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Regenerando o solo, iniciativa “semeia água” no Cantareira

Projeto apoiado pela Petrobrás une pesquisa científica, educação ambiental e capacitação de produtores rurais

Projeto Semeando água
O projeto Semeando Água já plantou mais de 70 mil árvores. | Foto: Acervo Semeando Água

Promover a restauração ecológica de áreas próximas às nascentes, rios e reservatórios é uma das principais missões do projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ (Instituto de Pesquisas Ecológicas). À convite da Petrobrás, o CicloVivo visitou Nazaré Paulista, município a 89 km de São Paulo, e conheceu alguns dos esforços realizados pelo projeto para aumentar a segurança hídrica nos arredores do Sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo.

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Cerca de 46% do Sistema Cantareira atualmente é ocupado por pastagens, em geral, degradadas, estima o IPÊ. Tal cenário prejudica o aproveitamento da água da chuva e, consequentemente, o abastecimento do Sistema, pois ao invés de infiltrar no solo, a água escoa. Esta, aliás, é uma das razões pelas quais a crise hídrica segue sendo uma ameaça constante.

Reverter essa situação requer melhorar a qualidade do uso da terra e, para tanto, um exército de “semeadores de água” está atuando nos oito municípios do Cantareira: Bragança Paulista, Joanópolis, Mairiporã, Nazaré Paulista e Piracaia, no estado de São Paulo, e Camanducaia, Extrema e Itapeva, em Minas Gerais.

pasto degradado
Cerca de 46% do Sistema Cantareira atualmente é ocupado por pastagens degradadas. | Foto: Carol Campos

“O melhor lugar para armazenar a água da chuva é o lençol freático”, afirma Alexandre Uezo, coordenador do projeto Semeando Água. Desta forma, a água flui aos poucos até chegar nos reservatórios. Ele explica que, em Nazaré Paulista, o trabalho para regenerar o solo passa pela conscientização e capacitação da população local para aliar produção rural com conservação. Embora possa não parecer, o solo é um recurso finito. É preciso que ele seja rico em água, nutrientes e microorganismos para a produção de alimentos.

Em geral, a região do Sistema Cantareira é composta por pequenos produtores que precisam da água para alimentar o gado e cultivar alimentos. Logo, a importância de preservar parte da vegetação nativa em propriedades rurais e inserir práticas regenerativas conduz a benefícios que se retroalimentam: a conservação melhora e garante a produção a longo prazo.

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semeando água
Foto: Bruno Fernandes

Os produtores rurais que se tornam parceiros do projeto, os “semeadores de água”, recebem apoio técnico para aprender a conciliar a conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos com o aumento da produtividade e diversificação de atividades.

Uma das técnicas consiste no manejo da pastagem ecológica, que emprega a divisão do pasto em piquetes possibilitando o rodízio do gado e o desenvolvimento das gramíneas (adequadas à região) semeadas. Entre as vantagens deste tipo de manejo verifica-se o aumento da produtividade e melhor qualidade no capim produzido na própria propriedade. A diversidade de forrageiras somada com a arborização adequada ainda dispensa a adubação química e controla os carrapatos em bovinos.

Espalhando agroflorestas

Outro modelo incentivado pelo projeto é a adoção do SAF (Sistema Agroflorestal), que une produção de alimentos com espécies arbóreas. Além de recuperar áreas degradadas, as agroflorestas são uma alternativa para gerar alimentos tanto para consumo próprio como para comercialização. Também pode ser um meio para gerar forragens alternativas para a pecuária.

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O casal Eloisa Pinheiro e Israel Junior é um exemplo peculiar da implantação de uma área de SAF em meio à produção de flores de corte. Hortênsias, boca de leão e crisântemos são algumas das espécies cultivadas no Sítio Primavera sem o uso de agrotóxicos e adubos químicos.

Saf
Com o Sistema Agroflorestal, propriedades rurais conseguem diversificar a produção de alimentos. | Foto: Carol Campos

“Começamos com a adubação verde e agora vamos incluir a árvore entre as flores. Entre as hortênsias vão entrar Pau-jacaré”, exemplifica Eloisa. O manejo hoje consegue segurar a palhada, o que aumenta a retenção da umidade no solo e reduz a degradação.

O esforço e a energia demandada no trabalho também diminuíram. “No convencional, a gente trabalha o dobro”, afirma Eloisa. “Antes era preciso fazer quase que diariamente a pulverização de químicos”, completa Israel. Isso porque no plantio convencional não é possível descuidar das pragas enquanto que no sistema agroecológico são criadas as condições para que os diversos agentes encontrem equilíbrio.

O casal começou a destinar uma parte da propriedade ao SAF ainda na pandemia. A produção de alimentos contribuiu para enfrentar a perda da renda em decorrência da paralisação das atividades não essenciais, o que influiu diretamente no comércio de flores. Segundo levantamento feito pelo Ibraflor (Instituto Brasileiro de Floricultura), os produtores de flores tiveram uma queda de 90% das vendas nos primeiros meses de 2020.

