Mapeamento identifica 11 novas espécies no litoral de SP

Trabalho contabilizou 826 espécies que vivem no fundo do mar, em costões rochosos e terrenos arenosos

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São Sebastião, São Paulo. Foto: Rodrigo Charu

Os organismos bentônicos são aqueles que vivem no fundo do mar, em costões rochosos e fundos arenosos ou lamosos. Conhecê-los é fundamental para formular estratégias de conservação dos ecossistemas marinhos. Em artigo publicado na revista “Biota Neotropica” nesta sexta-feira, dia 31 de maio de 2024, pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Universidade de São Paulo (USP) e de outras instituições brasileiras e estrangeiras descrevem a identificação de 826 espécies na Baía do Araçá, no canal de São Sebastião, litoral norte de São Paulo – 11 delas ainda não documentadas pela ciência.

Oito dessas novas espécies são de anelídeos — animais como as minhocas, importante fonte de alimento para peixes. As outras três são artrópodes.

Os pesquisadores coletaram amostras de diferentes habitats da baía, incluindo manguezais e costões rochosos. Após a coleta, os organismos foram identificados em espécies com base em estudos anteriores e coleções de museus e catalogados em um checklist abrangente sobre a fauna bentônica da baía. O Museu de Diversidade Biológica, do Instituto de Biologia da Unicamp, serviu como um dos principais repositórios de espécimes coletados durante o projeto.

novas espécies litoral de São Paulo
Baía do Araça, no Litoral Norte de São Paulo. Foto: Cecilia Amaral

O artigo destaca os organismos mais prevalentes na Baía do Araçá, sendo eles anelídeos (225 espécies), moluscos (194 espécies) e crustáceos (177 espécies). A riqueza de espécies na baía reforça sua importância ecológica e biodiversidade marinha complexa.

A pesquisadora Cecilia Amaral, da Unicamp, autora principal do artigo, explica que os organismos bentônicos desempenham importantes serviços ecossistêmicos, como a reciclagem de nutrientes, e atuam como indicadores de distúrbios e da qualidade do ambiente. “Como parte fundamental da teia trófica, esses organismos servem de alimento para muitas aves, peixes, crustáceos, como também para alimentação humana, tais como algas, mariscos, siris, camarões e caranguejos”, acrescenta a cientista.

O estudo também destaca o impacto da ação humana sobre a Baía do Araçá. Um exemplo é a proximidade com o porto de São Sebastião. O recente aparecimento de uma espécie de ascídia nociva para o cultivo de mexilhões e ostras indica o papel do porto na introdução de organismos potencialmente invasores. As atividades do porto também concorrem com a pesca artesanal da região, realizada tradicionalmente em canoas caiçaras, configurando um conflito socioambiental na baía.

navio em São Sebastião
Navio atravessa o canal de São Sebastião, no Litoral Norte de São Paulo. Foto: Marisa Cornelsen

A pesquisa faz parte de um amplo projeto de estudo do local financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp). Amaral destaca que a iniciativa permitiu o treinamento de jovens cientistas e a reunião de pesquisadores de diferentes áreas e instituições. “Essa interação possibilitou uma ampla gama de interpretações, sob pontos de vista ecológicos, sociais, econômicos e políticos, abrindo um diálogo real entre população, cientistas e tomadores de decisão”, avalia a pesquisadora.

Amaral ressalta que a continuidade dos estudos é fundamental para aprimorar a gestão de oceano e áreas costeiras no país. “Somente dessa forma teremos condições de conhecer de maneira integrada a ampla área marinha de nossa costa, de Norte a Sul, e assim nos tornaremos mais fortes para defender essa nossa imensa extensão de área marinha”, finaliza.

Fonte: Agência Bori