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corante uva
Foto à esquerda: Zachary Brown | Unsplash. Foto à direita: Professor Maurício Ariel Rostagno | Arquivo Pessoal

De vegetais, frutas e legumes, é possível extrair inovações da natureza: corantes orgânicos, que podem substituir versões sintéticas (artificiais) e que já contam com alta aplicabilidade, em diversas indústrias: da têxtil à alimentícia. Um corante natural pode ser instável a depender das condições de luz e temperatura do meio em que é aplicado, sendo um desafio estabilizar suas características, ainda assim cientistas da Unicamp conseguiram obter um excelente corante a partir de resíduos da uva.

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O processo de estabilização de componentes muitas vezes exigem um gasto maior de energia e um maior uso de recursos orgânicos, o que provoca impactos negativos no meio ambiente. Para contornar esse problema, pesquisadores da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) e da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), ambas da Unicamp, desenvolveram uma alternativa mais rápida e natural para a criação de corantes a partir da casca de uva, que contém o componente antocianina, responsável pela cor da fruta.

Maurício Ariel Rostagno, professor da FCA e um dos inventores da tecnologia, destaca que a proposta é 100% ecológica, já que a resina aplicada na purificação pode ser reutilizada por oito ciclos diferentes sem que haja a perda de sua eficiência.

“Temos uma proposta que é muito mais sustentável para o meio ambiente e mais saudável para as pessoas. Afinal, corantes sintéticos provocam grande preocupação pelos riscos de alergia e impactos na saúde. E as empresas começam a ser cobradas sobre isso, o que nos leva a ter uma grande demanda de mercado. Procuramos formas mais eficientes e mais verdes para purificar esses compostos, com menor impacto ambiental e custo mais baixo”, comenta.

A nova tecnologia, que teve pedido de patente depositado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) com estratégia da Agência de Inovação Inova Unicamp, é um processo rápido que não utiliza solventes orgânicos de alta volatilidade e apresenta resultados muito mais estáveis do que os pigmentos obtidos com a extração por meio de etanol ou água.

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Além disso, o processo não demanda equipamentos sofisticados e nem mão de obra especializada.

“Um ponto importante desse processo é a estabilidade. Conseguimos ter um alto rendimento e uma alta pureza, ao mesmo tempo em que aumentamos a estabilidade dos compostos, obtendo uma estabilidade maior do que a dos processos convencionais. Temos uma recuperação acima de 90% dos solventes”, salienta o profissional.

Desafios da indústria

O uso de corantes naturais é uma prática antiga da humanidade. No entanto, o uso foi perdendo força com o avanço dos corantes sintéticos, que ofereciam cores mais estáveis do que os produtos naturais.

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Mas a pigmentação de alimentos e tecidos com corantes artificiais exige elevado gasto energético e a aplicação de solventes orgânicos e estabilizantes químicos com alta toxicidade e altos níveis de contaminação da água. Os solventes utilizados também não promovem um alto rendimento de extração ou seletividade no processo, o que demanda a aplicação de novas etapas subsequentes de purificação.

Só na indústria têxtil, cerca de 90% do consumo de água ocorre no processo de tinturaria e acabamento, encarecendo esse processo e produzindo resíduos em excesso. Além disso, são produtos que surgem a partir da extração de petróleo, uma fonte de energia não renovável.

Cores vivas e ecológicas

Com o novo processo, os corantes naturais atingem uma pureza de 90%, garantindo uma cor viva e mais estável. Os solventes também permitem o uso dos corantes em altas temperaturas, o que amplia as possibilidades do seu uso pela indústria.

Maurício destaca ainda como benefício da nova tecnologia o aproveitamento de resíduos da fruta que muitas vezes são descartados no setor agrícola e que, agora, podem ser aproveitados como matéria-prima para novos produtos, o que também contribui para um melhor aproveitamento dos recursos naturais.

corante de uva
O professor Maurício Ariel Rostagno, da Faculdade de Ciências Aplicadas (FCA) exibe corante obtido com resíduo da uva. | Foto: Arquivo pessoal.

“Recuperar esses compostos, que seriam descartados como adubo, gera muito mais valor agregado à produção da uva. Além de toda a reciclagem dos absorventes que permanece durante o processo desenvolvido na Unicamp”, explica.

Além de Rostagno, participaram do desenvolvimento da tecnologia Leonardo Mendes de Souza Mesquita, Juliane Viganó, Letícia Sanches Contieri e Vitor Lacerda Sanches.

Escala comercial

Para que o novo corante à base de casca de uva chegue ao mercado e possa ser produzido em escala comercial, o licenciamento da tecnologia é necessário. A Inova Unicamp é a responsável na Universidade por receber os contatos e realizar as negociações nesse sentido.

Empresas interessadas em ter acesso à tecnologia da Unicamp para o desenvolvimento de produtos com aplicação de processos inovadores podem entrar em contato com a Inova pelo formulário de Conexão Pesquisa e Mercado.

As informações são da Agência de Inovação Inova Unicamp.