do continente poderia ver mudanças semelhantes nas próximas décadas.
"A Antártica tem uma ecologia nativa – uma ecologia microbiana muito bem estabelecida, e na península ela tem duas espécies de plantas nativas," disse o professor Chown à BBC News. "E vai ser alterada pelas espécies que estão chegando."
O ambiente marinho também está mudando, com caranguejos gigantes se estabelecendo em águas que antes eram muito frias.
Durante o Ano Polar Internacional em 2007/2008, a equipe coletou amostras de turistas e operadores de turismo, cientistas e sua equipe de apoio. Em média, cada visitante carregava 9,5 sementes para o Continente Branco, embora os cientistas tenham levado muito mais do que cada turista.
"O que descobrimos foi que as botas das pessoas e as bolsas eram as coisas que mais tinham material anexo", disse Kevin Hughes da British Antarctic Survey (BAS).
"Eu acho que a língua da bota é um lugar ideal para as sementes serem capturadas enquanto você está amarrando seus cadarços. Mas nós encontramos em vários pedaços de roupa também."
Extrapolando valores, isto significa que cerca de 70 mil sementes chegam à Antártica a cada ano. Os lugares que os turistas visitam tendem a ser os mais quentes do continente – que são também os lugares onde as sementes são mais prováveis de sobreviver. Os pesquisadores descobriram que, embora muitas das sementes sejam originadas na América do Sul, um grande número veio do Hemisfério Norte.
A Deception Island, a cem quilômetros a noroeste da península, já foi colonizada por duas espécies de gramíneas e duas de colêmbolos – pequenos animais que vivem no solo e serapilheira. Nas encostas ocidentais da península, a espécie de grama Poa annua estabeleceu-se perto de quatro estações de pesquisa – o que significa que provavelmente tenha sido trazida, inadvertidamente, por cientistas visitantes.
Os pesquisadores sugerem que sejam tomadas medidas urgentes para combater as espécies invasoras que já existem, e para evitar a entrada de novos, na medida do possível.
Dr. Hughes já ‘erradicou’ um uma espécie ionvasora simplesmente arrancando o único exemplar que encontrou. Mas com algumas das espécies mais difundidas, eles temem que possa ser tarde demais. "[No entanto], eu acho que é seguro dizer que, onde quer que as pessoas vão, é inevitável que elas levem outras espécies com elas, e não importa o que fazemos, os nossos melhores esforços só irão reduzir a taxa na qual as espécies são introduzidas, nós nunca vamos impedi-las completamente."
Não há nenhuma obrigação legal para limpar espécies exóticas acidentalmente introduzidas no âmbito do Tratado da Antártida. Mas esta equipe de cientistas acredita que há uma obrigação moral de fazê-lo, e bloquear as recém-chegadas, tanto quanto for possível. Com informações da BBC.
Redação CicloVivo
