Talos e caroços de uva têm potencial para chá antioxidante

Desperdiçados na produção de vinho, os resíduos podem ser transformados em um chá rico em nutrientes

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Pele, talos e caroços de uva não são aproveitados após a extração do suco nas vinícolas. | Foto: Maja Petric | Unsplash

O Brasil produz cerca de 1,5 milhões de toneladas de uva por ano, segundo a Embrapa, e quase a metade da produção é destinada à indústria do vinho, suco e derivados. Tanto processamento gera uma grande quantidade de resíduos, mas um novo estudo aponta uma alternativa: transformar os resíduos de uva em um chá antioxidante.

Pele, talos e caroços de uva não são aproveitados após a extração do suco nas vinícolas. A estudante de Ciência dos Alimentos da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP), Elisa Resende, descobriu então o potencial de utilizar o que seria descarte em um chá rico em nutrientes.

“A gente foi analisar o que tem nesse resíduo, quais são as propriedades e qual destino seria possível dar para esse resíduo. Diante disso, a gente fez uma análise e buscamos por compostos que são importantes para a saúde humana, a gente estava em busca de compostos bioativos”, explica a professora Wanessa Melchert Mattos, que orienta a pesquisa de iniciação científica.

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Foto: Pixabay

Na análise em laboratório, dos resíduos de uva, as pesquisadoras encontraram propriedades interessantes, que possuem benefícios para a saúde. “A gente focou nos compostos fenólicos, que possuem propriedades principalmente relacionadas às ações antioxidantes, antimicrobianas, anti-inflamatórias e vasodilatadoras. Na literatura, esses compostos fenólicos são conhecidos por terem propriedades antitumorais, antienvelhecimento, e eles podem auxiliar nas doenças cerebrais e também nas artrites reumatoides”, expõe Wanessa.

Após a análise e a descoberta desses compostos benéficos para a saúde humana, o próximo passo foi elaborar um produto à base dos resíduos do vinho que pudesse ser consumido pela população.

Como a uva foi transformada em chá antioxidante

A professora conta o passo a passo para a elaboração do chá. “Retiramos primeiro uma quantidade grande de água, depois colocamos numa estufa onde a gente consegue controlar a temperatura. Deixamos ali com 60º C por umas duas horas, depois moemos como no moinho para diminuir essa partícula. Com isso, criamos uma farinha desse resíduo. Peneiramos e então colocamos essa farinha dentro de um sachêzinho, e fizemos uma infusão. Depois avaliamos no chá os compostos fenólicos e o que a gente percebeu é que esses compostos fenólicos ali presente estavam na mesma quantidade ou até superiores aos chás que a gente compra no mercado”.

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O Brasil produz cerca de 1,5 milhões de toneladas de uva por ano. | Foto: J Yeo | Unsplash

A pesquisadora conta que, antes de virar um produto, a farinha proveniente dos resíduos ainda deve passar por algumas outras análises. “A gente vai passar agora para os ensaios microbiológicos, para saber se o chá está adequado para consumo humano, e uma próxima etapa é a análise sensorial para saber se isso vai ser aceito pelo público. A gente pode pensar também na incorporação dessa farinha em outros alimentos, como bolo ou cookie. A gente ainda tem um caminho longo”, finaliza a professora Wanessa.

Com informações do Jornal da USP