Papa Francisco anuncia sua participação na COP28

Em entrevista à emissora pública italiana RAI, o Papa Francisco confirmou sua participação na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas COP28, que acontece entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro deste ano. Apesar de ser a primeira participação de um papa em uma cúpula do clima, a decisão não é exatamente uma surpresa, já que O Papa Francisco, de 86 anos, fez da proteção do meio ambiente uma das características do seu papado.

“Se estivermos confiantes na capacidade dos seres humanos de transcender os seus interesses mesquinhos e de pensar em termos mais amplos, podemos continuar a esperar que a COP28 permita uma aceleração decisiva da transição energética, com compromissos efetivos sujeitos a monitorização contínua”, escreveu o pontífice em sua recente Laudate Deum (Louvado seja Deus), Exortação Apostólica.

Na publicação, o Papa Francisco implorou aos decisores políticos e àqueles que negam a existência da emergência climática que parem de rejeitar as causas humanas ou de ridicularizar a ciência quando a Terra “pode estar chegando ao ponto de ruptura”, informou a Reuters.

Em vez disso, o papa encorajou a ação, dizendo numa entrevista que ainda há tempo para parar o aquecimento global. “Esta Conferência pode representar uma mudança de rumo, mostrando que tudo o que foi feito desde 1992 foi de facto sério e valeu a pena o esforço, caso contrário será uma grande desilusão e comprometerá tudo o que de bom foi alcançado até agora”.

“O nosso futuro está em jogo, o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos. É necessário um pouco de responsabilidade”, disse o Papa Francisco, em entrevista à agência de notícias Reuters. Segundo ele, as negociações climáticas de Dubai “podem representar uma mudança de direção” se forem feitos acordos vinculativos para a transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia renováveis.

No Laudate Deum, Francisco fala sobre a transição energética de forma direta: “Se houver um interesse sincero em fazer da COP28 um evento histórico que nos honre e nos enobrece como seres humanos, então só podemos esperar formas vinculativas de transição energética que cumpram três condições: que sejam eficientes, obrigatórias e prontamente monitorizadas. Isto, para conseguir o início de um novo processo marcado por três exigências: que seja drástico, intenso e conte com o compromisso de todos”.

O Papa Francisco reuniu-se com o Sultão al-Jaber, presidente da conferência climática COP28, no dia 11 de outubro. Eles discutiram os seus objetivos climáticos comuns, bem como o papel que as organizações religiosas e os líderes têm na promoção dos objetivos climáticos.

“Que os participantes na Conferência sejam capazes de considerar o bem comum e o futuro dos seus filhos, mais do que os interesses a curto prazo de certos países ou empresas.” Papa Francisco

O que diz o diretor da COP28?

Majid Al Suwaidi, diretor da COP28, afirmou que os jevens estão realmente empenhados em encontrar soluções para o aquecimento global e que os países, precisam superar questões políticas já que o planeta “não está no caminho para atingir os objetivos de Paris”.

Segundo ele, limitar o aumento do aquecimento global a 1,5ºC é possível. “Sabemos o que temos de fazer para atingir o objetivo de Paris, temos a tecnologia. É por isso que é muito importante que as partes na COP28 tenham conversas honestas”, argumentou.

Quanto à transição energética, Majid Al Suwaidi salientou que é necessário reduzir 22 gigatoneladas de emissões de gases com efeito de estufa, razão pela qual alertou para a importância de se construir hoje o sistema energético do futuro.

“A descarbonização da energia não pode ser feita de um dia para o outro. O caminho traçado em Paris passa pela melhoria da eficiência energética através de diferentes fórmulas, como a captura e armazenamento de dióxido de carbono”, sublinhou.

Para Majid Al Suwaidi,  os países desenvolvidos não estão cumprindo os investimentos prometidos no domínio climático e que o mundo está “no mesmo ponto em que estava em 2015”.

“Precisamos pensar em como nos adaptar de uma forma que seja justa para todos”. O diretor da COP28 afirmou ser crucial conseguir um melhor sistema alimentar, melhor saúde, culturas mais resilientes e uma redução da vulnerabilidade das populações às alterações climáticas. Sobre a COP28, Majid Al Suwaidi prometeu que nenhum grupo será excluído das conversações sobre o clima.