PEC que pode privatizar praias é debatida no Senado

“Essa PEC não nos representa”, afirma representante do Movimento das Pescadoras e Pescadores Artesanais durante audiência pública

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Foto: David Emrich | Unsplash

Em meio à maior tragédia climática do Brasil, a CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) realiza, nesta segunda-feira (27), uma audiência pública para discutir a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 3/2022, que permite vender os terrenos do litoral brasileiro sob o domínio da Marinha aos seus ocupantes particulares. Quando ocupados por estados ou municípios, segundo a proposta, a “transferência” seria gratuita. Na prática, a medida abre espaço para a privatização de praias, de acordo com especialistas.

O texto da PEC 3/2022, que teve origem na Câmara dos Deputados, busca alterar a Constituição Federal de 1988 – onde está estabelecido que os chamados “terrenos de marinha” são bens da União, ou seja, bens públicos de uso coletivo com finalidade socioambiental.

“Os terrenos de marinha são as áreas situadas na costa marítima que contornam as ilhas, as margens dos rios e das lagoas, em faixa de 33 metros medidos a partir da posição do preamar (maré cheia) médio de 1831”, explica a Agência Senado. Estão incluídas as praias, ilhas, mangues, assim como margens de rios e lagoas que sofrem influência da maré.

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Foto: Leo Foureaux | Unsplash

Sob a relatoria do senador Flávio Bolsonaro, a proposta já é chamada de “PEC da Cancún brasileira”, em referência à cidade mexicana repleta de resorts e praias de difícil acesso.

Em entrevista à Rádio Nacional, a diretora do Departamento de Oceano e Gestão Costeira do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Ana Paula Prates, afirmou que a PEC não privatiza diretamente as praias, mas pode levar ao fechamento dos acessos às áreas de areia. “Na hora em que esses terrenos todos que ficam após as praias forem privatizados, você começa a ter uma privatização do acesso a elas, que são bens comuns da sociedade brasileira”.

Aumentar a fragilidade na proteção de ambientes marinhos, colocar em risco a adaptação às mudanças climáticas e ao próprio modo de vida das comunidades tradicionais que vivem em áreas litorâneas são alguns dos riscos levantados. Entenda os riscos da PEC 03/2022 nesta matéria.

praia de jurere nacional, em rio de Rosana, interior de São Paulo
Praia de Jurerê Nacional, em rio de Rosana, interior de São Paulo. Foto: Prefeitura de Rosana

“Essa PEC não nos representa, esse desenvolvimento não tem nada a ver com a gente. Quem mora na beira dos rios, quem mora na beira dos lagos, em área de marinha, é quem sofre com os assoreamentos, que sofre com o desmatamento dos grandes empreendimentos. A gente sabe que o teor dessa PEC, no fundo, visa a urbanização das orlas”, afirmou, durante a audiência, Ana Ilda Nogueira Pavã, representante do Movimento das Pescadoras e Pescadores Artesanais.

“Já foram apresentados vários diagnósticos aqui, vários estudos, mas esqueceram de falar da vida. Muitos têm perdido a sua vida por serem retirados de seus territórios por causa de grandes empreendimentos que têm focado [seus negócios] na orla marinha”, completou. Ela cita pessoas que por coação e medo de represália são obrigadas a deixarem seus territórios. A audiência por ser acompanhada on-line neste link.

Qual a sua opinião?

Uma consulta pública foi aberta no site do Senado para que a população possa dar seu parecer sobre a PEC 03/2022. Até às 16:35 desta segunda-feira (27) quase 50 mil pessoas votaram não, demonstrando não apoiar essa proposição. Se você é contra a PEC em questão, pode votar em NÃO – veja aqui.

Com informações da Agência Senado e Agência Brasil