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Vista aérea da base de Vigilância Territorial Kanamari na região do médio rio Javari, na Terra Indígena Vale do Javari, Amazonas, Brasil. Foto: Bruno Kelly | Amazônia Real

Dados do sistema Deter-B, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), divulgados na última sexta-feira (12), indicam 5.153 km² de alertas de desmatamento na Amazônia em 2023. Isso representa uma redução de 49,86% em comparação com os alertas de desmatamento de 2022, que totalizaram 10.278 km² no período. Foi registrada também uma diminuição de 14,25% nos focos de calor na Amazônia, em relação ao ano de 2022, apesar das condições climáticas extremas intensificadas pelo El Niño no ano passado. Os estados com as maiores áreas de alertas foram Pará (1.904 km²), Mato Grosso (1.408 km²) e Amazonas (895 km²), que nos últimos anos se mantêm no ranking dos três estados com maior número de alertas de desmatamento.

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Quanto aos municípios mais desmatados, é relevante destacar Altamira (PA) com 234,49 km², Apuí (AM) com 208,90 km² e Feliz Natal (MT) com 183,46 km².

Além disso, observou-se uma redução nos alertas de desmatamento em Unidades de Conservação (UCs) e Terras Indígenas na Região Norte do país. O desmatamento total atingiu 99,24 km² dentro das TIs e 341,66 km² dentro das UCs, representando uma diminuição de 48,19% e 67,37%, respectivamente, em comparação com o ano de 2022. É fundamental ressaltar que, apesar da diminuição, esses desmatamentos não deveriam ocorrer nessas áreas, que, de modo geral, não permitem a retirada da vegetação nativa.

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Foto: Bruno Kelly | Amazônia Real

Para Ana Clis Ferreira, porta-voz do Greenpeace Brasil, a redução de alertas de desmatamento na Amazônia está atrelada à forte atuação dos órgãos de controle e fiscalização: “Em 2023, órgãos como Ibama, que sofreram um desmonte durante o governo anterior, tiveram autonomia para trabalhar, fiscalizar e multar os desmatadores e propagadores de incêndios florestais. É possível afirmar que essas ações colaboram diretamente para a redução do desmatamento e dos focos de calor na Amazônia ao longo do ano”.

Apesar do cenário de queda na Amazônia, o Cerrado perdeu 7.852km² de vegetação nativa em 2023, um aumento de 43,73% em comparação ao ano anterior. A área desmatada é pela primeira vez em anos maior do que a área desmatada na Amazônia.

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“Para que possamos continuar diminuindo os alertas de desmatamento e de fogo na Amazônia e mudar o cenário atual do Cerrado, é preciso uma ação coordenada entre governo federal e os governos estaduais, somado a valorização dos órgãos e das pessoas que atuam diretamente no campo. Desta forma, podemos começar a avançar para alcançar a meta de desmatamento zero”, completa Ferreira.

desmatamento Cerrado
Desmatamento no Cerrado. Foto: Moisés Muálem | WWF-Brasil

Para Ima Vieira, ecóloga e assessora da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM-Brasil), a queda no desmatamento da floresta amazônica é importante, mas ainda assim os números registrados são altos.

“Houve uma interrupção do desmatamento da floresta amazônica e isso é muito importante, mas a taxa de florestas destruídas anualmente ainda é muito alta. Além disso, em 2023, a região amazônica enfrentou uma seca muito forte, muitas pessoas foram impactadas e os incêndios florestais se alastraram na região, causando mais danos socioambientais”, lembra.

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A ecóloga chama atenção para a conexão entre as mudanças climáticas, o desmatamento e as queimadas, que agravaram e expediram a estação seca.

“Essa crise toda requer uma estrutura política combinada de vários setores, e isso tem que ser considerado pelos governos federal e estaduais. Há muitos planos sendo elaborados para a Amazônia em vários níveis, mas as soluções ainda estão no meio do caminho. As populações locais são as que mais sofrem com esses problemas ambientais graves. Os gestores públicos devem levar em conta que a Amazônia mudou e isso requer uma visão integrada dos problemas e a busca de soluções mobilizadoras, inclusivas e mais efetivas”, ressalta Ima Vieira.

Sistemas do INPE

Os dados consideram o chamado ano civil, ou seja, o período total de janeiro a dezembro, e são do Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que três hectares.

desmatamento ilegal
Desmatamento ilegal em Espigão do Oeste (RO) | Foto: Fernando Augusto/Ibama

Números do Prodes, o relatório anual do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite, considerado o mais preciso para medir as taxas anuais, já apontavam essa queda em 2023. O documento divulgado em novembro do ano passado apontou uma redução de 2.593 km² na taxa (22%) entre agosto de 2022 e julho de 2023 (período chamado de ano referência), a menor para uma temporada do Prodes desde 2019.