Feira de Sementes e Mudas Quilombolas volta ao Vale do Ribeira
Depois de 2 anos, associações quilombolas e parceiros, voltam a realizar a tradicional feira de troca de sementes e mudas
Depois de 2 anos, associações quilombolas e parceiros, voltam a realizar a tradicional feira de troca de sementes e mudas
Foi um período longo, difícil, de perdas e luto. Mas também de muita resistência. Quilombolas do Vale do Ribeira encontraram novos caminhos e superaram os tempos sombrios da pandemia da Covid-19 com ações de combate à fome, doando produtos de suas roças tradicionais a comunidades vulneráveis do Vale do Ribeira e da periferia da capital paulista.
Para celebrar os desafios e as conquistas desse período de incertezas, as associações quilombolas e seus parceiros, que formam o GT (Grupo de Trabalho) da Roça, voltam a realizar a tradicional feira de troca de sementes e mudas dos quilombos da região. Será nos dias 19 e 20 de agosto, na cidade de Eldorado (SP).
A 13ª edição, que completa 15 anos, vai abordar a importância das roças e a relevância da garantia legal desse direito dentro do prazo de plantio. A proposta é avaliar com comunidades e o Estado de São Paulo os resultados e aprendizados de um processo mais autônomo para as autorizações de roças, trazido pela Resolução 028/2020, e como isso impacta na soberania alimentar e na geração de renda das famílias.
Desde o início da pandemia de Covid-19, a resolução dispôs sobre a concessão de autorizações emergenciais para implantação de roças de comunidades tradicionais do Estado de São Paulo.
Como em todos os anos, desde 2008, quando aconteceu a primeira edição da feira, o evento cresceu e se consolidou reunindo agricultores e agricultoras quilombolas dos municípios da região.
Além das trocas e da comercialização de sementes e mudas, acontece uma festa de encontros, reencontros, afetos e trabalho entre parceiros, companheiros e visitantes de outros povos e comunidades tradicionais e também da agricultura familiar agroecológica.
Vale ressaltar que a feira nasceu de uma demanda dos agricultores para manutenção das variedades agrícolas que estavam se perdendo em função das restrições da legislação ambiental para a feitura das roças, promovendo a troca de sementes e a circularidade de espécies entre os territórios.
Assim foi criado o Grupo de Trabalho da Roça (GT da Roça), que organiza a feira e é formado pelo Instituto Socioambiental (ISA), a Eaacone (Equipe de Articulação e Assessoria às Comunidades Negras), a Cooperquivale (Cooperativa dos Agricultores Quilombolas do Vale do Ribeira) e mais 19 associações quilombolas. O GT também conta com outros parceiros e apoiadores que se agregam em diferentes momentos.
Durante a feira, que é uma das principais ações de salvaguarda do Sistema Agrícola Tradicional Quilombola do Vale do Ribeira, será lançado o livro Na companhia de Dona Fartura, uma história sobre cultura alimentar quilombola, obra coletiva que valoriza a importância da proteção dos territórios quilombolas, fundamentais para a conservação da Mata Atlântica no Vale do Ribeira (SP). Escrito por autores quilombolas e aquilombados, a publicação é uma realização do GT da Roça, ISA e Cooperquivale, com apoio da União Europeia.
No dia 19 de agosto, na parte da manhã, acontece o seminário Roça é Vida: Direitos, conquistas e demandas quilombolas com debates sobre questões que permeiam as roças e a agrobiodiversidade dos territórios quilombolas. À tarde, estão programadas oficinas temáticas – quem quiser participar, precisa realizar a inscrição no período da manhã.
No sábado, dia 20, a Praça Nossa Senhora da Guia, no centro de Eldorado, será o palco da festa das sementes e mudas, lotada de barraquinhas com os mais diferentes produtos das roças e com muitas atrações culturais. Nesse ambiente festivo se fazem as trocas e se comercializam sementes, produtos, alimentos e artesanatos.
Por Maria Inês Zanchetta – Jornalista do ISA
Você pode contribuir com o ISA, instituição que há décadas trabalha com ações de comunicação, articulação e mobilização política na defesa dos direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais, como quilombolas e comunidades ribeirinhas. Os recursos serão direcionados para o Fundo de Defesa dos Direitos dos Povos, além de iniciativas para adesão de novos apoiadores.