Estudantes criam bioplástico usando planta aquática
Dupla em Ilhéus retirou amido da espécie taboa; saiba como foi o processo
Dupla em Ilhéus retirou amido da espécie taboa; saiba como foi o processo
Em 2019, foram produzidas cerca de 353 milhões de toneladas de resíduos de material plástico, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Do total, menos de 10% foi reciclado. Porém, a poluição plástica pode ser reduzida em 80% até 2040 se os países e as empresas fizerem mudanças profundas nas políticas e no mercado usando as tecnologias existentes. É o que aponta um novo relatório do PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente). Buscando fazer parte da solução, as alunas Marina Moura e Amanda Pereira desenvolveram na Bahia um bioplástico à base de taboa.
A Thypha domingensis, conhecida popularmente como taboa, é uma planta aquática que pode ser encontrada em rios, manguezais e brejos. Trata-se de uma planta perene e herbácea, com cerca de 2,5 metros de altura, que, na época de reprodução, apresenta espigas da cor café contendo milhões de sementes que se espalham com o vento.
Orientadas pela professora Margarete Correia, a dupla explica que o processo de fabricação do bioplástico é dividido em etapas. Primeiro é realizada a extração do amido da planta, que é colhida, lavada, cortada e triturada no liquidificador com água. Após esse processo, o líquido é filtrado e passa por decantação. Na sequência, é produzido o plástico biodegradável com o amido e, por fim, é realizado o teste de espessura.
A ideia de desenvolver o bioplástico utilizando como matéria-prima a taboa surgiu dentro da sala de aula no Centro Estadual de Educação Profissional Gestão e Tecnologia da Informação Álvaro Melo Vieira, em Ilhéus, na Bahia.
“Estávamos estudando sobre os plásticos convencionais e os problemas que eles vêm causando na natureza e, principalmente, nos oceanos. Descobrimos como alternativa o bioplástico, que é oriundo de fontes renováveis como celulose ou amido. Essa informação despertou o nosso interesse e realizamos pesquisas sobre plantas, até que encontramos a taboa”, conta Marina Moura.
Para Amanda Pereira, o produto apresenta um grande diferencial em relação a outros existentes no mercado, pois elas utilizam como material principal um cultivo que é considerado uma praga. “Usamos uma matéria-prima nunca utilizada para essa finalidade, já que muitas pessoas a consideram apenas como uma praga presente nos rios, brejos e manguezais. Com o nosso produto, damos uma nova utilidade e agregamos valor à planta”.
O projeto, que faz parte do Programa Ciência na Escola, da Secretaria de Educação, ficou em primeiro lugar, na categoria Ciências Biológicas, Ciências da Saúde e Ciências Agrárias, na 10ª Feira de Ciência, Empreendedorismo e Inovação da Bahia (Feciba). As jovens cientistas também contam com o apoio da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc). A orientadora Margarete Correia ressalta que o produto está em desenvolvimento. “Vamos realizar teste de tração, permeabilidade e solubilidade, e aprimorar o nosso material para que seja eficiente”, conclui.
O desenvolvimento de materiais alternativos, como o bioplástico de taboa, é um dos caminhos apontados pelo PNUMA para trocar a poluição plástica por uma economia circular.
Para reduzir a poluição plástica em 80% em todo o mundo até 2040, um novo relatório sugere primeiro a eliminação de plásticos problemáticos e desnecessários para reduzir o tamanho do problema. Posteriormente, o documento pede três mudanças no mercado – reutilizar, reciclar e reorientar e diversificar os produtos:
Mesmo com as medidas acima, 100 milhões de toneladas de plásticos vindos de produtos de vida curta e uso único ainda precisarão ser endereçadas anualmente e com segurança até 2040 – juntamente com um legado significativo da poluição plástica existente no meio ambiente. Para isso, são necessárias ações como a definição de padrões de design e segurança para o descarte de resíduos plásticos não recicláveis, bem como sua implementação, e a responsabilização dos fabricantes por produtos que liberam microplásticos, entre outros.
O relatório também aborda políticas específicas, incluindo padrões para design, segurança e plásticos compostáveis e biodegradáveis; metas mínimas para reciclagem; esquemas de REP; impostos; banimentos; estratégias de comunicação; compras públicas e rotulagem.
Confira na íntegra o relatório (em inglês) Fechando a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular.
Com informações da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia e Pnuma