Plataforma quer reduzir pegada plástica de empresas no Brasil

Os números são cada vez mais assustadores: 11 milhões de toneladas métricas de lixo plástico sendo descartados nos oceanos todos os anos. Se nada mudar, esse número deve quase triplicar até 2040. Microplásticos estão espalhados pelo mundo, dos polos da terra à chuva que cai. Além disso, já são encontrados em alimentos e até no nosso corpo, no sangue e nos órgãos.

Infelizmente este problema parece estar longe de ser solucionado. “Se todos os compromissos atuais fossem implementados, o que estamos distantes de conseguir, só iríamos reduzir 7% do vazamento de plástico para os oceanos até 2040. Então estamos distantes de estar distante de começar a resolver o problema”, alerta comenta Elise Hungaro, Senior Associate na Delterra. A grave situação é o impulso por trás de um projeto audacioso e necessário: uma plataforma digital para ajudar as empresas e reduzirem a sua “pegada plástica”, com foco em embalagens.

A atenção se justifica, já que cerca de 36% da produção global de plástico está ligada à produção de embalagens e outros itens descartáveis. O setor de consumo e varejo está sob crescente pressão de reguladores, investidores, fornecedores e consumidores para fazer a transição para soluções mais sustentáveis, mas as empresas vêm enfrentando desafios para desenvolver uma estratégia eficaz e um roteiro de implementação.

“Embalagens são responsáveis por uma enorme parcela dessa quantidade de plástico que chega nos oceanos e as soluções para que se tornem mais sustentáveis são diversas e precisam ser combinadas, se adequando às possibilidade de cada empresa e realidade de cada país”, explica Elise, que é responsável pelo desenvolvimento e lançamento da responsável pelo Plastic IQ no Brasil.

O Plastic IQ é uma plataforma digital que pode ser acessada gratuitamente por empresas que querem entender e diminuir o impacto ambiental negativo causado pelo plástico que usam ou produzem. A versão em português já disponível no site plasticiq.global. 

“O Plastic IQ é um excelente aliado para empresas que querem ser pioneiras ao lidar com esse desafio no Brasil, cuja relevância tende a aumentar significativamente ao longo dos próximos anos”, afirma Elise.

O objetivo é reduzir com eficiência a pegada de plástico das empresas e o primeiro passo é aumentar o conhecimento dor tomadores de decisão sobre sobre as diferentes soluções, para projetar e executar uma estratégia de embalagens abrangente e com impacto real, passando pela reutilização, redesenho e reciclagem.

Plastic IQ no Brasil

No Brasil, a plataforma nasceu da união da Delterra, organização sem fins lucrativos, com a Systemiq, consultoria global voltada a mudanças climáticas, e teve o apoio apoio da AYA Earth Partners,   maior ecossistema de negócios para acelerar a economia de baixo carbono do país.

A iniciativa vem preencher uma lacuna importante. A indústria está procurando metodologias eficazes para desenvolver uma estratégia de embalagens sustentáveis, mas nenhum conjunto de ferramentas fornece uma solução holística para ajudar as empresas a fazer a linha de base e o desenvolvimento da estratégia capaz de encontrar a ligação entre valor financeiro, resultado final e impacto ambiental do desempenho de suas embalagens plásticas.

Hoje, os tomadores de decisão não têm acesso a dados confiáveis necessários para fazer planos de longo prazo para embalagens plásticas, e as empresas muitas vezes não têm recursos ou experiência para enfrentar esse desafio.

Com a ferramenta Plastic IQ, é possível definir e compreender a linha de base de embalagens e tomar decisões ancoradas em dados para criar uma estratégia de redução mais eficiente. Além disso, ela também possibilita quantificar o impacto econômico e ambiental da sua pegada plástica, assim como aumentar seu conhecimento em embalagens sustentáveis com treinamentos técnicos para implementação baseados em estudos de casos.

Passo a passo

A plataforma Plastic IQ é composta por três ferramentas, todas de acesso gratuito. A PLASTIC IQ LITE foi projetada para aumentar a conscientização e ajudar os usuários a navegarem o complexo mundo das embalagens sustentáveis antes de iniciar sua jornada na versão Pro, que vai ajudar as empresas a entender o impacto de seu portfólio de embalagens plásticas e a projetar estratégias detalhadas e robustas para melhorar seu desempenho ao longo do tempo.

Na ferramenta PRO, a empresa insere seus dados de uso de plásticos de forma detalhada e informa suas metas para os próximas anos. A partir de uma extensa base de dados o sistema aponta caminhos para diminuir essa pegada em três dimensões possíveis: redução de embalagens, substituição por embalagens melhores e uma melhora no sistema como um todo. Ao final dessa análise, a plataforma oferece um relatório abrangente com métricas palpáveis e resultados projetados, para auxiliar na tomada de decisões da empresa.

Para completar, os tomadores de decisão têm acesso ao BANCO DE SOLUÇÕES, um guia detalhado com as melhores práticas globais para reduzir o desperdício de plástico e estudos de caso relevantes de aplicação no contexto local.

“O desafio é superlativo. Até 2040, a indústria do plástico será responsável por 19% do orçamento global para carbono. Porém, até 64% do gap de circularidade plástica poderia ser fechado através de intervenções e tecnologias já existentes”, conta Patricia Ellen, sócia líder da Systemiq na América Latina e cofundadora da AYA Earth Partners.

A executiva destaca que a resolução da ONU para acabar com a poluição plástica é apoiada por 170 nações e o imposto futuro sobre plástico virgem ou as taxas de EPR podem chegar a US$ 100 bilhões. Segundo estudo do Instituto Ipsos com a Fundação Plastic Free, 380 milhões de novos empregos devem ser gerados até 2030 com a economia circular.

“É importante que as empresas entendam que é vantajoso fazer parte desta solução de circularidade e que, com a transição, é possível transformar esse custo em grandes retornos. Os principais investidores estão ativamente envolvidos neste negócio e os fundos privados, com este foco, cresceram 10 vezes entre 2016 e 2020”, completa Patrícia.