COP27 termina com acordo histórico para perdas e danos
Mecanismo financeiro vai compensar os países que já estão sofrendo com eventos climáticos extremos
Mecanismo financeiro vai compensar os países que já estão sofrendo com eventos climáticos extremos
No último domingo (20), chegou ao fim a COP27, em Sharm el-Sheikh, no Egito, com um acordo sobre a criação de um fundo de perdas e danos (loss and damage, em inglês). O mecanismo de financiamento visa compensar as nações vulneráveis aos impactos dos eventos climáticos extremos.
Para o chefe das Nações Unidas, António Guterres, este é um passo em direção à justiça. Ao longo dos últimos anos, os países em desenvolvimento fizeram fortes e repetidos apelos para a criação de um fundo de perdas e danos, para compensar os países mais vulneráveis aos desastres climáticos, e que pouco contribuíram para a crise, sendo historicamente um dos menores emissores de gases de efeito estufa.
Guterres afirma que é “um sinal político muito necessário para reconstruir a confiança quebrada”, apesar de acreditar que o fundo não seja suficiente para evitar tragédias climáticas. Ele afirmou que é preciso reduzir drasticamente as emissões agora, mas esta é uma questão que a COP não abordou, dizendo que o mundo ainda precisa dar um salto gigantesco na ambição climática e acabar com o vício em combustíveis fósseis investindo “massivamente” em energias renováveis.
Na avaliação da organização TNC (The Nature Conservancy), o Plano de Implementação de Sharm Al-Sheik é um reconhecimento de que os países que mais contribuíram para a mudança do clima devem se responsabilizar em pagar esta conta.
“Este acordo prevê a criação de um comitê que será responsável por fazer recomendações para as regras de funcionamento deste novo mecanismo financeiro e apresentá-las na COP 28, quando também se espera que seja debatido quem efetivamente participa e quanto de dinheiro será destinado a esses países”, aponta a TNC.
O Observatório do Clima, formado por uma vasta rede de organizações da sociedade civil, chamou o fundo de “revolucionário”, mas condenou o fato da menção de Glasgow a uma redução gradativa (“phase down”, no jargão dos diplomatas) dos combustíveis fósseis fosse eliminada do texto.
“O texto da COP27 faz apenas referência, pela primeira vez, a energias renováveis e de ‘baixa emissão’, um jabuti egípcio. Pode parecer um avanço, mas é insuficiente para a ciência e deve acabar justificando uma sobrevida ao gás natural”, avalia o Observatório do Clima.
Para a rede, o ponto principal foi deixado de lado, que é o fato de como acelerar o corte de emissões de modo a evitar que o aquecimento global ultrapasse 1,5oC neste século.
Outro ponto de tensão foi o financiamento climático de US$ 100 bilhões anuais de 2020 a 2025 prometidos pelos países desenvolvidos, que continuam sem definição sobre quando e como serão pagos.
“Se por um lado foi alcançado um resultado histórico com a criação de fundo para perdas e danos, por outro andamos de lado mais uma vez em relação à ambição climática. Um ano já se passou desde Glasgow e o que vimos foram países querendo retroceder. Temos agora apenas sete anos para cortar as emissões de gases de efeito estufa pela metade para limitar o aumento da temperatura a 1,5oC. O programa de trabalho em ambição climática aprovado não garante que as reduções vão acontecer na velocidade que precisamos”, avalia Stela Herschmann, especialista em Política Climática do Observatório do Clima.
“Melhoramos a distribuição do remédio, mas não avançamos no tratamento da doença”, disse Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. “Sem um aumento significativo na ambição das metas nacionais e sem atingir o nível de financiamento adequado para adaptação e mitigação, o fundo de perdas e danos será um eterno trabalho de Sísifo, vencido constantemente por uma realidade climática cada vez mais violenta. Não vai haver recurso de perdas e danos que baste.”
Para o Climainfo, as negociações climáticas abordaram os sintomas da crise climática, mas pouco fizeram para abordar suas causas. O site trouxe um resumo geral dos vários pontos levantados no evento – confira aqui.