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Morcegos trazem benefícios para agricultura e conservação

Esses mamíferos voadores são poderosos polinizadores noturnos e se alimentam de espécies consideradas “pragas” agrícolas e florestais

morcego flor
Foto: Zdeněk Macháček na Unsplash

Os morcegos são animais noturnos, muitas vezes associados à mitos e doenças, o que os torna indesejados em muitos lugares. Mas a verdade é que esses mamíferos voadores são muito importantes para o equilíbrio ecológico dos locais onde estão. São polinizadores e muitas vezes ajudam a controlar a população de insetos e espécies consideradas “pragas” por agricultores. Ou seja, se você gosta de plantar, ou é um produtor rural, é bom manter esses bichinhos por perto.

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Pesquisadores da Universidade de Oxford descobriram que a presença de morcegos pode ser benéfica para os projetos de conservação, de reflorestamento e para a agricultura.

“Os morcegos costumam ter uma má reputação, mas o nosso estudo destaca sua importância, revelando que, embora seus hábitos noturnos e estilo de vida secreto os tornem um mistério, os morcegos insetívoros desempenham um papel crucial nos ecossistemas onde estão presentes e podem ajudar os seres humanos de várias maneiras”, disse o Dr. Ricardo Rocha, coautor do estudo e professor associado do departamento de biologia da Universidade de Oxford.

Devido à capacidade de voar dos morcegos, eles colonizaram uma variedade de ilhas oceânicas, como a Ilha da Madeira, em Portugal, onde trazem benefícios para os agricultores da ilha.

Ilha da Madeira
Ilha da Madeira. Foto: Colin Watts na Unsplash

Os morcegos têm uma importância enorme, especialmente ecossistemas insulares, uma vez que as ilhas normalmente têm menos mamíferos do que habitats continentais. No entanto, as dietas dos morcegos que vivem em ilhas têm sido tradicionalmente pouco estudadas.

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Os cientistas de Oxford analisaram três espécies de morcegos que vivem na Ilha da Madeira — o Nóctulo-pequeno da Madeira (Nyctalus leisleri verrucosus), o Pipistrelle da Madeira (Pipistrellus maderensis) e o Morcego-orelhudo-cinzento (Plecotus austriacus).

pesquisa com morcegos na Ilha da Madeira
Pesquisador Ricardo Rocha durante trabalho de campo. Foto: Arquivo Pessoal

A equipe coletou excrementos de mais de 100 morcegos e, em seguida, extraiu DNA de suas fezes para determinar o que comiam. Os pesquisadores descobriram que as dietas das três espécies de morcegos eram altamente diversificadas. Eles comeram mais de 50 espécies distintas, incluindo moscas, besouros, borboletas, mariposas e aranhas. Das espécies identificadas, 40% são consideradas pragas florestais ou agrícolas prováveis ​​ou confirmadas.

“Previmos que todas as três espécies se alimentariam principalmente de borboletas noturnas; no entanto, não esperávamos que mais de 40% das espécies detectadas na dieta dos morcegos fossem pragas agrícolas ou florestais prováveis ​​ou confirmadas”, Angelina Gonçalves, da Universidade do Porto, principal autora do estudo.

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No cardápio dos morcegos estava uma praga agrícola bem conhecida: a traça da bananeira (Opogona sacchari), que afeta uma cultura local economicamente importante. Os morcegos também se alimentavam de insetos como as mariposas douradas (chalcites Chrysodeixis) e as mariposas do nabo, que frequentemente danificam cereais e vegetais. Além disso, estes mamíferos voadores também comeram um parasita humano chamado Psychoda albipennis, causador da miíase urogenital, levando a sensações de queimação, dor abdominal e diarreia.

alimentação de morcegos
Fonte: Journal of Mammalogy

A coleta dos morcegos foi um desafio inicial para os pesquisadores, pois envolveu o uso de redes de neblina para capturá-los e mantê-los até a coleta das amostras fecais. Através do uso da ecolocalização, os morcegos inicialmente conseguiram evitar facilmente as redes.

“Felizmente, descobrimos que os morcegos baixavam a guarda quando vinham beber, por isso mudamos ligeiramente de tática e esperámos os animais em pontos estratégicos com água”, explicou Gonçalves. “Dessa forma, conseguimos capturar indivíduos suficientes para conduzir nossa pesquisa”.

A expansão da agricultura é uma das maiores causas da perda de biodiversidade a nível mundial, mas algumas espécies, como os morcegos, são capazes de explorar os seus recursos. O estudo mostra que encorajar os morcegos pode beneficiar a conservação e, ao mesmo tempo, apoiar as comunidades agrícolas insulares.

“Um número crescente de agricultores está usando caixas de morcegos para atrair morcegos insetívoros para seus campos. Durante o nosso estudo, experimentámos colocar alguns na área protegida onde trabalhávamos e, para nossa alegria, alguns deles são agora habitados por ​​Pipistrelles madeirenses. Isto sugere que a implantação de poleiros artificiais simples para morcegos pode levar a resultados vantajosos tanto para a conservação como para os agricultores locais”, contou Rocha.

Para acessar o estudo completo, clique AQUI.

morcego
Espécie de morcego presente na Ilha da Madeira. Foto: Ricardo Rocha