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Autoridade da ONU sugere proibir mercados de animais

A secretária-executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica relacionou a destruição da natureza e o mercado de animais ao surgimento de novas doenças.

mercado de animais
Foto: Greg Holtfreter | Flickr

Banir a comercialização de animais vivos, sejam eles selvagens ou domésticos, para evitar futuras pandemias. É o que acredita Elizabeth Maruma Mrema, secretária-executiva da Convenção sobre Diversidade Biológica -, não sem antes considerar que é preciso criar uma alternativa viável para os que vivem deste setor.

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Em entrevista ao The Guardian, Elizabeth criticou os “mercados úmidos” que vendem animais vivos e mortos para consumo humano. “Seria bom proibir os mercados de animais vivos, como a China fez. Mas também devemos lembrar que há comunidades, particularmente de áreas rurais de baixa renda, como na África, que dependem de animais selvagens para sustentar os meios de subsistência de milhões de pessoas”, ressaltou.

Elizabeth também reforçou que se não houver outras possibilidades para as populações vulneráveis há o risco de fortalecer o comércio ilegal de animais selvagens, que já é um grande problema na atualidade. O Brasil, por exemplo, é um dos maiores mercados para o tráfico de animais no mundo.

A relação entre o consumo de animais selvagens com doenças infecciosas vem de longa data, inclusive, em março de 2019 foi publicado um estudo de cientistas de Wuhan que previa o surgimento de um novo coronavírus em tais mercados. O grupo ressaltava até mesmo o potencial pandêmico. Mas, mudar algo que faz parte da cultura de várias populações e gera bilhões de yuans (moeda chinesa) por ano não é fácil.

Proibição na China

Desde fevereiro, o comércio de animais exóticos está proibido na China, ainda que haja brechas quando a finalidade, a priori, não seja alimentar, tais como: fins medicinais, venda de peles, animais de estimação, entre outras exceções. Para organização conservacionista Wildlife Conservation Society, a proibição deveria ser total. “Somente ao proibi-los o risco de futuras emergências virais pode ser evitado. Além disso, isso cria uma brecha em potencial para os traficantes que podem explorar as isenções não-alimentares para vender ou comercializar a vida selvagem, criando desafios adicionais para os agentes da lei”.

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Elizabeth também relacionou a destruição da natureza às novas doenças humanas. Ou seja, não apenas o consumo de animais selvagens – algo que muitos podem não se identificar – mas também o desmatamento, a fragmentação de habitats.

Aliás, um estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Saúde Pública da USP mostrou que o consumo global e o comércio internacional de commodities associadas ao desmatamento das florestas tropicais, como madeira e produtos agrícolas como tabaco, cacau, café e algodão, aumentam em 20% o risco de contrair malária.

Elizabeth Maruma Mrema

Há mais de duas décadas atuando no Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Elizabeth recebeu em 2007 o primeiro prêmio de Melhor Gerente do Ano do PNUMA em todo o mundo. Entre tantas funções já realizadas no órgão, atuou na Convenção sobre Conservação de Espécies Migratórias de Animais Silvestres.

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Elizabeth também é uma das mais altas autoridades da ONU em Direito Ambiental. Em 2018 esteve envolvida em uma iniciativa que visava combater as ameaças, intimidações, assédio e assassinatos de ambientalistas em todo o mundo.

Um fato interessante é que seu cargo na Convenção sobre Diversidade Biológica (CBD) já foi ocupado pelo brasileiro Braulio Ferreira de Souza Dias. Aliás, a própria CBD nasceu no Brasil durante a Conferência das Nações Unidas de 1992 – mais conhecida como Eco-92.