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Acordo histórico pode salvar botos do mundo da extinção

11 países assinaram uma Declaração Global para salvar da extinção as seis espécies sobreviventes de golfinhos fluviais no mundo

botos amazônicos
Casal de boto rosa (Inia geoffrensis) no lago Acajatuba, Rio Negro, Amazonas. Foto: franco Banfi WWF

No final de setembro, cerca de 10% da população de botos do Lago Tefé, no Amazonas, morreu em uma semana. As causas foram a seca severa e a temperatura da água ultrapassando 39ºC. Apesar de ser um evento extremo e pontual, o episódio não é um fato isolado, já que a população global de botos vem de décadas de um declínio aparentemente irreversível. Desde a década de 1980, as populações de botos diminuíram 73% devido a uma série de ameaças, incluindo práticas de pesca insustentáveis, barragens hidrelétricas, poluição proveniente da agricultura, indústria e mineração, e perda de habitat.

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Mas, em meio a este cenário desolador, chaga uma boa notícia! Na última terça-feira, 24 de outubro de 2023, 11 países asiáticos e sul-americanos assinaram um acordo histórico em Bogotá para salvar da extinção as seis espécies sobreviventes de golfinhos fluviais no mundo.

Boto cor-de-rosa
Boto cor-de-rosa (Inia Geoffrensis), Rio Tapajós PA, 2022. | Foto: Adriano Gambarini | WWF-Brasil

Adotada pelos estados asiáticos e sul-americanos, da Colômbia à Índia, a Declaração Global para os botos tem como meta interromper o declínio de todas as espécies e aumentar as populações mais vulneráveis. Ela intensificará os esforços coletivos para salvaguardar as espécies restantes desses indivíduos, por meio do desenvolvimento e financiamento de medidas para erradicar as redes de emalhar, reduzir a poluição, expandir a pesquisa e aumentar as áreas protegidas.

Esta declaração histórica cria um roteiro para a recuperação das populações de botos em todo o mundo – oferecendo esperança real para a sobrevivência destas espécies icônicas, apesar das enormes ameaças que enfrentam”, disse Stuart Orr, Líder Global de Água Doce do WWF, que está trabalhando com parceiros para apoiar a Declaração.

botos pelo mundo
Distribuição de botos no planeta. Fonte: WWF

“Mas essa declaração vai além de salvar os botos: trata-se também de melhorar a saúde dos seus grandes rios, que são a força vital de tantas comunidades e economias, bem como de sustentar ecossistemas críticos, desde florestas tropicais até deltas”, acrescentou Orr.

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Boto em rio na Amazônia brasileira.
Boto em rio na Amazônia brasileira. Foto: Fernando Trujillo | Fundação Omacha

Os botos vivem em alguns dos rios mais importantes do mundo, incluindo o Amazonas e o Orinoco na América do Sul, e o Ayeyarwady, Ganges, Indo, Mekong, Mahakam e Yangtze na Ásia. Esses rios sustentam centenas de milhões de pessoas, desde povos indígenas e comunidades locais em áreas remotas até residentes de megacidades. Esses rios irrigam grandes extensões de terras agrícolas, abastecem a indústria e os negócios e sustentam uma riqueza de vida selvagem.

Inspiração e esperança

Embora o cenário global seja sombrio, os esforços de conservação revelaram-se bem-sucedidos em deter o declínio de algumas espécies de botos, incluindo em algumas das bacias hidrográficas mais densamente povoadas do mundo, como as dos rios Indo e Yangtze.

No Paquistão, a população de botos do rio Indo, ameaçados de extinção, quase duplicou nos últimos 20 anos devido à ação coletiva do governo, das comunidades e de ONGs, incluindo o WWF. No entanto, ainda existem apenas cerca de 2.000 botos do rio Indo e o WWF está trabalhando com as comunidades para reduzir a poluição, libertar os botos presos em redes de pesca e resgatar aqueles que são aprisionados em canais de irrigação.

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boto yangtze
Boto no rio Yangtze da reserva de Tian-E-Zhou, na China. Foto: Justin Jin WWF-US

O número de toninhas sem barbatanas do rio Yangtze, criticamente ameaçadas – a única toninha de água doce do mundo – aumentou 23% nos últimos cinco anos. Este é o primeiro aumento desde o início dos registros e é resultado de rigorosas medidas de proteção e esforços de conservação. Apesar disso, ainda existem apenas 1.249 toninhas sem barbatanas do Yangtze.

Enquanto isso, o inovador projeto de “pinger” eletrônico do WWF evitou com sucesso que os botos do rio Mahakam, na Indonésia, morressem devido ao emaranhamento acidental em redes de emalhar, que tinha sido a maior ameaça direta aos últimos 80 botos do rio. O projeto também resultou num aumento de 40% na produtividade média dos pescadores locais e em nenhum dano dispendioso causado pelos botos às suas redes.

boto no rio Ganges
Boto (Platanista gangética) no rio Karnaphuli, em Bangladesh. Foto: François Xavier Pelletier | WWF

A Iniciativa Sul-Americana dos botos também demonstrou o poder das parcerias, ao reunir organizações para o avanço da ciência, marcar os animais por satélite para descobrir mais sobre a sua movimentação e comportamento, e aumentar a conscientização sobre o papel dos botos – e as ameaças à sua sobrevivência.

botos na amazônia
Foto: WWF-Suécia

“A morte de mais de 150 botos na região amazônica mostra a urgência da adoção de medidas conjuntas para a conservação da Amazônia, um bioma chave para a dinâmica climática em todo o mundo, e dos botos, espécies fundamentais para o equilíbrio ecológico e que permitem avaliar o estado de saúde dos ecossistemas que habitam”, explica Mariana Paschoalini Frias, analista de Conservação do WWF-Brasil e coordenadora do SARDI (Iniciativa Sul-Americana dos Golfinhos Fluviais).

Para mais informações sobre os botos ao redor domundo, acesse www.riverdolphins.org.

boto indonésia
Espécie de boto que vive nas águas da Indonésia. Foto: S Kedang Rantau Budiono