Estudo encontra microplásticos em peixes e praias de Ubatuba

Pesquisadores apontam a necessidade de ações governamentais e da comunidade para reduzir danos para peixes e para o ecossistema

praia em Ubatuba
Praia em Ubatuba. Foto: Nathalia Segato | Unsplash

Fragmentos de microplásticos estão presentes em peixes e nas águas e sedimentos das praias de Barra Seca e Perequê-Açú, no município de Ubatuba, em São Paulo. É o que constata um estudo da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) e Universidade Estadual Paulista (Unesp) publicado nesta sexta, 7 de junho de 2024, na revista científica “Neotropical Ichthyology”.

O trabalho, realizado ao longo do ano de 2021, coletou 120 peixes da espécie Atherinella brasiliensis, ou peixe-rei, em três regiões da costa ubatubense, e encontrou partículas sintéticas de plástico no corpo de 38% dos peixes analisados. Além dos peixes, foram examinadas cinco amostras de água da superfície marinha e cinco porções de areia coletadas nas diferentes regiões no inverno e no verão.

A ideia era comparar a presença de microplásticos no ambiente e no trato digestivo dos animais. Para completar as análises, os cientistas avaliaram variáveis como a temperatura, a acidez e a presença de sólidos suspensos ou turbidez da água, utilizando uma sonda.

O pesquisador George Mattox, da Ufscar, um dos autores do estudo, explica que o peixe-rei é uma espécie onívora, que se alimenta de plantas, algas e outros peixes, e pode consumir esses fragmentos de plástico por engano. “Muito provavelmente, ele ingere as partículas sintéticas porque elas têm o mesmo tamanho e a mesma cor do alimento natural”, destaca.

Praia do Perequê Açu, em Ubatuba, São Paulo.
Praia do Perequê Açu, em Ubatuba, São Paulo. Foto: DEYVESMARTINS | WIKIMEDIA COMMONS

A maior parte das partículas coletadas era transparente ou azul e contava com formato fibroso, enquanto o tamanho da fibra se mostrou relacionado com o porte do peixe.

Na água e no solo, a quantidade de detritos sintéticos variou entre as praias. O valor máximo ocorreu nas águas de Barra Seca, com 490 partículas por metro cúbico no verão. Para fins de comparação, o valor mínimo registrado pelo trabalho – 300 partículas por metro cúbico – ocorreu também no verão, na porção da praia de Perequê-Açú classificada como brava pela pesquisa.

Barra Seca também foi o local onde os peixes coletados apresentaram maior taxa de contaminação – cerca de metade dos indivíduos analisados tinham resquícios de material sintético no organismo. Isso indica a relação entre a concentração de partículas no ambiente e sua presença no organismo dos animais.

Os pesquisadores explicam que a praia Barra Seca é mais calma e tende a acumular mais sujeira por conta do regime de correntes. Mattox pontua ainda que a praia de Barra Seca é o destino de desembocadura de rios, os principais aportes de resíduos e partículas plásticas que vêm do continente.

Segundo o autor, as consequências da presença de micropartículas sintéticas nesses ambientes têm efeitos muito além dos imediatos. “Quando ingeridos pelos peixes, esses plásticos não são digeridos e vão se acumulando no organismo. Eventualmente, o peixinho pode morrer entupido de plástico”, diz.

Praia em Ubatuba
Foto: Alessio Bento | Unsplash

Mattox também salienta que podem haver graves repercussões para o ecossistema e para os seres humanos. “Qualquer animal que coma esse peixe vai comer o plástico que está dentro dele, inclusive os pescadores artesanais, ribeirinhos e caiçaras, por exemplo”, completa.

Para evitar que esse cenário continue se perpetuando, os pesquisadores indicam que é necessário um esforço conjunto entre as autoridades e a população. “Esperamos que, com esses resultados, possamos fomentar políticas públicas no sentido de conscientizar a população e os tomadores de decisão para darem o destino adequado para o plástico e atuarem em prol dos famosos três Rs: redução, reutilização e reciclagem”, conclui Mattox.

Fonte: Agência Bori