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Instituto Terra: reflorestamento, inspiração e muito trabalho

Em 25 anos, o Instituto Terra reflorestou 2,1 mil hectares e ampliou suas ações, recuperando nascentes e formando agentes ambientais

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Vista aérea do Instituto Terra, uma dos exemplos mais emblemáticos de reflorestamento da Mata Atlântica. Fotos: Sebastião Salgado

Quando alguém é excelente no que faz, pode passar a impressão de que cumpre suas atividades sem esforço. É assim com craques do esporte que parecem criar jogadas com facilidade ou com quem canta bem e faz a afinação soar absolutamente natural. Podemos ter esta ideia sobre a arquiteta que transforma totalmente um ambiente a partir de um projeto que veio à sua mente. Foi isso que fez Lélia Deluiz Wanick Salgado, ao olhar para a área da antiga fazenda de gado que pertenceu à família do marido, o fotógrafo Sebastião Salgado.

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Lélia acompanhava o marido em uma visita à propriedade, onde Sebastião passou boa parte da sua infância. A arquiteta olhou para aquela paisagem devastada e nasceu ali um projeto que traria verde e vida de volta àquelas terras. O companheiro também enxergou essa nova paisagem e a história do Instituto Terra começava a ser escrita pelo casal. Desde então foram mais de 2.100 hectares de mata reflorestada, sendo 608,69 na Fazenda Bulcão, que se tornou uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN).

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Fotos: Arquivo | Instituto Terra

Olhando a foto da imensa área que era ocupada pelas pastagens de terra batida, quase sem verde, e a foto da floresta cheia de árvores e vida dos mais de 700 hectares do Instituto Terra, podemos ter a impressão que o reflorestamento veio de forma natural, pela ação do tempo e da natureza. Mas a verdade é que as duas imagens são separadas por 25 anos de muito trabalho.

Hoje, o Instituto Terra é referência quando o assunto é restauração ecossistêmica, desenvolvimento sustentável e educação ambiental. Muito além do reflorestamento da área da antiga fazenda, o trabalho desenvolvido pelo Instituto inclui a conservação e restauração ecológica e ambiental tanto de áreas de mata nativa como de nascentes degradadas da Bacia Hidrográfica do Rio Doce, uma das principais fontes de água doce da Região Sudeste.

Junto com a fauna, mais de 240 espécies de animais, de todas as classes de fauna, voltaram a encontrar refúgio na floresta que ocupou a antiga Fazenda Bulcão. Até o momento, foram identificadas na RPPN 172 espécies de aves, sendo que seis delas estão ameaçadas de extinção, 33 espécies de mamíferos, sendo duas delas em extinção no mundo (saua ou guigó e onça parda) e outras três em extinção no Brasil (jaguatirica, gato do mato pequeno e onça parda), 15 espécies de anfíbios e 15 de espécies de répteis.

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Foto: Instituto Terra | Leonardo Merçon

Por trás desta conquista, existe o envolvimento e dedicação de muitas pessoas. São quase 100 funcionários fixos, a maioria trabalhando lá há muitos anos, que sentem orgulho de fazer parte desta história. “Trabalhar no Instituto Terra é uma experiência única. Uma ONG de uma cidade pequena com um trabalho alcança o mundo inteiro. É muito gratificante saber que o que fazemos hoje é duradouro, envolve gerações que eu não vou conhecer. Sei que o que estou fazendo aqui não é só para mim”, conta Marcella Fialho, assessora de comunicação.

Reflorestar e conservar

Para se ter uma ideia da dimensão do que faz o Instituto, um bom começo é visitar o viveiro de mudas que pode produzir cerca de 1 milhão de árvores nativas por ano. Para plantar uma árvore, uma equipe percorre um raio de cerca de 200 km coletando sementes de espécies da região. Essas sementes chegam ao Instituto onde são beneficiadas e vão para análise no laboratório. São então armazenadas e esperam o período certo de plantio.

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Foto: Natasha Olsen

O plantio acontece em 4 fases. Primeiro a germinação da semente em um banco de areia. Depois a transferência para uma sala de sombra, onde a nova muda vai ser plantada em substrato especial e ficar protegida do sol. Na etapa seguinte, a muda vai para o sol, mas ainda recebe cuidados especiais até estar totalmente adaptada às condições climáticas do local. Só então é encaminhada para a área de reflorestamento.

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Depois de ser plantada em sua área definitiva, a muda é acompanhada por pelo menos 3 anos pela equipe do Instituto Terra, com manutenção periódicas que garantem que a árvore vai crescer forte e saudável.

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Fotos: Reprodução | Instituto Terra

Este processo se repetiu com as 2,5 milhões de árvores que foram plantadas. Além disso, aproximadamente de 4 milhões de mudas foram produzidas no viveiro e encaminhadas para outros projetos de reflorestamento.

Longe de ser tarefa simples, reflorestar uma área degradada exige muito conhecimento e esforço. O caso do Instituto Terra é um caso de reflorestamento bem sucedido, um exemplo emblemático de como é possível e necessário dar uma segunda chance para a natureza. Mas as dificuldades fazem parte desta história e elas são enormes.

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Foto: Instituto Terra | Leonardo Merçon

Os desafios por trás do sucesso

Com o desmatamento da região, o regime de chuvas também mudou e muitas nascentes secaram. O que significa pouca água para o solo e plantio. “O clima é o principal desafio. Temos uma janela muita curta de chuvas boas para plantar. Nós temos de final de outubro até janeiro, são cerca de 2 meses bons para o plantio”, explica Pieter-Jan van der Veld, assessor técnico do Instituto Terra.

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Foto: Leonardo Merçon

Outro desafio é encontrar as sementes nativas, já que o processo de reflorestamento tem 25 anos e algumas árvores da região começam a produzir sementes justamente com esta idade. Uma equipe especializada trabalha o ano inteiro percorrendo toda a região fazendo a coleta.

A terra que foi muito degradada e compactada pela pecuária é um outro problema. É necessário o uso de equipamentos para revolver o solo e fazer os berços, buracos para as mudas. “A topografia inclinada e a existência de florestas em crescimento dificulta o trabalho mecanizado e por isso precisamos de muita mão de obra para trabalho manual”, conta Pieter.

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Foto de 2000 mostra como era a terra e a paisagem da antiga Fazenda Buldão. Foto: Arquivo | Instituto Terra

Estes são apenas alguns dos desafios, relacionados ao trabalho de recuperação de matas nativas. Nesta área, o Instituto tem parceiros para projetos importantes, como o Zurich Forest Project, que prevê o plantio de 1 milhão de árvores dentro da RPPN; o COE XP ESG #Refloresta, primeiro fundo de investimento criado com objetivo de reflorestamento lançado pela XP; e o Refloresta com TikTok, que levou de Gilberto Gil para a plataforma de vídeos e engajou o público na causa de reflorestamento, além de plantar 40 mil mudas de espécies nativas.

O Instituto Terra também conta com parceiros como EDP, Wacken Open Air, WWF, Fondation Lemarchand, Fundação Renova, Stefan Krause Bildungsstiftung, Foundation Air France e TASCHEN.

Mas, além dos recursos para plantar as árvores, é necessário recursos para monitorar e manter estas mudas por pelo menos 3 anos. Existem também custos relacionados à infraestrutura, equipe de funcionários e programas de educação ambiental.

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Foto: Reprodução YouTube | Instituto Terra

“Muitas empresas querem investir no plantio de árvores. Mas plantar árvores é apenas uma parte do nosso trabalho. Precisamos de apoio para preservar tudo o que já plantamos”, alerta Pieter. Realmente, a atuação do Instituto Terra é muito maior do que o plantio. Hoje, o trabalho se desenvolve em seis pilares:

  • Restauração ecossistêmica: estratégias de retorno de espécies da fauna e flora a partir do reflorestamento com espécies nativas da Mata Alântica.
  • Produção de mudas nativas: semeadura e desenvolvimento de centenas de espécies em viveiro próprio.
  • Educação ambiental: programas de conscientização ambiental para diversos públicos e formação de agentes que vão atuar na preservação e restauração do meio ambiente.
  • Pesquisa científica aplicada: estímulo a estudos científicos para melhoria dos processos de conservação ambiental e reflorestamento.
  • Proteção e recuperação de nascentes: programa de cercamento e recuperação da vegetação nativa em áreas de nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio Doce.

Plantando uma nova realidade

A transformação gerada pelo Instituto Terra se estende aos proprietários de terras vizinhas e traz benefícios ambientais e sociais para toda a região, como a volta de água voltar para suas nascentes. Desde 2010, o programa Olhos D’Água ajuda a proteger e recuperar nascentes da Bacia Hidrográfica do Rio Doce desde 2010.

Os proprietários de terras com nascentes recebem a visita de uma equipe técnica do Instituto e o material necessário para criar uma um raio de proteção em torno desta nascente, feito com uma cerca que afasta o gado e outras ameaças. Quando necessário, recebem também mudas nativas que são plantadas no local e ajudam a recuperar o solo e trazer de volta a água. Com este programa, o Instituto Terra já recuperou cerca de 2 mil nascentes em mais de 1 mil propriedades rurais de Minas Gerais e do Espírito Santo.

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Foto: Reprodução YouTube | Instituto Terra

Educação ambiental

Para formar uma equipe qualificada para projetos de reflorestamento e recuperação de áreas degradas, o Instituto Terra criou seu próprio centro de educação e pesquisa. O NERE (Núcleo de Estudos de Recuperação Ecológica) recebe estudantes que concluíram a graduação ou cursos técnicos relacionados à área ambiental, pra um ano de imersão dentro do Instituto.

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Foto: Reprodução YouTube | Instituto Terra

Os alunos vivem em uma casa no local e passam por todas as áreas de trabalho. A formação envolve 20% de aulas teóricas e 80% de trabalho prático em todas as frentes de atuação do Instituto. Ao final do cursos, eles estão aptos a trabalharem com a recuperação ambiental, seja no próprio Instituto Terra, seja em outros projetos.

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Alunos da rede pública de Aimorés realizam plantio na Semana do Meio Ambiente de 2023. Foto: Natasha Olsen

Os alunos do NERE também se transformam em professores nas atividades promovidas com estudantes de escolas da região. As visitas ao Instituto Terra incluem atividades de educação ambiental. Na semana do Meio Ambiente, por exemplo, alunos da rede pública de Aimorés participaram de oficinas, que explicavam a importância de se preservar as matas ciliares, as várias estruturas da semente, a vida de polinizadores e incluíam o plantio de uma árvore nativa em uma área de floresta.

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Foto do primeiro plantio realizada por alunos da rede pública de Aimorés. Foto: Arquivo | Instituto Terra

Quer ajudar o Instituto Terra?

Para que empresas de pequeno e médio porte também possam contribuir com a restauração da Mata Atlântica na Bacia do Rio Doce, o Instituto Terra lançou o Programa Empresa Amiga.

Pequenas e médias empresas podem fazer parte do programa com um valor mínimo de R$ 1.050,00, que prevê o plantio de 30 árvores, ou com o valor máximo de 2.857 árvores, definido em R$ 99.995,00. Valores que ultrapassarem a faixa máxima serão negociadas de forma particular junto à empresa interessada, pois se enquadram em projetos patrocinados.

Todo conteúdo do programa poderá ser conhecido e acessado no site do Programa Empresa Amiga.

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Imagem: Reprodução| Instituto Terra

Quer conhecer o Instituto Terra? 

Para marcar a data de aniversário de 25 anos de sua fundação, comemorada no dia 17 de abril de 2023, o Instituto Terra reabriu suas portas para visitação individual.

As visitas ocorrem de terça a domingo em dois horários: das 08h às 11h e das 13h às 16h. Com entrada gratuita todas as quartas-feiras, além do primeiro e terceiro sábados do mês, os ingressos para os demais dias de visita ao instituto poderão ser adquiridos por meio da plataforma Sympla.  Os valores são R$ 25,00 (inteira), R$ 12,50 (meia) válida para estudantes, crianças e idosos e gratuita para PCDs (Pessoas com Deficiência).

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Casa da Fazenda Buldão, no Instituto Terra. Foto: Natasha Olsen

Durante as visitas, a população poderá conhecer as principais estruturas do instituto, entre elas, o jardim projetado pela fundadora, Lélia Deluiz Wanick Salgado, além de uma exposição fotográfica de Sebastião Salgado no hall de entrada da organização.

Já os agendamentos para realizar trilhas, conhecer a história do Instituto Terra  e visitar o viveiro, por meio das visitas mediadas, são feitos diretamente pelo e-mail: [email protected] ou pelos telefones: (33) 3267-2025 ou (33) 3267-2302.

Jardim e história

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Foto: Arquivo | Instituto Terra

Um dos locais de destaque do Instituto Terra é o jardim de cerca de 50 mil metros quadrados. Carregado de significados e considerado um oásis que conta a história de vida dos fundadores da organização, o local abriga aproximadamente 130 tipos diferentes de espécies de plantas trazidas de países como Indonésia e África. Reconhecidos mundialmente como ativistas ambientais, o casal Lélia e Sebastião Salgado, percorreram o Brasil e várias regiões do mundo com suas expedições fotográficas, trazendo mudas variadas, hoje cultivadas por uma equipe de quatro funcionários do Instituto Terra.