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Indígenas mantêm floresta em pé, produzindo comida em região ameaçada

Com agrofloresta e manejo ecológico de recursos naturais, povo Apurinã dá exemplo de desenvolvimento sustentável na Amazônia

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Terra Indigena Caititu, do povo Apurinã, na região de Lábrea, AM. Foto: Adriano Gambarini

Lábrea é uma cidade do sul do Amazonas e ocupa a quarta colocação no ranking de cidades brasileiras que mais emitem gases de efeito estufa. É nesta região que fica a Terra Indígena Caititu, território do povo Apurinã, um oásis verde que estoca e absorve carbono da atmosfera – mostrando que o manejo sustentável dos recursos naturais é possível e necessário.

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O sul do Amazonas, região de fronteira com os estados de Rondônia e Mato Grosso, tem os maiores índices de desmatamento do estado. Os efeitos do avanço da fronteira agrícola na região foram identificados na segunda edição do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) Municípios, produzido pelo Observatório do Clima, onde Lábrea e Apuí figuram entre as dez cidades que mais emitem gases causadores do efeito estufa no país.

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Terra Indigena Caititu. Foto: Adriano Gambarini

A Terra Indígena Caititu fica próxima ao centro do município: uma área de 308 mil hectares que é e cercada pelo desmatamento, mas que segue conservada graças a iniciativas protagonizadas pelos povos indígenas, como a implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) e o manejo sustentável de castanha-do-Brasil.

Pressionado pela intensa degradação ambiental, o povo Apurinã tem conseguido garantir que, ao menos dentro de seu território, a floresta continue fornecendo os serviços ecossistêmicos fundamentais para o equilíbrio do clima do planeta. Suas atividades são apoiadas pelo projeto Raízes do Purus, realizado pela Operação Amazônia Nativa (OPAN), com patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental.

Comida saudável e floresta em pé

Os Apurinã estão reflorestando uma área equivalente a 13 campos de futebol por meio da implementação de Sistemas Agroflorestais (SAFs), plantio agroecológico que produz alimentos sem desmatar ou usar agrotóxicos. Até o final do projeto Raízes do Purus, em 2024, a previsão é que os que os Apurinã estarão manejando 18 hectares de SAFs, contribuindo para a remoção de 4.366 toneladas de carbono e outros gases de efeito estufa anualmente.

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Mais de 3 mil mudas de diversas espécies foram distribuídas para enriquecer os 22 SAFs da TI Caititu | Foto: Valdeson Vilaça

Nos SAFs, diferentes espécies, são combinadas para produzir um sistema ecológico saudável e equilibrado. Assim, áreas antes degradadas, que não tinham mais capacidade de absorver e estocar carbono, tornam-se altamente produtivas, e voltam a prestar esses e outros serviços ecossistêmicos, como a contribuição para o conforto térmico, e para o regime de chuvas.

E não são apenas as espécies vegetais que ajudam a impedir a emissão de gases de efeito estufa. “Os SAFs são estratégicos na mitigação das mudanças climáticas, porque eles potencializam muito a capacidade do solo, através da vida microbiana, de reter esses gases, evitando que subam para a atmosfera” explica Sebastião Pinheiro, referência nacional da Agroecologia, que assessorou a implementação dos primeiros SAFs na TI Caititu, em 2014.

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Indígenas Apurinã. Foto: Adriano Gambarini

Hoje, os Apurinã cultivam 22 unidades de SAFs, em 20 aldeias. “A diferença de temperatura dentro da agrofloresta e em área aberta é de pelo menos 10°C. As frutas atraem também animais, pássaros, formigas, insetos, que são importantes para a conservação do ecossistema”, explica Antonio de Miranda Neto, indigenista da OPAN.

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Os sistemas agroflorestais fornecem alimentos saudáveis e orgânicos para os Apurinã, e o excedente é comercializado em Lábrea, gerando uma renda sustentável para os indígenas. O urucum, por exemplo, é usado pela família do cacique Marcelino Apurinã para produzir um colorau que é referência de qualidade na região.

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Marcelino Apurinã foi um dos primeiros a apostar nos SAFs como caminho para a regeneração do solo e diversificação do plantio na TI Caititu | Foto: Adriano Gambarini

Cuidando das anciãs da floresta

Ameaçada de extinção, a castanheira (Bertholletia excelsa) é uma espécie grandiosa em muitos sentidos. São árvores que atravessam séculos, e podem chegar a mais de 1000 anos de idade. Imponentes, as castanheiras adultas alcançam de 30 a 50 metros de altura, e podem ter troncos de mais de 2 metros de diâmetro.

Essa espécie precisa da biodiversidade conservada para se reproduzir, pois suas flores são polinizadas por alguns tipos de insetos, que são atraídos por orquídeas encontradas perto das árvores de castanha. Sem estas orquídeas e insetos, as castanheiras não dão frutos.

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Terra Indigena Caititu. Foto: Adriano Gambarini

O povo Apurinã maneja e conserva 116 mil hectares de castanhais na Terra Indígena Caititu, onde estão estocadas 61.651.509 toneladas de carbono. Em 2021, os castanhais removeram 183.661 toneladas de carbono da atmosfera.

Além de manejar os castanhais, os Apurinã protegem todo o território para impedir o desmatamento, que ameaça diretamente a reprodução das castanheiras. Na temporada de coleta da castanha, os manejadores circulam por grandes extensões territoriais, e visitam pontos remotos da Terra Indígena, inibindo a ação de invasores.

“Os indígenas conservam a natureza. E isso não é valorizado pela maioria, como deveria ser. Estamos conservando a nossa terra com nossos conhecimentos, nossa força, e nossa luta”, opina Maria dos Anjos, liderança da aldeia Novo Paraíso.

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Foto: Adriano Gambarini

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