Seca e fogo continuam ameaçando o Pantanal

Junção de cenários causados por condições climáticas e ação humana ameaça biodiversidade do bioma – veja como ajudar

brigadista SOS Pantanal fogo
Além de combater focos de incêndio, os brigadistas trabalham o ano inteiro na prevenção e monitoramento de queimadas. Foto: SOS Pantanal

As imagens de uma festa junina acontecendo em Corumbá, com o fogo devastando o Pantanal do outro lado do rio chocaram e ganharam destaque nas redes sociais – um cenário assustador que vem com a seca histórica na região. Segundo o Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA/UFRJ), 2 milhões de hectares do Pantanal poderão ser queimados de julho a setembro. Vale lembrar, no entanto, que apesar do solo seco e inflamável que favorecem a propagação do fogo, os incêndios são causados por ação humana e agravados pela falta dela.

No início de junho, o SOS Pantanal já alertava para o risco iminente de uma das piores secas já registradas no bioma. Junto com a grave escassez hídrica que ameaça o acesso e uso da água em todo o ecossistema, com rios atingindo níveis próximos ou abaixo do mínimo histórico, o cenário se agrava com o aumento de cerca de 1000% dos incêndios florestais em comparação ao mesmo período de 2023.

fogo no Pantanal
Foto: Gustavo Figueirôa | SOS Pantanal

Os pontos de calor em 2023 estão concentrados principalmente na região da Bacia do Alto Paraguai, área de 361.848 km² que abrange territórios dos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

“Em 2024 completamos quatro anos desde o episódio catastrófico dos incêndios de 2020, e a sensação que dá ao ver esse cenário se repetindo é de que muito pouco foi feito. Ainda há uma dificuldade enorme em vermos os poderes estaduais e o governo federal atuando de forma integrada, tanto no combate, mas principalmente na prevenção, que é a melhor estratégia para evitar essa tragédia. Reconheço que houve muitos avanços, mas muito dos avanços prometidos pelos órgãos públicos estão ainda engatinhando, enquanto os problemas causados pela seca e o fogo, turbinados pelas mudanças climáticas, estão correndo em ritmo de maratona”, afirmou Gustavo Figueirôa, biólogo e diretor de Comunicação do SOS Pantanal.

De acordo com a Agência Brasil, o governo federal vai liberar R$ 100 milhões para ações do IBAMA e do ICMBio de combate aos incêndios no Pantanal. Além disso, o Ministério da Justiça e Segurança Pública confirmou o envio de 80 agentes da Força Nacional para auxiliar no combate ao fogo.

brigadista prevenção ao fogo
Abrir corredores sem matéria orgânica para queimar é uma das maneiras de prevenir que os focos de incêndio se espalhem. Este trabalho é constante e abrange grandes áreas. Foto: GUstavo Fiqueirôa | SOS Pantanal

As organizações da sociedade civil que atuam na região estão trabalhando intensamente no combate ao fogo, do enfrentamento às queimadas ao trabalho constante de prevenção. O SOS Pantanal encerrou no dia 3 de junho mais um ciclo de reciclagem e capacitações das Brigadas Pantaneiras, que levou 35 dias em campo, treinando novamente as brigadas formadas em 2020 pela instituição, projeto que já se tornou essencial na prevenção e no combate a incêndios.

O Instituto Homem Pantaneiro (IHP) vem atuando com ações de combate a esses incêndios em área do Pantanal, onde é formado um corredor de biodiversidade e fica no município de Corumbá (MS). O IHP é responsável por preservar a Serra do Amolar, Patrimônio Natural da Humanidade, um território de uma grande riqueza de vida selvagem, onde vivem mais centenas de espécies de animais, além de comunidades ribeirinhas.

