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Óleo ‘de laboratório’ pode reduzir impacto de monoculturas

Cientistas defendem usar processos químicos para fabricar óleo de cozinha e restaurar biodiversidade em áreas agrícolas

óleo
Foto: iStock

Para diminuir a pegada ecológica da pecuária, cientistas estão desenvolvendo carne cultivada em laboratório. Seguindo esta mesma linha, pesquisadores da University of California Irvine estão propondo que óleos de cozinha sejam produzidos em laboratório para evitar o impacto ambiental provocado pela imensidão ocupada por monoculturas de soja, milho e palma.

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Sintetizar gorduras de cozinha é um processo que já é feito em escala industrial global na produção de sabão. Fazer isso para produzir óleo ajudaria a humanidade a devolver milhões de hectares de terras agrícolas à natureza, economizar bilhões de galões de água, evitar a contaminação em massa do meio ambiente com pesticidas e escoamento de nitrogênio ou até destinar estas áreas à agroecologia e métodos de produção de alimentos mais sustentáveis.

Um estudo publicado na semana passada na Nature Sustainability, os cientistas da UCI avaliaram o potencial para a produção sintética em larga escala de gorduras alimentares através de processos químicos e biológicos.

Colheita de soja em Mato Grosso, Brasil
Colheita de soja em Mato Grosso, Brasil | Foto: iStock

As matérias-primas para este método são as mesmas utilizadas pelas plantas: hidrogênio na água e dióxido de carbono no ar. “A síntese em larga escala de moléculas comestíveis através de meios químicos e biológicos sem matérias-primas agrícolas é uma possibilidade muito real”, disse o autor principal Steven Davis, professor de ciência do sistema terrestre da UCI.

“Esse tipo de ‘comida sem agricultura’ poderia evitar enormes quantidades de emissões que provocam o aquecimento global, ao mesmo tempo que pouparia terras com biodiversidade que, de outra forma, poderiam ser desmatadas para explorações agrícolas”, explica Davis.

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A produção de óleo de palma ameaça florestas tropicais em diversas regiões do mundo. Foto: Hans Eiskonen | Unsplash

Os cientistas destacam outros benefícios ambientais e sociais dos alimentos produzidos sem agricultura no artigo, incluindo uma redução no uso de água e na poluição das bacias hidrográficas, controle local sobre a produção, menor risco de escassez de alimentos relacionada ao clima e menor necessidade de trabalho agrícola mal remunerado e fisicamente exigente.

Davis diz ainda que o método pode devolver as terras agrícolas existentes ao seu estado natural, o que poderia aumentar a biodiversidade e criar sumidouros naturais de carbono. A América do Norte já abrigou 170 milhões de acres de pradarias e hoje quase 1% disso são terras agrícolas, de acordo com o Serviço de Parques Nacionais.

A ideia do professor é restaurar as áreas de vegetação nativa e aproveitar seu potencial de armazenamento de carbono. “Isso poderia compensar todas as emissões da América, ao mesmo tempo que restauraria o habitat de milhares de espécies nativas da flora e da fauna”, conta ele.

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professor Steven Davis óleo de laboratório
Steven Davis, professor que conduziu a pesquisa. Foto: UCI

Davis destaca a prática de demolir florestas tropicais para criar espaço para plantações de óleo de palma usado nos mais variados produtos, especialmente da indústria alimentícia. Ele questiona se as pessoas notariam se o óleo usado para assar seus biscoitos viesse de uma refinaria ali perto, em vez de uma plantação na Indonésia.

“Gosto da ideia de não depender da fotossíntese para tudo o que comemos”, disse Davis em um comunicado enviado à imprensa americana. “Em qualquer escala, a síntese de alimentos aliviará a competição entre os ecossistemas naturais e a agricultura, evitando assim os muitos custos ambientais da agricultura.”

milho
Foto: Christophe Maertens | Unsplash

Os autores do artigo disseram que concentraram grande parte de sua atenção nas gorduras porque são os “nutrientes mais simples de sintetizar termoquimicamente”, apontando para técnicas estabelecidas de produção de sabão e química de polímeros em grande escala.

Segundo os cientistas, as gorduras derivadas da agricultura correspondem a cerca de 1 a 3 gramas de dióxido de carbono emitido por mil calorias, enquanto as gorduras molecularmente idênticas sintetizadas a partir de matéria-prima de gás natural utilizando a eletricidade produziriam menos de um grama de emissões equivalentes de CO2, e quase zero emissões se usando a captura de carbono do ar e fontes de energia limpa.

“A beleza das gorduras é que você pode sintetizá-las com processos que não envolvem biologia. É tudo química e, por causa disso, é possível operar em pressões e temperaturas mais altas que permitem excelente eficiência”, disse Davis. “Você poderia, portanto, construir grandes reatores para fazer isso em larga escala.”

óleo usado
Foto: iStock