Pantanal acumula o maior número de queimadas desde 2020

Nos 5 primeiros meses do ano, registros aumentaram 898% em comparação ao mesmo período no ano passado

SOS PANTANAL FOGO BRIGADISTA
Brigadista do SOS Pantanal atuando no controle de queimada. Foto: SOS Pantanal

Com chuvas abaixo das médias históricas desde o fim do ano passado, o Pantanal já teve 880 focos de queimadas em 2024 – um aumento de 898% em comparação ao mesmo período de 2023 (90 focos), ou de 253% em relação à média dos três anos anteriores (2021 a 2023) nesse período (255 focos em média). O valor acumulado nos primeiros cinco meses deste ano é o segundo maior dos registros nos últimos 15 anos, ficando somente atrás de 2020, quando foram registrados 2.128 focos. Os dados são do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O avanço das queimadas reforça os alertas feitos por especialistas de que a seca severa no bioma poderá aumentar o número de incêndios de grande escala, comparáveis aos que devastaram 30% de suas áreas naturais em 2020. Apenas no mês de maio, foram registrados 246 focos de queimadas no bioma, contra 33 em maio de 2023. A temporada de seca, porém, ainda está em seu início. Historicamente, os incêndios no Pantanal se concentram entre os meses de agosto e outubro, com um pico em setembro.

Desde o fim do ano passado, com a seca extrema impulsionada pelo forte El Niño de 2023, os incêndios têm batido recordes no Pantanal. No início de abril, especialistas já alertavam que o bioma poderia passar, em 2024, por uma de suas piores secas da história, já que foi atingido por uma seca extrema em plena temporada de cheias.

onça no pantanal queimadas
Onça-pintada caminha entre a vegetação queimada do Parque Estadual Encontro das Águas. Poconé (MT), 2020. Foto: Lalo de Almeida

“Em 2020, tivemos aquele fogo catastrófico e as análises atuais mostram que os números de 2024 estão muito parecidos com os que tínhamos naquele ano. Felizmente, todos os setores e a sociedade pantaneira estão alertas porque têm consciência de que se nada for feito, há possibilidade da repetição de grandes incêndios. É preciso atuar rapidamente reforçando as brigadas e contando com o apoio das comunidades locais para evitar uma catástrofe”, afirma Cyntia Santos, analista de conservação do WWF-Brasil.

Segundo ela, a falta de chuvas, a pouca quantidade de água acumulada no território e o acúmulo de matéria orgânica seca, características dos solos pantaneiros, são alguns dos principais fatores que tendem a exacerbar os incêndios. O Serviço Geológico Brasileiro reportou que o Rio Paraguai, o principal da região, apresenta os menores níveis históricos.

Segundo Cyntia, o estado do Mato Grosso do Sul possui uma legislação que estabelece as instruções adequadas para as práticas de Manejo Integrado do Fogo (MIF). “O MIF é uma necessidade primordial para evitar grandes incêndios no Pantanal. Essa lei traz a criação de um fundo que também visa projetos de Pagamento por Serviço Ambiental, que permitem que proprietários façam o manejo das pastagens e a prevenção de incêndios, promovendo melhorias no manejo de pastagens, garantindo a sustentabilidade da convivência harmônica entre seres humanos, criação bovina e manutenção da biodiversidade”, disse ela.

Como ajudar o Pantanal?

Em um momento de alerta para o bioma, o Instituto SOS Pantanal está arrecadando fundos para investir no desenvolvimento sustentável, preservação e combate a incêndios no Pantanal. No dia 04 de junho de 2024, um show beneficente gerou mais de R$ 300 mil para ações na maior planície alagável do mundo.

O show reuniu Daniel Jobim, neto do maestro Tom Jobim, e Seu Jorge que tocaram os grandes sucessos da bossa nova. A abertura ficou com Eric Terena que reuniu representantes do povo indígena que vive no Pantanal. A atriz Cristiana Oliveira, embaixadora do SOS Pantanal, abriu as atividades da noite.

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Evento beneficente com show de Daniel Jobim e Seu Jorge arrecadou mais de R$ 300 mil para ações de proteção ao Pantanal. Foto: Paulo Freitas

“Conheci o Pantanal há 35 anos atrás. Era um Pantanal vasto, diverso na sua fauna e flora. Quando voltei em 2020 a única coisa que vi foi a cor cinza. Eu subia o rio Paraguai, olhava do lado direito e já tinha acabado de queimar tudo do lado esquerdo também. O SOS Pantanal tem uma responsabilidade imensa, e é uma ONG que tem bom senso, que sabe dialogar”, disse ela.

Todas as atrações da noite tiveram o apoio das marcas Natura, Orfeu Cafés, NPND, Chocolates Priscyla França, chef Dani Pimenta, Miroarte e Animacolor, além de patrocínio da Everest e da Fundação Toyota.

Com os recursos arrecadados no evento o objetivo é ampliar o Programa Raízes do Pantanal, que desde 2020 está presente na Terra Indígena Cachoeirinha, onde até o momento já foram plantadas 8 mil mudas nativas, em ação envolvendo 5 aldeias, 150 pessoas das comunidades indígenas e englobando uma área de 80 hectares com 3 nascentes de rios.

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Pegadas de onça no leito de uma lagoa seca na fazenda Santa Tereza, na serra do Amolar. Corumbá (MS), 2021. Foto: Lalo de Almeida

Os recursos serão investidos no plantio de mais mudas, criação de sistemas agroflorestais com produção de alimentos para a comunidade e restauração de mais nascentes, além de expansão das atividades para outras terras indígenas da região. Além disso, diversas atividades são promovidas nesta área, incluindo momentos de troca entre o conhecimento técnico de combate a incêndios e administração de plantios, entre outros, e o conhecimento tradicional dos povos originários.

Você pode apoiar as ações do Instituto SOS Pantanal fazendo uma doação em dinheiro pelo pix [email protected] ou acessar o site www.sospantanal.org.br para avaliar outras formas de apoio.

Fogo na Amazônia e Cerrado

Na Amazônia, em 2024 já foram registrados 10.647 focos de queimadas entre 1 de janeiro e 31 de maio – um aumento de 107% em comparação aos cinco primeiros meses de 2023 (5.103 focos) e um número 131% superior à média dos três anos anteriores nesse período (4.580) focos.

Já no Cerrado, nos cinco primeiros meses do ano, foram registrados 8.012 focos, um aumento de 37% em comparação ao mesmo período em 2023 (5.850) e 35% superior à média dos três anos anteriores (5.956 focos).

Amazônia colapso
Floresta de várzea queimada em Barcelos (AM) Foto: Bernardo Flores