Para tentar proteger quase 300 mil hectares, a Brigada Alto Pantanal, do Instituto Homem Pantaneiro, foi criada após os incêndios devastadores de 2020. A Brigada Alto Pantanal atua o ano inteiro, desde 2021, para agir na recuperação de áreas atingidas pelo fogo, promover educação ambiental, dar apoio para comunidades e combater o fogo, caso seja necessário.

animais Pantanal
Sucuri queimada, Serra do Amolar, nos incêndios de 2020. Imagem: Lawrence Wahba

Desde o começo de junho, os brigadistas trabalham intensamente para controlar incêndios e conseguiram reduzir significativamente os riscos para essa região do Pantanal. Apesar de controlar as chamas, o risco dos incêndios permanece.

Para que a tragédia de 2020 não se repita, O SOS Pantanal encaminhou uma nota técnica com nota técnica, indicando claramente as medidas que devem ser tomadas pelo poder público em diferentes instâncias, além de propostas de curto e médio prazos que devem ser tomadas por diferentes instituições públicas estaduais e federais para enfrentar os incêndios deste ano e preparar para os dos anos seguintes. Muitas dessas recomendações já haviam sido encaminhadas anteriormente, mas poucas foram efetivamente colocadas em prática.

Entre as recomendações estão a instalação imediata de sala de situação e comando integrado entre Corpos de Bombeiro de MT e MS, ICMBio, Ibama e SEMAs com especialistas de outras instituições do governo e da sociedade civil para acompanhamento das condições meteorológicas, propagação dos focos de calor, inventário de recursos e mobilização.

Seca histórica

Dados da Coleção 3 MapBiomas Água, lançada no dia 26 de junho, mostram que o Pantanal foi o bioma brasileiro que mais secou em 38 anos. No ano passado, a maior planície alagável do planeta respondeu. No ano passado, superfície de água foi de 382 mil hectares, 61% abaixo da média entre 1985 e 2023, e apenas 2,6% estava coberto.

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Superfície de água no Pantanal. Fonte MapBiomas Água

Em 1985, o Pantanal registrou uma superfície de água anual (aquela que fica pelo menos seis meses do ano alagada) de 1,9 milhão de hectares, quase 13 vezes a área da cidade de São Paulo. Trinta e oito anos depois, em 2023, esse número caiu 80,7%, para 382 mil hectares, cerca de 2,5 vezes o tamanho da capital paulista, além de representar apenas 61% da média histórica trabalhada pelo MapBiomas para o bioma.

Para Tasso Azevedo, coordenador geral do MapBiomas, a destruição atual, com o fogo batendo recordes, é a união explosiva de três eventos predatórios. “A corrente de água que vem da Amazônia, os rios voadores, está diminuindo por causa do desmatamento na região. No planalto, no entorno do Pantanal, muitas áreas estão sendo convertidas em pastagem ou campos de soja. E isso aumentou muito o assoreamento da Bacia do Paraguai. Tanto que o Pantanal está ficando mais raso. E tem um terceiro problema, que é a destruição do pasto natural para ser substituído pelo pasto plantado”, detalhou.

Com o agravamento das mudanças climáticas, o desmatamento não só impede a possibilidade de mitigação de impactos como acelera as emissões de gases de efeito estufa e intensifica os eventos extremos. Vale destacar a biodiversidade abrigada na área do Pantanal com mais de 4.700 espécies, sendo 3.500 de plantas, 650 de aves, 124 de mamíferos, 80 de répteis, 60 de anfíbios e 260 de peixes de água doce, sendo que algumas delas em risco de extinção.

Macaco resgatado de área queimada no Pantanal, em 2024. Foto: Gustavo Figueirôa | SOS Pantanal
Macaco resgatado de área queimada no Pantanal, em 2024. Foto: Gustavo Figueirôa | SOS Pantanal

Quer ajudar a combater o fogo no Pantanal?

As Brigadas Pantaneiras do SOS Pantanal e a Brigada Alto Pantanal contam com doações para manter a ampliar a sua atuação. É possível contribuir com doações no site www.sospantanal.org.br/apoie/#doacoes ou pelo PIX [email protected].

Angelo Rabelo, presidente do Instituto Homem Pantaneiro, e Felipe Dias, diretor-executivo do SOS Pantanal. Foto: Gustavo Figueirôa | SOS Pantanal