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circular
Foto: Paulo Carrolo na Unsplash

Imagine como seria viver em um mundo onde os recursos naturais são usados com parcimônia, sem desperdício. Onde não há lixo, poluição, e a atividade econômica acontece em harmonia com a natureza, contribuindo para que ela se regenere e prospere. Essa é a visão de uma economia circular.

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Hoje, vivemos em um sistema que é esbanjador, que desperdiça muitos dos seus recursos. E isso acontece pois ele é baseado em uma lógica linear de extração, produção e descarte. Isto é, extraem-se recursos naturais que são usados para a fabricação de produtos e, quando esses produtos já não servem ao seu propósito, são jogados fora, desperdiçando os materiais e toda a energia empregada na sua produção, gerando poluição.

Embora tenha sido responsável pelo desenvolvimento da nossa sociedade como a conhecemos, esse modelo também é o principal causador dos desafios globais que vivemos atualmente, como a poluição do meio ambiente por plásticos, a perda da biodiversidade e, inclusive, as mudanças climáticas.

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Foto: Alexander Popov | Unsplash

Seria possível ter um sistema econômico em que os recursos naturais são utilizados, em vez de esgotados? E que contribua para reverter o estrago que já causamos, regenerando a natureza? 

Foi em busca dessa resposta que Ellen MacArthur, ex-velejadora britânica e recordista mundial, junto com uma equipe, iniciou uma jornada de investigação, consultando vários estudiosos para entender se esse sistema econômico que gera um impacto positivo seria possível. Inspirada por várias escolas de pensamento, como a economia da performance, a economia industrial, a economia azul, o cradle to cradle e o design regenerativo, surgiu o modelo de economia circular.

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Eliminar, circular, regenerar

Hoje, a economia circular é definida por três princípios fundamentais: eliminar resíduos e poluição, circular produtos e materiais (em seu mais alto valor) e regenerar a natureza. Esses princípios devem ser impulsionados pelo design, isto é, precisam ser considerados desde a etapa de design ou de criação dos produtos, materiais, modelos de negócio, levando em conta o próprio sistema em que se inserem. Para ser circular, de fato, é importante que esses princípios sejam considerados em conjunto.

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Foto: Anne Nygard | Unsplash

O primeiro princípio reflete algo fundamental para um sistema econômico que gera impacto positivo para o meio ambiente e a sociedade. É justamente eliminar aquilo que traz impactos negativos, como a poluição, e o desperdício como forma de valorizar todos os recursos empregados na fabricação de qualquer produto: os recursos materiais, econômicos e também humanos. Quando jogamos fora um produto, pois ele parece não ter mais uso, estamos desperdiçando não apenas o material como também os demais recursos empregados na sua fabricação.

Para preservar o valor daquele material ou produto, temos que mantê-lo na economia, isto é, circulá-lo. Esse é o segundo princípio de uma economia circular. Há várias estratégias para essa circulação. Priorizamos aquelas que empregam menos energia para manter o produto ou material em seu uso mais nobre ou para o qual ele foi inicialmente destinado. Algumas dessas estratégias são a reutilização ou a revenda de produtos; depois, a reparação, a refabricação; e, por fim, a reciclagem. A relação entre as estratégias de circulação e a energia empregada estão demonstradas no chamado diagrama de borboleta, em que os arcos maiores representam mais energia.

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economia circular gráfico borboleta
Fonte: Fundação Ellen MacArthur

Se pensarmos na circulação de roupas, por exemplo, a melhor forma de mantê-las em seu mais alto valor é utilizá-las o maior número de vezes possível. Depois, repará-las para que o uso seja prolongado. Por fim, quando a reutilização não for mais possível, desfibrilá-las para criar novas peças e, aquilo que não for possível aproveitar, compostar.

Por fim, o princípio de regenerar a natureza conversa principalmente com a produção e cultivo dos recursos biológicos, como os alimentos e as fibras naturais para tecidos. Técnicas convencionais de produção desses recursos, como o uso de agrotóxicos, são muitas vezes poluentes e degradantes para os solos e águas. Porém, é possível produzir esses recursos com técnicas de cultivo mais harmônicas com a natureza, ajudando-a a se regenerar e prosperar, como é o caso da agrofloresta.

