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Estudo mostra que distância favorece árvores da mesma espécie

Pesquisadores descobriram que afastamento de árvores da mesma espécie é uma estratégia de sobrevivência em florestas tropicais

floresta tropical
Ilha de Barro Colorado, no Canal do Panamá. Foto: Christian Ziegler | Wikimedia Commons (Licença CC BY 2.5)

A biodiversidade das florestas tropicais impressiona. Em uma área de 1 quilômetro quadrado podemos encontrar centenas de espécies de fauna e flora, convivendo em equilíbrio. E é justamente nesta mistura que está a resiliência de grandes árvores. Um estudo realizado no Panamá por pesquisadores da Universidade do Texas em Austin (UT Austin) revelou que as árvores adultas da mesma espécie estão distantes uma das outras – e que esta é uma ótima tática para sobrevivência.

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“É mais provável que uma árvore sobreviva quando cercada por diferentes espécies de árvores com diferentes necessidades de recursos, doenças e herbívoros”, detalha o estudo.

Em áreas tão densamente ocupadas, os indivíduos da mesma espécie que cresçam próximos uns dos outros podem competir pelos mesmos recursos, podendo colocar em risco a sua sobrevivência e a estabilidade da população. Além disso, também seriam mais vulneráveis à possíveis ameaças.

O estudo “Repulsão espacial generalizada dentro da espécie entre árvores tropicais adultas” mostra que árvores adultas são impactadas negativamente pela mesma espécie e pelos fungos, patógenos e insetos que as ameaçam. Assim, criam espaço para evitar a dominação de alguma espécie em particular, o que leva a uma maior diversidade florestal.

Mata Atlântica
Vista da mata atlântica na Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro. | Foto: Tomaz Silva | Agência Brasil

O estudo foi realizado na ilha de Barro Colorado, no Canal Panamá, e tem como base dados recolhidos na região ao longo de 30 anos, em uma área equivalente a 100 campos de futebol, . Os pesquisadores descobriram que as árvores adultas da mesma espécie estão três vezes mais distantes entre si do que das de outras espécies.

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Uma informação surpreendente é que a distância entre as árvores é muito maior do que a distância que as sementes normalmente percorrem durante a dispersão, fenômeno que ainda vai ser investigado pelos cientistas.

“Devido à abundância de dados disponíveis nesta floresta em particular, sabíamos a localização exata de cada árvore e também a distância que as sementes viajam”, disse o pesquisador de pós-doutorado e principal autor do estudo Michael Kalyuzhny no comunicado à imprensa. “Pudemos perguntar: como deve ser a floresta se as árvores apenas se estabelecerem onde as sementes caíram? Com nossos modelos computacionais, descobrimos que a floresta real não se parece nada com isso – as árvores reais estão muito mais distantes umas das outras.”

A equipe disse que o estudo ajuda a reconciliar teorias contrastantes sobre o desenvolvimento das florestas, além de fornecer informações essenciais sobre como as florestas tropicais e suas espécies evoluem e se diversificam em um período de extinção em massa.

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Amazônia
A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo. Foto: Tamara Saré | Agência Pará

“As árvores são os engenheiros que fornecem recursos para todo o ecossistema e, como a maioria das espécies do mundo reside nos trópicos, devemos entender melhor o que mantém a biodiversidade do planeta Terra”, disse Kalyuzhny no comunicado à imprensa. “Muitos medicamentos são provenientes dos trópicos, incluindo milhares de substâncias com atividade anticancerígena. A pesquisa se aprofunda nessa questão fundamental sobre o mundo natural”.

O pesquisador reforça que estas descobertas são particularmente importantes em um cenário de alterações climáticas velozes. Sabendo que as florestas tropicais são abrigos da biodiversidade do planeta, entender como se constrói a diversidade desses locais é fundamental para sua proteção.

“Este é um trampolim para entender a dinâmica de coisas como o armazenamento de carbono. Mesmo que as todas as aplicações deste estudo ainda não sejam conhecidas, ele mostra que ainda há muito o que aprender”, disse Annette Ostling, uma das autoras do estudo e professora associada do Oden Institute for Computational Engineering and Sciences da UT Austin e do Departamento de Biologia Integrativa.

Os pesquisadores acreditam a estratégia de repulsão das árvores da mesma espécie serve para aumentar a probabilidade de sobrevivência da espécie. Isto, porque se estiverem muito próximas umas das outras, doenças que afetam essa espécie podem propagar-se mais facilmente, colocando em risco a população local desse grupo específico. Como consequência deste afastamento, uma mesma área é tomada por diversas espécies. A biodiversidade, por sua vez, diminui a vulnerabilidade do ecossistema, promovendo uma coexistência equilibrada e saudável.

Amazônia
Foto: Valdemir Cunha | Greenpeace