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Custo da adaptação climática é 50% maior do que o estimado

Pnuma alerta ainda que o financiamento para adaptação aos efeitos da mudança climática está desacelerando, apesar das crescentes necessidades

Adaptação Climática
Enchente em Lajeado em setembro de 2023. | Foto: Mauricio Tonetto

Os fundos necessários para adaptação aos efeitos da mudança climática devem atingir uma faixa de US$215 bilhões a US$387 bilhões por ano nesta década. É o que aponta um relatório global publicado na última quinta-feira (2) pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

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Segundo a agência ambiental da ONU, o progresso no financiamento na adaptação climática está desacelerando quando deveria estar aumentando. Até porque a demanda se mostra maior do que a “oferta” atual.

As necessidades de financiamento são 10 a 18 vezes maiores que as finanças públicas internacionais atualmente destinadas à adaptação climática nos países em desenvolvimento – mais de 50% mais elevadas que a estimativa média anterior. Apesar das necessidades crescentes, os fluxos multilaterais e bilaterais de financiamento para adaptação recuaram 15%, atingindo US$21 bilhões em 2021.

Necessidade versus ação

Intitulado a “Lacuna de Adaptação Climática 2023”, o documento expõe uma divisão crescente entre necessidade e ação quando se trata de proteger as pessoas de extremos climáticos. “A ação para proteger as pessoas e a natureza é mais urgente do que nunca. Vidas e meios de subsistência estão sendo perdidos e destruídos, com os mais vulneráveis sofrendo mais“, afirma o secretário-geral da ONU, António Guterres.

moradores filipinas desabrigados
Moradores enfrentam enchentes nas Filipinas. | Foto: Noel Celis | IFRC

Como resultado da crescente necessidade de adaptação financeira e fluxos flutuantes, a atual lacuna de adaptação financeira está agora estimada em US$194-366 bilhões por ano. Ao mesmo tempo, o planejamento e a implementação da adaptação parecem estagnados. Essa falha em adaptação tem implicações massivas para perdas e danos, particularmente para os mais vulneráveis.

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A diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, alerta que neste ano, as mudanças climáticas se tornaram, novamente, mais disruptivas e mortais: recordes de temperatura foram quebrados, enquanto tempestades, enchentes, ondas de calor e incêndios florestais causaram devastação.

Para ela, os episódios nos dizem que o mundo deve, urgentemente, acabar com as emissões de gases de efeito estufa e aumentar os esforços de adaptação para proteger as populações vulneráveis. No entanto, segundo ela, nenhum dos dois está acontecendo.

De acordo com Inger Andersen, mesmo que a comunidade internacional parasse de emitir todos os gases de efeito estufa hoje, “a disrupção climática levaria décadas para ser dissipada”.

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Assim, ela pede aos formadores de políticas que prestem atenção no documento, intensifiquem o financiamento e façam da COP28 o momento em que o mundo “se comprometa integralmente a proteger os países de baixa renda e os grupos desfavorecidos de impactos climáticos prejudiciais”.

Novos financiamentos

Uma adaptação ambiciosa pode melhorar a resiliência – a qual é particularmente importante para países de baixa renda e grupos desfavorecidos – e evitar perdas e danos.

O relatório aponta para um estudo que indica que as 55 economias mais vulneráveis ao clima têm, sozinhas, registrado perdas e danos de mais de US$500 bilhões por ano nas últimas duas décadas. Os custos aumentarão acentuadamente nas próximas décadas, particularmente na ausência de mitigação e adaptação vigorosas.

São Sebastião Litoral Norte enchente
Sahy, no litoral Norte, um dos locais mais afetados pelos temporais em fevereiro de 2023. Foto: Rovena Rosa | Agência Brasil

Estudos indicam que cada bilhão investido em adaptação contra inundações costeiras leva a uma redução de US$14 bilhões em danos econômicos. Enquanto isso, U$$16 bilhões por ano investidos em agricultura poderiam impedir que aproximadamente 78 milhões de pessoas passassem fome ou fome crônica devido aos impactos climáticos.

No entanto, nem a meta de dobrar os fluxos financeiros internacionais de 2019 para os países em desenvolvimento até 2025, nem uma possível Nova Meta Coletiva Quantificada para 2030, por si só, fecharão significativamente a lacuna de financiamento da adaptação e proporcionarão tais benefícios.

Este relatório identifica sete maneiras de aumentar o financiamento, incluindo gastos internos e financiamento dos setores internacional e privado.

litoral Brasil
Trabalho de desobstrução da rodovia Rio-Santos na altura da Barra do Sahy, litoral norte de São Paulo. | Foto: Sérgio Barzagui | Governo do Estado de São Paulo

Outros caminhos incluem remessas, financiamento ampliado e sob medida para Pequenos e Médios Empreendedores, implementação do Acordo de Paris sobre a mudança dos fluxos financeiros para vias de desenvolvimento de baixo-carbono e resiliência climática, e uma reforma na arquitetura financeira global, como proposto pela Iniciativa de Bridgetown.

O novo fundo para perdas e danos também será um importante instrumento para mobilizar recursos, mas os problemas persistem. O fundo irá necessitar avançar em mais mecanismos de financiamento inovadores para alcançar a escala necessária de investimento.

Veja aqui o relatório completo (em inglês).