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COP 26
O primeiro-ministro Boris Johnson e o presidente da COP26, Alok Sharma. Foto: Andrew Parsons | No 10 Downing Street

Um dia após o previsto, no último sábado (13), terminou a Conferência do Clima de Glasgow (COP26). A repercussão geral é que o acordo final desaponta, apesar de trazer avanços.

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A série de manifestações de jovens realizadas em paralelo à cúpula não foram suficientes para que decisões e metas fossem estipuladas em definitivo. Passos radicais e imediatos para manter o 1,5 ºC como limite do aquecimento neste século, por exemplo, foram adiados. Os países terão até a COP27, que ocorrerá no Egito, para apresentar seus planos climáticos. Ressaltando que se as promessas feitas para 2030 forem cumpridas, o mundo ainda pode aquecer 2,4°C, de acordo com um estudo do Carbon Action Tracker.

“O objetivo em Glasgow era encerrar a lacuna para 1,5 ºC e isso não aconteceu, mas em 2022 as nações terão que voltar com metas mais ambiciosas. A única razão pela qual conseguimos o que fizemos aqui foi porque jovens, líderes indígenas, ativistas e países na linha de frente do clima forçaram concessões que foram feitas de má vontade. Sem eles, essas negociações sobre o clima teriam fracassado completamente”, afirma Jennifer Morgan, Diretora Executiva do Greenpeace Internacional.

Para a gerente de Políticas Públicas e Relações Governamentais da The Nature Conservancy Brasil (TNC), Karen Oliveira, os compromissos financeiros não serão suficientes para “pagar a conta climática”. A executiva explica que, quando se fala em financiamento, é preciso dividi-lo em duas partes: os que são vinculantes, estabelecidos dentro do Acordo de Paris; e os que são compromissos entre países sinalizados por meio de acordos bilaterais ou multilaterais.

Em relação aos financiamentos vinculantes, houve pouco avanço concreto. “É um ponto que ficou para depois, que está dentro da carta de intenções da COP26. Ainda que haja a manutenção dos compromissos dos países mais ricos em ajudar os em desenvolvimento, não há cronograma, metas claras nem o como fazer para chegar aos 100 bilhões de dólares desde 2015”, avalia Karen.

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Marcha para o clima | The Left in the European Parliament

Entre os destaques do documento, há o compromisso pela redução gradativa dos subsídios aos combustíveis fósseis e o uso do carvão. O texto preliminar falava em “eliminação gradual”, mas foi modificada por “redução gradual” após pedido da Índia e China com apoio dos EUA e da União Europeia. Ainda assim, a promessa foi aclamada por ser inédita na COP.

Outra resistência que teve destaque na conferência foi a negativa quanto ao pedido de financiamento para um mecanismo que cubra as perdas e os danos que os países mais vulneráveis ​​do mundo já estão experimentando. Coube a Nicola Sturgeon, primeira-ministra da Escócia, anunciar £ 1 milhão para o fundo. Valor se soma a outros US $ 3 milhões, prometido por um grupo de organizações filantrópicas, e, posteriormente, a ministra dobrou a promessa para dois milhões de libras. Trata-se do primeiro apoio direto aos países atingidos por condições climáticas extremas e aumento do nível do mar.

Confira abaixo uma síntese de decisões de destaque da Conferência do Clima:

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  • Líderes de mais de 120 países, representando cerca de 90% das florestas do mundo, se comprometeram a conter e reverter o desmatamento até 2030.
  • Mais de 100 países concordaram em reduzir as emissões de gás metano até 2030. Calcula-se que este gás seja 80 vezes mais poluente do que o CO2.
  • Mais de 40 países, incluindo grandes usuários de carvão como Polônia, Vietnã e Chile, concordaram em abandonar o minério.
  • Estados Unidos e China assumiram compromisso para aumentar a cooperação climática na próxima década.
  • Cerca de 500 empresas de serviços financeiros globais concordaram em levantar US$ 130 trilhões – cerca de 40% dos ativos financeiros mundiais – para alcançar as metas estabelecidas no Acordo de Paris.
  • Escócia anuncia £ 2 milhões para um novo fundo de perdas e danos para os países mais vulneráveis à crise climática.
  • Países como Irlanda, França, Dinamarca e Costa Rica lançaram aliança para definir uma data final para a exploração e extração nacional de petróleo e gás.

Brasil na COP26

O Brasil deixa a Conferência com a assinatura de dois acordos e o compromisso de revisar sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) no ano que vem. Confira abaixo os anúncios feitos pelo Brasil com análise do Greenpeace:

  • Tornar-se carbono neutro até 2050 e cortar em 50% as emissões até 2030: O governo brasileiro sinalizou que a meta do carbono neutro deve ser alcançada por meio de compensações via mercado de carbono, e não pelo corte das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Portanto não teremos uma real diminuição das emissões, e sim uma concessão para que os grandes poluidores continuem poluindo por meio da compra de créditos de carbono.
  • Redução em 30% da emissão de metano até o final da década, em relação a 2020, em conjunto com mais de 100 países: Para isso o país precisará diminuir seu rebanho bovino, principal emissor desses gases no Brasil e responsável por mais de 70% das emissões de metano.
  • Fim do desmatamento até 2030, em conjunto com mais de 100 países, com a mobilização de 19,2 bilhões de dólares para esse esforço: Na prática, essa meta dá sinal verde a mais uma década de destruição da floresta e voltamos para os patamares anunciados em 2015.