Nesse exemplo das roupas, as peças cumprem com os princípios circulares quando, além de serem utilizadas o maior número de vezes possível e terem seus materiais circulados, são feitas de materiais cultivados de forma a trazem resultados regenerativos para a natureza, como maior captura de carbono nos solos, água e aumento da biodiversidade no solo.

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Com o Sistema Agroflorestal, propriedades rurais conseguem diversificar a produção de alimentos. | Foto: Carol Campos

Para que isso seja possível, o design é fundamental e todo o sistema precisa ser considerado. Voltando ao nosso exemplo, as peças de roupa devem ser criadas tendo-se em mente todo esse processo. Ou seja, elas devem ser pensadas para serem duráveis; com materiais que posteriormente possam ser reaproveitados. É preciso também ter um sistema que permita o reaproveitamento das fibras ou a compostagem, é uma forma de os consumidores retornarem as peças à fabricante para efetivar esses procedimentos.

Por que precisamos de uma economia circular?

Os estudos iniciais sobre a economia circular mostraram que ela oferece uma importante oportunidade econômica para as empresas, pois oferece diversos mecanismos de criação de valor dissociado do consumo de recursos finitos. Em 2016 avaliou-se que, na Europa, adotar esse modelo poderia render até 1,8 trilhão de euros anuais até 2030.

Além da oportunidade econômica e de oferecer resiliência contra choques, a economia circular é chave para resolver desafios ambientais globais e gerar prosperidade para todos no longo prazo. Quase metade das emissões de gases de efeito estufa estão relacionadas à produção e uso dos materiais e alimentos.

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Foto: Naja Bertolt Jensen | Unsplash

Só o setor de alimentos é responsável por quase um terço dos gases de efeito estufa. A quantidade de plástico no oceano, que já acumulava 11 milhões de toneladas em 2016, deve triplicar até 2040 se não fizermos nada para mudar a forma como lidamos com esses materiais. E a biodiversidade segue sendo ameaçada pela extração de recursos naturais, poluição, e os efeitos das mudanças climáticas.

Uma economia circular pode reverter esses desafios. A produção regenerativa de alimentos é capaz de capturar carbono, regenerar solos e aumentar a biodiversidade. Um modelo circular para as embalagens plásticas pode reduzir a quantidade de plástico que é colocada no mercado e, por consequência, o que vaza para o meio ambiente, incluindo os corpos hídricos.

Mobilizar empresas, academia e setor público

Para chegar a uma economia circular, precisamos do comprometimento de muitos atores. As empresas têm um grande potencial de mudar o que fazem e oferecer aos consumidores melhores opções. A academia e os inovadores podem trazer as soluções que ainda estão faltando no mercado para efetivar essa visão de uma economia circular. E o poder público também pode contribuir para acelerar essa transição, tornando as práticas circulares mais atraentes, enquanto restringe as práticas lineares prejudiciais.

latinhas coletadas na Marquês de Sapucaí para reciclagem.
Latinhas coletadas na Marquês de Sapucaí para reciclagem. Foto: Instagram | @cadalataconta

É pensando nisso que a Fundação Ellen MacArthur trabalha com todos esses atores buscando acelerar a transição para uma economia circular. Incentivamos você também a explorar nosso conteúdo de aprendizagem e identificar a melhor maneira de se envolver para expandir essa ideia.

Sobre a autora

Este artigo foi escrito por Luísa Santiago, líder da Fundação Ellen MacArthur para a América Latina. A Fundação Ellen MacArthur é uma organização internacional sem fins lucrativos que desenvolve e promove a ideia de uma economia circular para enfrentar alguns dos principais desafios da atualidade, como as mudanças climáticas, a perda da biodiversidade, desperdício e poluição.

A instituição trabalha com líderes dos setores público e privado, assim como acadêmicos, para construir conhecimento, explorar oportunidades colaborativas e projetar e desenvolver iniciativas e soluções para uma economia circular.

Progressivamente mais baseada em energia renovável, uma economia circular é movida pelas ideias de eliminação de desperdício, reutilização de materiais e produtos e regeneração da natureza para criar resiliência e prosperidade para os negócios, o meio ambiente e a sociedade.

Quer saber mais? Acesse ellenmacarthurfoundation.org | @circulareconomy.