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Sistema pode transformar umidade dos oceanos em água potável

O vapor d’água dos oceanos é praticamente ilimitado e uma fonte inexplorada de água doce

umidade dos oceanos
Como seria o método proposto. Gráfico cedido por Praveen Kumar e Nature Scientific Reports

Desenvolver estruturas capazes de capturar a umidade acima dos oceanos transformando-a em fonte de água doce e potável é o foco de um estudo da Universidade de Illinois Urbana-Champaign, nos Estados Unidos. De acordo com os pesquisadores, esta seria uma alternativa para suprir grandes centros populacionais em várias partes do mundo.

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O direito à água limpa e segura é um direito humano reconhecido pela ONU (Organização das Nações Unidas). Ainda assim, segundo um relatório da órgão publicado em 2022, um quarto da população mundial não tem acesso a água potável. O grave cenário tende a piorar com as mudanças climáticas, que estão aumentando a frequência e a intensidade das secas e inundações.

Buscando uma solução para a insegurança hídrica vivenciada ao redor do globo o estudo de Illinois propõe a instalação de um sistema para capturar a umidade oceânica, uma vez que, segundo os pesquisadores, a “atmosfera acima dos oceanos próxima à terra pode produzir água doce substancial, suficiente para sustentar grandes centros populacionais”.

calor oceanos ponto sem retorno
Foto: Philip Graves | Unsplash

Liderado por Praveen Kumar, professor de engenharia civil e ambiental e diretor executivo do Prairie Research Institute, a pesquisa avaliou 14 locais com estresse hídrico em todo o mundo para a viabilidade de uma estrutura hipotética apta a reter o vapor de água acima do oceano e condensá-lo em água doce.

“Precisaremos encontrar uma maneira de aumentar o fornecimento de água doce, pois a água de conservação e reciclada de fontes existentes, embora essencial, não será suficiente para atender às necessidades humanas”, afirma Kumar. O professor acredita que o novo método proposto pode fazer isso em larga escala.

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Adaptável ao clima

Os pesquisadores realizaram análises atmosféricas e econômicas da colocação de estruturas offshore hipotéticas de 210 metros de largura e 100 metros de altura.

Por meio de suas análises, os pesquisadores concluíram que a captura de umidade sobre as superfícies oceânicas é viável para muitas regiões com estresse hídrico em todo o mundo. Potencialmente, uma grande parte da Ásia, Europa e América do Norte é possível obter uma produção anual de água de cerca de 10 bilhões de litros. Já a parte norte da América do Sul, o leste da África do Sul e o nordeste da Austrália podem fornecer uma produção de água superior a 60 bilhões de litros por ano.

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Foto: Jeremy Bishop | Unsplash

Além disso, no cenário de crise climática, que vislumbra condições cada vez mais áridas, o sistema de coleta de umidade oceânica não só é adequado como até favorecido.

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“As projeções climáticas mostram que o fluxo de vapor oceânico só aumentará com o tempo, fornecendo ainda mais abastecimento de água doce”, diz Afeefa Rahman, estudante de pós-graduação e integrante do estudo. “Então, a ideia que estamos propondo é viável e fornece uma abordagem necessária e eficaz de adaptação às mudanças climáticas, particularmente para populações vulneráveis ​​que vivem em regiões áridas e semiáridas do mundo”.

Alternativa a dessalinização

A pesquisa também aponta que embora as contribuições da dessalinização não possam ser subestimadas, o método requer grande consumo energético e também cria salmoura (resíduo de sal) concentrada e outros subprodutos que, por sua vez, criam desafios ambientais significativos com o custo de descarte. Um texto da Universidade de Illinois Urbana-Champaign cita que a Califórnia recentemente rejeitou medidas para adicionar novas usinas de dessalinização no estado.

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Foto: Lance Asper | Unsplash

Já no novo método proposto, “o ar saturado de água é capturado por estruturas de extração, situadas nos litorais, e depois é condensado e transportado por dutos para depósitos adequados”, explica uma matéria da AFP (Agence France-Presse). Desta forma, ao evaporar e transformar-se em gás, a água do mar perde quase todo o seu sal natural.

Direcionar para onde vai a água evaporada do oceano é a chave deste método. “Quando Praveen me abordou com essa ideia, nós dois nos perguntamos por que ninguém havia pensado nisso antes porque parecia uma solução tão óbvia”, afirma Francina Dominguez, professora de ciências atmosféricas e também participante do estudo. Francina acredita que o fato da pesquisa ser inédita deve-se aos pesquisadores estarem focados em soluções baseadas em terra. “Nosso estudo mostra que outras opções, de fato, existem”, conclui.

As descobertas do estudo foram publicadas no artigo “Aumentando o suprimento de água doce para abordar de forma sustentável a segurança global da água em escala”. Em inglês, o texto está disponível na revista Nature Scientific Reports.