Escola climática

No projeto Semeando Água, os benefícios da agrofloresta são ensinados também para crianças e adolescentes em período escolar. Nada de cartilhas ou feijão no algodão, na escola rural professora Clélia de Barros Leite da Silva toda sexta-feira os alunos colocam a mão na massa no plantio de alimentos. Gustavo, aluno da 8a série, já aprendeu uma lição importante. “Para ser fértil, o solo não pode ficar descoberto”.

escola climática
No projeto Semeando Água, os benefícios da agrofloresta são compartilhados com crianças e adolescentes. | Foto: Carol Campos

“Temos a sequência didática, uma trilha de aprendizagem que culmina no planejamento do SAF junto aos alunos”, explica a professora Letícia. “Para mim também é gratificante porque vamos aprendendo juntos. Tem pais que falam ‘meu filho está gostando disso porque se inspirou em você’”, orgulha-se. A professora compartilha que no início ficava angustiada sobretudo por questionamentos de terceiros. “Diziam, ‘mas aí não tem nada, só tem mato’. Parece que você está patinando. Mas, não, estamos trabalhando. O mais importante é colocar a semente e conscientizar”, conta.

Rildo Guilerme Oliveira, diretor da escola desde 2013, nascido na zona rural de Minas Gerais e filho de pequeno produtor, sempre teve apreço pela terra. Por conta disso, não perdeu a oportunidade de incentivar ações em prol da educação ambiental. “Toda a diversidade que o ser humano é, a SAF acolhe. É possível estudar tudo aqui dentro, as disciplinas estão todas aqui”, diz. Ele espera que os pequenos sejam, no futuro, aqueles que vão repassar o conhecimento aprendido, de forma a garantir a continuidade das ações.

semeando água
Plantio na Escola Climática. | Foto: Jean Marcel Camargo

A iniciativa integra a ação de educação ambiental intitulada Escolas Climáticas, que ainda agrega reciclagem e compostagem realizada com os resíduos orgânicos da merenda. A escola também conta com horta orgânica, cuja produção é aproveitada dentro da própria instituição para alimentar os alunos.

Restauração Florestal

Entre as várias frentes do trabalho, um dos grandes desafios do projeto Semeando Água é atuar na restauração florestal. O IPÊ estima que no Sistema Cantareira há um déficit de 35 milhões de árvores no entorno de nascentes, cursos d’água e reservatórios, em uma área de 21 mil hectares – equivalente a 21 mil campos de futebol.

Em contrapartida, desde 2013, o projeto já plantou mais de 70 mil árvores e converteu 85 hectares de sistemas de produção convencionais em sistemas produtivos sustentáveis, tais como pastagem ecológica, agrofloresta e silvicultura.

atibainha
Área em restauração próxima à represa Atibainha. | Foto: Cibele Quirino

As ações de restauração florestal envolvem o plantio de espécies nativas da Mata Atlântica, visando a recuperação da diversidade do bioma (que conta com menos de 16% de sua cobertura original) e o aumento da conectividade entre os fragmentos de floresta, lar de espécies ameaçadas de extinção como o tucano-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) e o sagui-da-serra-escuro (Callithrix aurita).

“É isso que busca o projeto Semeando Água, integrar a utilização sustentável dos recursos naturais a benefícios socioeconômicos para os produtores rurais e moradores da região. Ao se tornarem referências de desenvolvimento sustentável, o projeto busca inspirar através de exemplos e agregar cada vez mais pessoas em torno da causa socioambiental”, afirma Simone Tenório, coordenadora de Políticas Públicas e Desenvolvimento Econômico Territorial do Semeando Água.

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Garantir a restauração é essencial para aumentar a segurança hídrica. Foto: Jean Marcel Camargo

O Projeto Semeando Água tem o patrocínio da Petrobras, desde 2013, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, que, por sua vez, inclui projetos em quatro linhas de atuação (Educação, Desenvolvimento Econômico Sustentável, Oceano e Florestas), contemplando como temas transversais Direitos Humanos, Inovação e Primeira Infância.

Na avaliação de SROI (Social Return on Investiment) realizada pela Petrobras, foi calculado que, para cada um real investido pela companhia no Semeando Água, houve retorno de R$ 4,70 para a sociedade em benefícios sociais e ambientais, comprovando a geração de valor que é capaz de ser obtida com essas ações.

Novos apoios

Em novembro, a Petrobras e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) lançaram um edital para apoiar projetos de recuperação da vegetação nativa em áreas de manguezal e restinga no Brasil. A parceria, que mobilizará R$ 44,4 milhões, é o primeiro investimento do matchfunding Floresta Viva, iniciativa que tem como objetivo contribuir para restauração ecológica em biomas brasileiros.

Os manguezais e as restingas são ecossistemas costeiros de grande importância ecológica, social e econômica, e, devido à sua localização no litoral, sofrem ameaças decorrentes da expansão urbana e de atividades humanas. A seleção priorizará propostas que garantam o sucesso das intervenções em termos de recuperação da vegetação nativa, conservação da biodiversidade, sequestro de carbono, persistência dos resultados em longo prazo, impacto social e economicidade.

O envio das propostas deve ser feito até as 18 horas do dia 31 de janeiro de 2023, por meio de preenchimento deste formulário eletrônico. Mais informações sobre a seleção podem ser obtidas em funbio.org.br/programas.