Buracos em semicírculo estão ajudando a recuperar o solo no Quênia
A técnica simples e ancestral ajudou a recuperar 766 hectares em uma comunidade no país.
A técnica simples e ancestral ajudou a recuperar 766 hectares em uma comunidade no país.
Cavar buracos rasos em formato de semicírculo pode parecer uma técnica muito simples, mas foi ela que ajudou a recuperar 766 hectares (o equivalente a mais de mil campos de futebol) nas terras da comunidade Maasai, no Quênia.
O Rancho do Grupo Kuku está localizado no sul do país africano e atua como um corredor crítico de vida selvagem entre o Parque Nacional Amboseli e o Parque Nacional Tsavo. A fazenda do grupo abriga cerca de 29 mil pessoas Maasai que dependem principalmente da terra como principal fonte de renda e alimentação.
Devido ao excesso de pastagem e às mudanças climáticas, a área tornou-se muito seca, dificultando para as comunidades locais viverem da terra. Foi então que a organização holandesa JustDiggIt propôs um sistema para restaurar a terra degradada. O projeto foi desenvolvido juntamente com a comunidade Maasai em parceria com a Maasai Wilderness Conservation Trust (MWCT).
A solução criada por eles foi cavar, com a ajuda de enxadas, diversos buracos rasos semicirculares para a retenção da água da chuva, como em um jardim de chuva. Até o momento, a comunidade Maasai já cavou 150.048 semicírculos que resultaram no reflorestamento de 766 hectares da área. A técnica simples e de baixo custo foi adotada para que pudesse ser replicada facilmente.
Chamados pela organização do projeto de “sorrisos de terra”, os diques rasos semicirculares (bunds, em inglês) funcionam como um jardim de chuva. Eles são escavados para capturar a água da chuva que, de outra forma, seria levada pelo solo seco e compactado.
A recuperação da vegetação tem muitos efeitos positivos no clima, no meio ambiente e na biodiversidade, nas pessoas e em seus meios de subsistência. “Ao cavar mais de 150.000 buracos semicirculares, conseguimos trazer de volta a vegetação no Rancho do Grupo Kuku, gerando benefícios ambientais e tornando a terra útil novamente para a comunidade”, afirma a organização JustDiggIt.
O projeto também implementou cinco bancos de sementes, que são administrados por cinco grupos diferentes de mulheres Maasai. Mais de 90 mulheres cultivam, colhem e vendem as gramíneas (feno) e sementes. Elas obtêm uma renda vendendo-os em mercados locais ou para organizações. Essa renda serve como meio de subsistência alternativo, tornando as mulheres mais independentes. Os bancos de sementes de capim formam um oásis verde nos arredores áridos, e o feno que as mulheres colhem é alimento para o gado nas estações secas.
O aquecimento global e as secas persistentes causam degradação da terra em muitas áreas africanas. A camada superior do solo torna-se dura, o que impede que a água da chuva se infiltre no solo. Essa água da chuva flui para áreas mais baixas e lava a camada superior do solo fértil.
A vegetação torna-se tão grande e extensa que começa a se espalhar e crescer fora dos canteiros, aumentando ainda mais a infiltração de água fora dos semicírculos. As sementes da vegetação se espalham e começam a crescer para fora, levando a um reflorestamento ainda maior.
Neste documentário é possível conferir todos os detalhes!
A organização JustDiggIt também atua em outros países da África levando essa e outras técnicas. Confira o resultado do mesmo sistema usado na Tanzânia: