Litoral brasileiro registra aumento histórico de baleias jubarte

Monitoramento aéreo estima população de 25 mil baleias da espécie em águas brasileiras

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Baleia jubarte. Foto: Todd Cravens | Unsplash

O último levantamento realizado pelo Instituto Baleia Jubarte (IBJ) registrou um aumento histórico no número de animais da espécie no litoral brasileiro. Pesquisadores realizaram o monitoramento aéreo de cerca de 6,2 mil quilômetros, entre a divisa do Ceará com o Rio Grande do Norte e o litoral norte de São Paulo, e estimou uma população de 25 mil baleias jubarte nesta temporada – um crescimento inédito.

O número se aproxima ao de 200 anos atrás, quando se estima que era de 27 a 30 mil mamíferos da espécie em águas brasileiras. “Depois de décadas de atuação na proteção das baleias, ver essa população quase totalmente recuperada dá uma enorme alegria e uma sensação de dever quase cumprido. Quase, porque sempre temos que atuar para evitar que elas voltem a ser ameaçadas por impactos das atividades humanas”, destaca Enrico Marcovaldi, um dos fundadores do Projeto Baleia Jubarte e que acompanhou todo o esforço de proteção da espécie nos últimos 34 anos de atuação do Instituto.

O monitoramento aéreo é realizado desde 2003, com o apoio da Veracel Celulose, empresa parceira do IBJ com operações no litoral da Bahia e Espírito Santo, locais de grande importância para a preservação da espécie. Aeronaves especiais para o avistamento de garantem a estimativa do número de baleias jubartes que visitam o litoral brasileiro. Em 2003 foram registradas 3660 jubartes – o que explica a grande comemoração em relação aos resultados deste ano.

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Foto: Instituto Baleia Jubarte

A aeronave utilizada no levantamento das baleias atinge cerca de 240 km/h. Para facilitar a identificação dos animais o avião tem janelas em formato de bolha, que permitem a visualização numa área maior, incluindo desde o horizonte até quase abaixo da aeronave. O levantamento foi realizado desde a costa até o mar aberto, em águas com profundidade de 500 metros.

As jubartes ficam de junho a novembro principalmente na região de Abrolhos, sul da Bahia, importante berçário da espécie na costa do Brasil. “Para a Veracel, é de extrema importância apoiar o Instituto Baleia Jubarte no monitoramento das baleias na região em que atuamos. Com este trabalho, conseguiremos conhecer, como está o comportamento da espécie e como podemos trabalhar para aperfeiçoar cada vez mais as nossas operações para minimizar os riscos ao meio ambiente e à vida desta espécie tão importante para nosso ecossistema”, ressalta Tarciso Matos, coordenador de Meio Ambiente da Veracel Celulose.

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Baleias jubarte se alimentando. Foto: Vivek Kumar | Unsplash

O monitoramento das baleias ao longo dos anos foi determinante para a adoção de uma série de medidas que ajudaram na preservação da espécie, em especial em sua época de reprodução. O mapeamento de densidade permite identificar os locais de concentração de baleias e isso é muito importante para localizar a rota de navegação das barcaças de celulose em áreas com a menor presença desses mamíferos, reduzindo os riscos de colisão.

Segundo a bióloga Márcia Engel, coordenadora do monitoramento aéreo, “este é o estudo de mais longo prazo já realizado com uma população de baleias no Brasil e permitiu acompanhar a cada ano não apenas a recuperação do número de animais da espécie, como a forma como ela foi reocupando nossas águas territoriais. Foi baseado nos resultados deste monitoramento que o Ministério do Meio Ambiente, em 2014, retirou a baleia-jubarte da Lista Nacional de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção.”

Os resultados desse monitoramento obtidos ao longo do tempo comprovam que a população das baleias jubartes que visitam a costa brasileira vem aumentando significativamente, sendo que a maior concentração delas é encontrada na região de Abrolhos na Bahia, também conhecida como o berçário dessa espécie.

Bahia, berçário das baleias jubarte

As baleias jubarte que nascem em águas brasileiras passam o inverno e a primavera no país. Em outubro, o animal que veio só acasalar e ainda está sem filhote, assim como alguns machos, já começa a migrar com objetivo de chegar logo à área de alimentação na Antártida.

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Vista área de Abrolhos. | Foto: iStock

“Os animais que tiverem os filhotes no litoral brasileiro ficam até novembro. É o tempo para o filhote desenvolver a camada de gordura para enfrentar as áreas subantárticas onde conseguirão alimentação e para ganhar mais músculos para acompanhar a mãe”, explica Milton Marcondes, médico veterinário e coordenador de pesquisa do Instituto Baleia Jubarte.

Por ter muitos arrecifes e outras áreas mais protegidas, como o arquipélago de Abrolhos, o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo são as regiões do litoral brasileiro mais procuradas pelas jubartes para ter os filhotes, que ficam naturalmente mais protegidos. “Elas procuram os locais com melhores condições para o desenvolvimento dos filhotes nos seus primeiros dias de vida”, completa o veterinário.

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Vista aérea de Abrolhos. | Foto: iStock

A caça da jubarte foi proibida em 1966 no Brasil, mas em diferentes estados ainda era muito praticada. Em 1986, uma moratória internacional proibiu a caça comercial por cinco anos. Mas somente em 1987 o país ganhou uma lei proibindo nacionalmente a caça às baleias jubarte.

Inteligência artificial para preservação

Uma outra ação para proteger as baleias jubarte é a instalação de  uma câmera térmica que alerta sobre a presença das baleias e registra o comportamento doas animais. Estes equipamentos usam inteligência artificial e foram instalados no empurrador das barcaças de transporte de celulose, que navegam pela costa do Sul da Bahia e norte do Espírito Santo.

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Foto: Pxfuel

O objetivo é auxiliar as embarcações na identificação desses animais e apoiar o trabalho de biólogos do IBJ embarcados nos navios, que fazem o transporte de celulose da Veracel, para acompanhar a movimentação das baleias na rota.