Parque às margens do Rio Pinheiros precisa ser mais acessível
Levantamento de organizações sociais e urbanistas apontam problemas no acesso ao Parque Bruno Covas Novo Rio Pinheiros
Levantamento de organizações sociais e urbanistas apontam problemas no acesso ao Parque Bruno Covas Novo Rio Pinheiros
O Parque Bruno Covas Novo Rio Pinheiros foi inaugurado em 2022 e será o maior parque linear de São Paulo. Uma área de 8,2 km acompanha a margem do rio e tem diversas atrações, como ciclovias, playgrounds, áreas para piqueniques e trilhas. Localizado em uma das áreas mais urbanizadas da cidade, o espaço do parque não é bem aproveitado pela comunidade: parte das pessoas que vivem próximas ao espaço não sabem que a área é aberta ao público.
A conclusão é de um levantamento realizado pelo Laboratório Rio Pinheiros, formado pelo escritório de urbanistas Metrópole 1:1 e a organização SampaPé!, em parceria com a Farah Service, que apoia, junto ao consórcio Parque Novo Rio Pinheiros, 97 comunidades estão no raio de influência do parque. Entre as comunidades analisadas, estão algumas localizadas a distâncias bem curtas do parque, separadas apenas pelas pistas da Marginal Pinheiros (sentido Zona Sul), como a Peinha, o Real Parque e o Jardim Panorama. Como a Marginal Pinheiros é uma via de trânsito rápido sem possibilidade para a travessia de pedestres, o acesso ao parque deveria acontecer pelas pontes mais próximas.
Os bairros Real Parque e Jardim Panorama ficam a 15 minutos a pé da Ponte Morumbi, mas a mesma não oferece acesso ao parque. A Peinha, por sua vez, está a 5 minutos caminhando da Ponte João Dias onde existe uma entrada para o parque, que não pode ser acessada, já que está no meio da ponte e não há faixa de pedestres para chegar até ela.
Apesar da sua longa extensão, os únicos acessos ao parque em que é possível chegar caminhando são pela Ponte Cidade Jardim e pela Ponte Laguna – distantes 6,2 km entre si, equivalente a 1 hora e meia a pé.
Dessa forma, as comunidades mencionadas, apesar de estarem na margem do rio, só conseguem acessar o parque em segurança caminhando cerca de 30 minutos – no caso da Peinha até a Ponte Laguna – e cerca de 1 hora – no caso do Real Parque e Jardim Panorama tanto para a Ponte Laguna quanto para a Ponte Cidade Jardim.
Para a diretora presidente do SampaPé!, Leticia Sabino, o modelo de privatização e concessão dos espaços públicos não tem um olhar para o entorno dos equipamentos, o que prejudica a integração das pessoas com o local. No caso do Parque Bruno Covas Novo Rio Pinheiros, a especialista ressalta a urgência de aproximar as comunidades.
“O parque tem o potencial de melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas que há anos são negligenciadas e mais vulnerabilizadas pelas políticas públicas e pelo planejamento urbano. Qualificar um parque tão próximo às pessoas, mas não garantir o acesso seguro é cruel e amplia ainda mais as desigualdades na cidade”, afirma, complementando: “Para ampliar os acessos, diversos atores e atrizes devem estar envolvidas”.
Para mudar este cenário e demandar acesso ao parque, a organização que atua há 10 anos com mobilidade urbana, SampaPé!, realizou o projeto Caminhando Juntas nas comunidades mencionadas, no qual promoveu oficinas participativas de diagnóstico dos trajetos a pé até as pontes mais próximas – onde é urgente que se criem entradas para o parque – e co-criou soluções com mulheres e crianças.
No início de fevereiro, as sugestões de melhorias foram apresentadas ao poder público em reunião na Subprefeitura do Butantã e da SP Urbanismo. Além da criação de um acesso na Ponte Morumbi – o que já foi apresentado pelo SampaPé! à concessionária do parque em 2022 como urgência para ampliar o acesso – as demandas mais necessárias são as de segurança viária, como:
Os representantes da Subprefeitura do Campo Limpo se mostraram entusiasmados para melhorar as condições de acesso e solicitaram que fosse feita uma segunda reunião, realizada no dia 27 de fevereiro. Na ocasião, sugeriram ideias como manutenção das calçadas, articulação de pinturas nos muros e até promoção de eventos esportivos no parque. Já o representante da SP Urbanismo falou sobre a possibilidade das extensões de calçadas através do urbanismo tático.
A CET foi convidada para o primeiro encontro, porém não compareceu. Agora, o SampaPé! está em busca de articular um encontro com a Companhia em ambas subprefeituras, já que as principais demandas precisam ser planejadas por ela.
Além das soluções de segurança viária, durante as oficinas do projeto Caminhando Juntas foi constatada a falta de representatividade nas ruas, como a ausência de locais com nomes de mulheres, painéis e outros símbolos de identificação. Por isso, foi sugerido também que o parque homenageasse uma mulher em seu nome.
Além disso, a articuladora do projeto no Real Parque e Jardim Panorama, Caroline Viana, ressaltou a importância do parque como gerador de renda local e pediu que o espaço tenha atividades que empreguem as mulheres das comunidades do entorno. “Estou sempre pensando em como gerar renda para as mães na comunidade, e o parque é uma grande oportunidade”, disse.
O SampaPé! seguirá na articulação, pressão e demandará mais reuniões para que os acessos às comunidades do entorno sejam realizados com segurança e de forma convidativa, tornando o Parque Bruno Covas Novo Rio Pinheiros um espaço acessível e de convívio para todos.